terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Sociologia Geral - 3° ano

O processo de socialização e as instituições sociais

Quando nascemos, somos introduzidos em nossa primeira instituição social, formada pela família, considerada uma instituição social por possuir princípios conhecidos por todos os seus membros. Esse processo foi concebido pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu como habitus primário. Nessa fase da vida são transmitidas aos indivíduos as visões de mundo do seu núcleo familiar. Nesse sentido, as primeiras formas de classificação coletiva na vida de uma pessoa são construídas pela família. O habitus secundário se desenvolve à medida que entramos em contato com pessoas de outros grupos sociais. Desse modo o habitus individual é resultado de um processo de construção social que tem início desde a mais tenra infância.

Os habitus são princípios geradores de práticas distintas e distintivas - o que o operário come, e, sobretudo, sua maneira de comer, o esporte que pratica e sua maneira de praticá-lo, suas opiniões políticas e sua maneira de expressá-las diferem sistematicamente do consumo ou das atividades correspondentes do empresário industrial; mas são também esquemas classificatórios, princípios de classificação, princípios de visão e de divisão e gostos diferentes. Eles estabelecem as diferenças entre o que é bom e mau, entre o bem e o mal, entre o que é distinto e o que é vulgar etc., mas elas não são as mesmas. Assim, por exemplo, o mesmo comportamento ou o mesmo bem pode parecer distinto para um, pretensioso ou ostentatório para outro e vulgar para um terceiro.

Bourdieu, Pierre. Razões práticas. 4. ed. Campinas: Papírus, 1996, p. 22.

Como é possível desenvolver a imaginação sociológica?

Segundo o sociólogo americano Charles Wright Mills, em sua obra A imaginação sociológica, é preciso aprender a pensar de modo sociológico. O processo de aquisição de conhecimento não é suficiente para a compreensão das relações entre o indivíduo e a sociedade.

Para Mills é indispensável ao olhar sociológico perceber além das evidências, ou seja, do senso comum. Para o autor as questões individuais se relacionam com as questões sociais, mas é preciso ter competência para perceber esse tipo de conexão.

O que desperta a motivação de inúmeras pessoas para se reunirem a fim de ocupar vias públicas e reivindicar direitos civis, políticos e sociais? A imaginação sociológica busca a compreensão da natureza das ações de tais pessoas, no plano individual, assim como as questões presentes nas manifestações, que são sociais.

Cidadania e Classe social

A cidadania é um status concedido àquele que são membros integrais de uma comunidade. Todos aqueles que possuem o status são iguais com respeito aos direitos e obrigações pertinentes ao status. Não há nenhum princípio universal que determine o que estes direitos e obrigações serão, mas as sociedades nas quais a cidadania é uma instituição em desenvolvimento criam uma imagem de uma cidadania ideal em relação à qual o sucesso pode ser medido e em relação à qual a aspiração pode ser dirigida. [...] A classe social, por outro lado, é um sistema de desigualdade. E esta também, como a cidadania, pode ser baseada num conjunto de ideais, crenças e valores. É, portanto, compreensível que se espere que o impacto da cidadania sobre a classe social tomasse a forma de um conflito entre princípios opostos. Se estou certo ao afirmar que a cidadania tem sido uma instituição em desenvolvimento na Inglaterra, pelo menos desde a segunda metade do século XVII, então é claro que seu crescimento coincide com o desenvolvimento do capitalismo, que é o sistema não de igualdade, mas de desigualdade, Eis algo que necessita de explicação. Como é possível que estes dois princípios opostos possam crescer e florescer, lado a lado, no mesmo solo? O que fez com que eles se reconciliassem e se tornassem, ao menos por algum tempo, aliados ao invés de antagonistas? A questão é pertinente, pois não há dúvida de que, no século XX, a cidadania e o sistema de classe capitalista estão em guerra.

Marshall, T.H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.p.76.

Como surgiu a Sociologia?

A Sociologia tem origem no processo de desagregação da sociedade feudal e surgimento da modernidade.

As revoluções francesa e industrial promoveram mudanças que viabilizaram o surgimento da Sociologia como disciplina científica.

