quarta-feira, 28 de março de 2018

Foucault: verdade, poder e gênero.

Verdade, poder e gênero.

Conceito de poder: a dominação e o poder eram exercidos a partir de diversas fontes, em diversas direções, em escala múltipla.


Arqueologia do saber: se encontra dividida em 3 fases:

1. Arqueologia do conhecimento: análise dos discursos ao longo do tempo, em busca de um saber que não foi sistematizado.


2. Genealógica: conjunto de investigações das correlações de forças que permitem a emergência de um discurso, com ênfase na passagem do que é interditado para o que legitimado ou tolerado.


3. Ética: práticas através das quais os indivíduos exercem dominação e subjetivação. Trata-se do sentido histórico dos discursos.


Instituições de sequestro retiram compulsoriamente os indivíduos do convívio social. Instituições sociais de sequestro são ambientes que as pessoas são obrigadas a frequentar para se tornarem “produtivas” através da docilização dos seus corpos. Ex: Escolas, prisões e manicômios.

Poder e sexualidade:

A análise de Foucault sobre a sexualidade interliga dois temas distintos: a Igreja Católica e o capitalismo.  Para o autor, a sexualidade está vinculada com o começo do capitalismo. Ele considera que entre os séculos XVI e XIX foram lançados os dispositivos reguladores do sexo. As técnicas de poder exercidas sobre o sexo disseminaram e implantaram sexualidades “poli formas” da mesma forma que produziram “a vontade de saber”. Mas isso não se deu espontaneamente, esse tipo de exercício de poder foi submetida a um crescente mecanismo de excitação.

Foucault questiona a hipótese de que tenha existido repressão e sustenta a ideia que, antes de ter sido enaltecida uma economia sexual, os discursos produzidos puseram o sexo em evidência. A análise entre poder, saber e prazer é realizada pelo autor a partir do “fato discursivo”. Ou seja, o ato de se falar em sexo, os lugares onde ele é falado, os pontos de vista sobre o assunto, quem fala sobre isso e que tipo de instituições que incitam a falar sobre sexo.


Segundo Foucault, o papel da Igreja, acerca da sexualidade, adveio no sentido de estabelecer as suas normas, ou seja, coube a Igreja a fixação do sexo ao matrimônio e a heterossexualidade, e a condenação do adultério, da infidelidade e da sodomia (práticas que não objetivavam a procriação). E foi através da confissão que as pessoas foram estimuladas e muitas das vezes obrigadas a falar sobre sua vida sexual.

“(...) confessam-se os crimes, os pecados, os pensamentos e os desejo s, confessam-se passado e sonhos, confessa-se a infância; confessam-se as próprias doenças e misérias; emprega-se a maior exatidão para dizer o mais difícil de ser dito; confessa-se em público, em particular, aos pais, aos educadores, ao médico, àqueles a quem se ama; fazem-se a si próprios, no prazer e na dor, confissões impossíveis de confiar a outrem, com o que se produzem livros. Confessa-se – ou se é forçado a confessar. Quando a confissão não é espontânea ou imposta por algum imperativo interior, é extorquida; desencavam-se na alma ou arrancam-na ao corpo.” (FOUCAULT, 1999b, página 59)

Aliada ao Estado, a Igreja garantiu o crescimento populacional. O sexo restrito ao matrimônio heterossexual tornou-se prática ideal e qualquer outro tipo de envolvimento sexual era tido como pecado e condenado pela Igreja. A sexualidade das crianças passou a ser vigiada por pais e instituições. Estas, por sua vez, se incumbiam de orientar as crianças acerca dos perigos da masturbação, dizendo que tal prática poderia causar doenças físicas e mentais, assim como as relações homo afetivas. Todas essas afirmações, vindas inclusive de médicos e psiquiatras, causaram um grande pânico por parte da população, que já viam o sexo como algo estigmatizado. O surgimento da sífilis, nessa mesma época, só veio a intensificar o temor das pessoas acerca do sexo, tornando a doença um forte aliado dos religiosos no combate à banalização da sexualidade.

Pode-se dizer que os mesmos processos que produziram os paradigmas da heterossexualidade, monogamia, modelos de paternidade e maternidade da família burguesa, produziram os modelos perversos de comportamento humano. Se antes era a Igreja que estabelecia o que era legítimo no sexo, com o advento do capitalismo esse papel é transferido para a ciência, e a partir desse momento cabe à razão estabelecer as normas que vão orientar a sexualidade dos indivíduos perante sua família e a sociedade. Ou seja, queridos alunos, foi devido à explosão discursiva que tornou possível o estabelecimento de estratégias de controle e classificações sobre a população. De acordo com essa perspectiva, a modernidade pode ser compreendida como momento histórico de adequação dos indivíduos a algum modelo classificatório referente à sua pratica sexual. Observem que Foucault chama atenção para o fato de que era através da confissão que se conhecia e se controlava a verdade.

Se trouxermos a ideologia de Foucault para os dias atuais, o que irão perceber é que houve uma “mudança de confissão”, ou seja, as pessoas que antes se confessavam na Igreja, com padres, nos dias atuais passaram a se confessar com médicos psiquiatras ou psicólogos. Sendo assim, a Igreja deixou de ter tanto poder de persuasão acerca do assunto, dando a população uma visão mais liberal sobre o sexo.

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