A Revolução industrial foi resultado de um processo de transformações econômicas que podem ser compreendidas a partir do início da crise do mundo feudal, tais como:

• Renascimento urbano e comercial.

• Formação dos burgos.

• Surgimento de um novo grupo social: a burguesia.

• Transformação da terra em mercadoria.

• Formação dos Estados Nacionais, centralização do poder régio.

• Surgimento das manufaturas.

• Transformação no mundo do trabalho: introdução do trabalho livre e assalariado.

Na Revolução Francesa, movimento através do qual a burguesia, pelo uso da força física, ascendeu ao poder político da sociedade francesa, em 1789, foi promulgada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, nesse documento constavam direitos cujos princípios valorizavam a liberdade e a igualdade. Tais direitos foram considerados universais, ou seja, estendidos a todos os habitantes do planeta. A Revolução Francesa pode ser considerada a força motriz de natureza política da modernidade, porque inaugurou novas formas de distribuição de poder. No plano cultural é indispensável a compreensão da importância do iluminismo, movimento intelectual que idealizou a nova ordem social assentada sobre a capacidade humana de uso da razão para a organização da vida em sociedade.

A Revolução Francesa suscitou transformações de natureza política, assim como a Revolução Industrial suscitou transformações de natureza econômica que contribuíram para o desenvolvimento da Sociologia como disciplina científica. Nesse processo de construção de uma nova forma de pensamento alguns autores se destacaram, tais como:

Saint-Simon (1760 -1825)

Considerado o fundador do positivismo pela influência que exerceu sobre Auguste Comte, principalmente entre 1817-1824, quando este foi seu colaborador. Foi influenciado pelas ideias iluministas e considerou que a industrialização seria capaz de reorganizar a sociedade a partir das consequências da Revolução Francesa, que teria gerado o caos na sociedade. O desenvolvimento econômico ordenaria a sociedade promovendo a paz e o progresso, pelos interesses espontâneos da produção.

A função desempenhada pela religião na sociedade seria substituída por uma ordem positiva, orientada pela observação dos fenômenos. E cada um receberia na nova sociedade conforme a sua contribuição, de modo cooperativo.
As elites responsáveis pela condução desse processo seriam formadas pelos cientistas e industriais. Segundo o autor seria indispensável a criação de uma ciência capaz de estudar as relações estabelecidas entre os homens, de acordo com os mesmos métodos de pesquisa das ciências naturais.

Por que as ciências naturais são diferentes das ciências sociais?

“Na história das ciências, elaborou-se uma epistemologia que separava o campo do social do campo do natural. O primeiro estaria sujeito a múltiplas interferências, o que torna difícil, senão impossível, a aplicação de conceitos como leis e determinações, a não ser sob condições muito particulares. As ciências sociais constituem o campo da indeterminação, pois os sujeitos humanos nascem dotados de vontade, liberdade e poder de escolha, mesmo sob as mais duras condições de existência e sob as condições estruturais mais impositívas. Já o campo das ciências naturais seria objeto do conhecimento positivo, da determinação. Assim foram pensadas e concebidas as ciências sociais durante um século.

Tal separação entre ciências sociais e ciências naturais deu azo a toda sorte de elucubrações e permitiu efeitos reativos, que afetaram o campo das ciências sociais. A saber, sob tai paradigma, as ciências sociais não eram consideradas ciências na mesma medida que os demais campos científicos, pois o campo das ciências foi sempre o campo do verificável, do comprovável, da objetividade, da positividade. Restaria às ciências sociais contentarem-se em fazer parte do campo das humanidades e das artes, o que não implicaria demérito, dado que as ciências sociais tratam de gente e não de coisas.

A revolução proposta por Prigogine consistiria em repensar a divisão entre ciências naturais e ciências sociais, permitindo uma aproximação em outro patamar. A divisão entre ciências sociais e naturais poderia, em alguma medida, ser superada, porque as ciências da natureza também enfrentariam restrições semelhantes às primeiras, em função do caos e da imprevisibilidade. À medida que combina caos com determinação, o autor se aproxima de alguma maneira das ciências sociais, cujos paradigmas limitam o emprego das noções de determinação e de leis cientificas, formuladas de maneira absoluta."

Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0102-69922002000200002&nrm=iso&tlnq=ptConsulta realizada em 15/09/2013.
Fonte: Físico-químico russo nascido em Moscou, Rússia, e naturalizado belga, especialista em desequilíbrio termodinâmico que ganhou o Prêmio Nobel de Química (1977) por sua contribuição ao estudo do desequilíbrio termodinâmico ou teoria das estruturas dissipativas. Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/bioasrafias/IlvaPrig.html. Consulta realizada em 15/09/2013.

Atualmente o diálogo entre ciências naturais e ciências sociais é notório. Um olhar atento para as formas como as ciências da natureza se fazem presentes em nosso cotidiano torna clara a percepção do impacto do desenvolvimento das ciências naturais sobre as relações que os homens estabelecem entre si, por exemplo. Desse movimento surge a discussão entre natureza e cultura.

Auguste Comte (1798 - 1857)


A contribuição de Comte foi fundamental tanto para o surgimento da Sociologia como disciplina científica quanto para a Antropologia, na medida em que torna possível entender em suas obras qual era o modo como os intelectuais compreendiam o mundo naquela época. Ele era um filósofo francês que pensava as sociedades a partir de três princípios básicos.

a. Prioridade do todo sobre as partes, ou seja, para compreendermos um determinado acontecimento que existe numa sociedade é preciso antes entender o contexto social do qual faz parte. Um exemplo muito pertinente é fenômeno da precariedade da segurança pública na cidade do Rio de Janeiro. Muito se fala sobre soluções imediatas para combater as pessoas que agem fora da lei, mas pouco se pensa sobre as condições que podem ter contribuído para que uma criança, por exemplo, trabalhe em atividades ilegais.

b. Progresso do conhecimento, que é algo capaz de impulsionar as sociedades humanas para o melhor destino possível. Nessa época havia a crença de que o progresso científico reorganizaria a vida em sociedade dos seres humanos, de modo a reduzir progressivamente os fenômenos que pudessem prejudica-los.

c. O homem possui características universais em sua essência (constituição biológica e sistema cerebral), e é a partir dessa compreensão que ele concorda com a teoria darwinista social.

De acordo a ideia dos princípios básicos o autor concluiu que todas as sociedades humanas possuem o mesmo destino cultural. O que o autor compreende por sociedade avançada consiste num determinado sistema de classificações (cultura) será alcançado por todas as sociedades de forma progressiva e com a mesma trajetória. Trata-se de uma perspectiva evolucionista, forma de pensamento predominante na época (século XIX). Foi a partir da perspectiva evolucionista que o autor desenvolveu a lei dos três estados:

1. Estado teológico ou fictício, subdividido em fetichismo, politeísmo e monoteísmo: nesse estágio de evolução os seres humanos explicam o mundo que o cerca através de histórias que envolvem seres que não se encontram no mundo em que vivemos. Esses seres que vivem no mundo sobrenatural, isto é, além do mundo em que vivemos que é natural, material, porque o vemos e sentimos seus fenômenos, como a chuva, o calor do sol e o vento, por exemplo. É comum nesse estágio de evolução que a explicação para os fenômenos desconhecidos seja buscada nos seres imateriais, popularmente chamados de deuses. Dentro desse entendimento o filósofo destacou três tipos de estágio teológico/fictício, denominados:

a. fetichismo: explicação da vida humana a partir de forças sobrenaturais cuja origem se encontra em animais ou criaturas inanimadas. Isso significa considerar, por exemplo, que objetos concretos, que fazem parte do cotidiano das pessoas, possuem vida e poderes. E desse modo seria possível explicar a vida humana e o mundo que a cerca.

b. politeísmo: as características da natureza humana possuem sua origem nos deuses. Nesse sentido acredita-se existem seres num mundo diferente do nosso. Esses seres têm poderes e vontade própria, além da capacidade de intervir nas relações entre os homens em nosso mundo.

c. monoteísmo: há somente em um Deus, que é um ser sobrenatural, uma vez que se encontra em outro mundo, que possui poderes, vontade própria, podendo intervir nas relações humanas.

2. Estado metafísico ou abstrato: nesse período os filósofos se dedicam ao estudo da metafísica, busca pelas causas primeiras e pela essência dos entes (seres).


     Metafísica é o que se localiza além do mundo físico, material, que pode ser identificado pelos sentidos. A diferença entre o estágio teológico e o metafísico é que nesse não se buscam explicações em seres que transitam entre o mundo material (natural) e o mundo imaterial (sobrenatural). Os filósofos metafísicos buscavam explicações racionais para a origem do mundo que os cercava. Tais explicações eram buscadas através das ideias racionalmente construídas, o que não se verifica no estágio teológico, onde a razão é submetida à vontade dos deuses, por exemplo.

3. Estado positivo ou científico: momento de substituição da Filosofia pela ciência em sua trajetória de investigação acerca do princípio e fim do universo. Caberia ao conhecimento científico estabelecer as leis e regularidade e acontecimento e realidade dos acontecimentos que pudessem ser observados.

     Quando falamos em conhecimento científico estamos nos referindo ao conhecimento que é resultado de diversas pesquisas realizadas por cientistas, que são pessoas que dedicaram muito tempo, como muitos anos de estudos, sobre um determinado assunto. Como exemplo podemos citar o cientista político, que é alguém que dedicou alguns anos da sua vida a realização de leituras que o tornam capaz de olhar para a realidade e interpretá-la a partir do conhecimento que adquiriu com as leituras que fez. Nesse sentido é o repertório teórico que torna o cientista político mais capaz de interpretar de modo científico as relações de poder que existem nas sociedades humanas.

     Cada época possui um conjunto de normas que os cientistas devem respeitar em suas respectivas áreas. Imagine um cientista político que atualmente decide declarar publicamente que o conjunto de direitos humanos não deve contemplar todos os seres humanos. Como atualmente no campo de produção científica das ciências humanas o conjunto de direitos humanos é estabelecido para todos os seres humanos, nenhum cientista pode questionar essa afirmação.

O que torna científico o resultado de uma pesquisa sobre um determinado assunto é o respeito ao conjunto de procedimentos e normas que estão em vigor em determinada época e em determinadas áreas de conhecimento. Quem organiza os procedimentos e normas são cientistas, pessoas especializadas em suas áreas de estudos. É desse modo que a declaração de um cientista político será considerada verdadeira.


     Com o passar do tempo, como as pesquisas científicas não param, mas permanecem sendo realizadas, é possível que exista o aperfeiçoamento de uma descoberta científica ou a substituição por uma nova descoberta. Um exemplo bem interessante é a questão racial na sociedade brasileira. Na época do trabalho escravo os afrodescendentes eram considerados menos capazes do que os descendentes dos europeus. Hoje já sabemos que independente da origem étnica, todos os seres humanos possuem diferentes tipos de inteligência, para diversos tipos de trabalho. Isso quer dizer que a compreensão anterior foi substituída por uma nova, que desconsidera que pessoas de diferentes etnias são naturalmente desiguais de modo hierárquico.

Para Comte as ciências abstratas se localizam na base das sociedades e delas dependem as ciências concretas. Foi construída pelo autor uma hierarquia de disciplinas: matemática, astronomia, física, química, biologia e sociologia.

Entre todas as disciplinas a sociologia é a mais importante porque se constitui na síntese das ciências humanas (Filosofia, História, Moral, Psicologia, Política, Economia). Comte acredita que o estudo das relações entre as pessoas é a mais importante produção de conhecimento.
Comte dividiu a Sociologia em duas importantes áreas:


a. Estática social: pesquisa acerca do que há de permanente nas sociedades, trata-se da ideia de ordem. Para compreender a estática social é só lembrar que existem coisas que são iguais em todas as culturas, porque fazem parte da estrutura social de todas das sociedades humanas, tais como a distribuição das riquezas, educação dos mais jovens, relações poder e regras de parentesco.


b. Dinâmica social: pesquisa acerca do processo de desenvolvimento histórico das sociedades, trata-se da ideia de progresso. Para entender o que é dinâmica social basta lembrar que a partir da estrutura social os seres humanos classificam o que é bom ou ruim para a vida em sociedade. Trata-se dos sistemas de classificações coletivas. A dinâmica social, desse modo, corresponde à estratificação social, porque é o desdobramento da estrutura social. Por exemplo, em todas as culturas os mais jovens são educados, isso é estrutura social; mas o tipo de educação muda conforme a época e o lugar, por esse motivo é o desdobramento da estrutura social, que chamamos de estratificação social, ou seja, o tipo de educação específico de uma determinada cultura, assim como as relações de poder, distribuição das riquezas e regras de parentesco. 
Comte realizou a ruptura com a construção teórica contratualista, segundo a qual os indivíduos dão origem à sociedade, mas o contrário.

Com a intenção de reorganizar as instituições dilaceradas pelas revoluções francesa e industrial, tanto Saint- Simon quanto Comte dedicaram-se a pensar acerca da possibilidade de criação de uma religião orientada por uma moral que fosse capaz de promover a solidariedade necessária à nova ordem social, política e econômica.

No Brasil a construção teórica positivista influenciou as ideias que motivaram o processo de independência, cuja premissa se encontra na bandeira nacional: ordem e progresso.

Herbert Spencer (1820-1903)

Sociólogo inglês que difundiu o Darwinismo Social. De acordo com essa perspectiva teórica todas sociedades passam por estágios de evolução, conforme a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin. De acordo com essa perspectiva teórica os fenômenos sociais seriam estudados de modo análogo às ciências naturais, com os mesmos procedimentos.

No século XIX era muito comum que pesquisadores construírem suas teorias a partir do contato com outros povos, movimento iniciado com a partilha da Ásia e da África. Nesse período os europeus tiveram contato outros povos, com culturas diferentes, o que tornou possível o desenvolvimento da Teoria da Cultura. A Antropologia se destacou como disciplina no estudo das culturas.

Émile Durkheim (1858-1917)

Sociólogo francês que desenvolveu um método próprio de investigação para a Sociologia. Assim como os outros autores produziu a partir de um minucioso olhar para o caos em que se encontrava a sociedade francesa. A desordem não era resultado das transformações econômicas, mas das modificações morais. Nesse cenário, seria função da Sociologia, enquanto saber científico, buscar soluções para os problemas sociais. Por se tratar de um autor funcionalista privilegiava a função das partes na coletividade.

Em sua análise acerca das transformações advindas da revolução industrial busca compreender como é possível que uma sociedade se desintegre, como funciona a educação, a formação das instituições sociais, assim como a aceitação de determinados comportamentos.

O método durkheimiano de análise sociológica consiste na observação dos fatos sociais (modo de agir, pensar e sentir de uma coletividade), devem ser considerados como "coisas”. Isso significa que o pesquisador deve buscar a objetividade e neutralidade. O sociólogo deve ter uma postura neutra em relação ao seu objeto de estudo. O coletivo (social) é a base da definição da Sociologia. Pode-se afirmar que o “social”:

a. Exerce constrangimento, (sutil ou não) sobre os indivíduos.

b. Produz “sentimentos” (valores).

c. É uma entidade autônoma com características próprias e se manifesta através da realidade objetiva dos fatos sociais.

Os fatos sociais são fenômenos que contém ações e representações coletivas e individuais, podem ser institucionais ou não e se cristalizam de modo impositivo, ou seja, as partes (indivíduos) não são autônomas. Isso significa que na vida em sociedade não existe liberdade plena, tanto na esfera jurídica quanto na esfera moral (cultural), porque a coletividade, de modo impositivo, estabelecerá quais são as regras que o indivíduo deve obedecer para fazer parte do grupo. Se houver resistência haverá a coercitividade, que pode se manifestar com uma punição imediata ou pela simples exclusão do indivíduo do grupo. Vejamos com detalhes as características dos fatos sociais.

a. Exterioridade: a ideia de exterioridade existe na medida em que as regras que devem ser cumpridas não emanam da vontade individual, mas a ela se sobrepõem. A construção de tais regras existe num plano coletivo, por isso a ideia de exterioridade.

b. Coercitividade: a ideia de coercitividade sugere que há um mecanismo de convencimento da sociedade em relação ao indivíduo. Seria despertado nesse indivíduo o desejo de participar da vida social, e para que isso fosse possível teria que aderir ao modelo estabelecido pela sociedade. Evidencia-se, portanto, o privilégio do todo em detrimento da parte.

c. Generalidade (coletividade): fenômeno social coletivo, só existe nas partes porque existe no todo, ou seja, no corpo social. A obediência existe de modo tão espontâneo que as pessoas acreditam que suas ações são motivadas por escolhas próprias. E nunca são, porque a coletividade oferece uma espécie de “leque” de opções, mas sempre dentro das limitações estabelecidas.

Morfologia social: tipos de solidariedade.

A divisão social do trabalho para Durkheim promoveu a passagem da solidariedade mecânica para a solidariedade orgânica.

a. Mecânica: característica das sociedades simples, onde os indivíduos são associados pela religião e moral. A produção econômica do grupo é autossuficiente e os mecanismos de controle são punitivos.

b. Orgânica: característica das sociedades complexas, da modernidade, cuja produção já se encontra na fase da manufatura, voltada para o desenvolvimento da atividade comercial.
As associações entre os indivíduos se dão pela complementaridade e interdependência necessárias à produção manufatureira.

Fatos Sociais Normais e Fatos Sociais Patológicos

a. O fato social normal existe em todas as culturas, possui regularidade e não desestabiliza a coesão social.

b. O fato social patológico não possui regularidade e desestabiliza a coesão social.

Suicídio

Existem três tipos de suicídio:

Egoísta
Ocorre quando o indivíduo não suporta as pressões da coletividade enquanto autoridade.

Altruísta
Ocorre pelo desprezo do instinto próprio de conservação, por uma causa coletiva.

Anômico
Ocorre pela desordem causada pela modernidade, pela incapacidade das instituições modernas em assegurar a integração dos indivíduos no corpo social. Cabe ao Estado a criação de instituições que assegurem a coesão social, assim como os mecanismos de coerção em situações de anomia.

Formas elementares da vida religiosa

Durkheim optou por estudar as formas elementares da vida religiosa a partir do totemismo australiano, por considerá-lo a mais simples e primitiva entre as religiões. Todas as religiões possuem uma natureza essencialmente social, onde estabelecem a divisão entre o sagrado e o profano. Nas tribos australianas existe uma relação entre clã e totem. O clã se caracteriza pela organização em parentesco não formado por vínculos de sangue. Sua referência se encontra em elementos da natureza, uma planta ou um animal. Um totem do clã é normalmente transferido pela parte materna. Cada totem possui um conjunto de símbolos que formam a sua identidade. Tais símbolos geram práticas sociais e asseguram a coesão do grupo.

Max Weber (1864-1920)

Contribuição de Max Weber para a construção da Sociologia como disciplina científica. Max Weber foi um importante autor para construção da Sociologia como disciplina científica, na Europa, sobretudo na Alemanha, onde nasceu. Suas ideias refletem o momento histórico em que viveu. A Alemanha vivenciou seu processo de industrialização de modo tardio, em relação à Inglaterra e a França, cuja burguesia se desenvolveu ainda no século XVIII, mesmo período em que nasceram o Positivismo e o Evolucionismo. Essas correntes teóricas deram origem ao início de construções sociológicas que visavam desenvolver métodos que fossem capazes de explicar as transformações daquela época.

Para compreender a natureza, ou seja, a origem das ações das pessoas na vida em sociedade Max Weber construiu um método muito interessante. Sua construção teórica ficou conhecida como Sociologia Compreensiva, porque busca a compreensão das relações estabelecidas na vida em sociedade. Seu objeto de estudo é a ação social do indivíduo em relação à sociedade. A ação social possui um caráter subjetivo e seu método consistiu em estabelecer comparações para estudar a realidade social na medida em que se encontra centrada:

a. em relações humanas;

b. no desenvolvimento das sociedades orientais e ocidentais, buscando semelhanças em situações históricas semelhantes.

Tipo ideal: relação indivíduo e sociedade.

Tipos ideais são modelos construídos a partir de um conjunto de características comuns. De acordo com o tipo ideal é possível compreender as ações dos indivíduos na vida em sociedade. Trata-se da criação de conceitos que servem como instrumentos metodológicos para medir a realidade. As atitudes explicam a conduta social. Estudar a natureza e operação desses fatores, considerando que são influenciados por outras ações individuais constitui o caminho para se compreender a situação social e entender as intenções.

● Ação social: qualquer comportamento humano, com referência a outro ser humano, podendo ocorrer no passado, presente ou futuro, com uma prevenção. Nesta ação não há necessidade de um terceiro indivíduo.

● Relação social: a unidade mínima é o indivíduo, que se refere ao outro. É o conjunto de ações sociais, por interação.

● Oportunidade: conjunto de possibilidades existentes, em que haja reciprocidade.

● Estrutura social: existe se houver oportunidade, ainda que todas as estruturas mudem. Quanto menos forem as oportunidades, mais frágeis serão as estruturas.

● Principais tipos de atividades sociais:

a. Societária: regulada de acordo com um estatuto, regulamento estabelecido pela vontade dos membros.
Exemplo: centros acadêmicos em universidades (instituições de ensino superior).

b. Entendimento: estrutura social que não repousa em nenhum estatuto.
Exemplo: grupo de amigos.

c. Institucional: estatuto editado (em geral), regulamentado explicitamente, que independe da vontade dos membros.
Exemplo: família.

d. Agrupamento: estrutura a qual o indivíduo adere espontaneamente, sem que haja um regulamento explícito ou sequer definido. Trata-se da submissão a uma autoridade que exerce uma atividade que pode gerar um constrangimento sobre os membros.

Exemplo: liderança carismática.

Tipos ideais de ação social:

Conceito vinculado necessariamente ao comportamento humano. Nem toda ação é uma ação social. A ação social é a mais primária entre todos os indivíduos porque possui uma motivação, um significado, um sentido subjetivamente visado para você e para o outro. Nesse sentido a reciprocidade é indispensável.

a. Ação tradicional (irracional): encontra-se arraigada no comportamento, resulta do estímulo do cotidiano. Determinada pelo hábito. Trata-se de uma prática tão comum em seu cotidiano É tão irracional que o indivíduo nem percebe.

b. Ação afetiva (irracional): encontra-se relacionada ao sentimento de satisfação imediata. O indivíduo satisfaz suas necessidades, de naturezas diversas. Trata-se de agir em função das paixões momentâneas. Esse tipo de ação opera sentimento. Esta subjetividade deve ser analisada para que haja regularidade.

c. Racional Moral (visando valores): trata-se do comportamento norteado por perspectivas de valor (moral de convicção). Esse tipo de ação é norteado por perspectivas de valor (moral de convicção). A decisão é sustentada por princípios.

É MUITO IMPORTANTE PERCEBER QUE A AÇÃO RACIONAL MORAL É DIFERENTE DA AÇÃO TRADICIONAL.

→ “Os julgamentos de valor são pessoais e subjetivos... O julgamento de valor é uma afirmação moral ou vital, a relação aos valores é um procedimento de seleção e de organização da ciência objetiva”

→ “O problema da escolha dos valores nos introduz a ética da convicção, que incita a agir de acordo com os nossos sentimentos, sem referência, implícita ou explícita, às consequências. Weber dá dois exemplos: o do pacifista absoluto e o do sindicalista revolucionário.

O pacifista absoluto se recusa incondicionalmente a portar armas e matar seu semelhante. Se ele pensa que irá impedir as guerras com essa recusa, é um ingênuo e, no plano da moral da responsabilidade, ineficiente. Mas se seu objetivo é simplesmente agir de acordo com a sua consciência e se a própria recusa é o objeto de sua conduta, se torna sublime ou absurdo, não importa, mas não pode ser refutado. Quem proclama: antes a prisão e a morte do que matar seu semelhante está agindo de acordo com a ética da convicção. Pode-se não lhe dar razão, mas não se pode demostrar que está enganado, pois o ator não invoca outro juiz a não ser sua própria consciência, e a consciência de cada um é irrefutável medida em que não tem a ilusão de transformar o mundo, e a única satisfação que ambiciona é a própria fidelidade. No plano da responsabilidade, pode ser que os pacifistas não contribuam para suprimir a violência, mas apenas para a derrota da sua pátria. Estas objeções, contudo, não preocupam os moralistas da convicção. O mesmo acontece com o sindicalista revolucionário, que diz não à sociedade, indiferente às consequências imediatas ou a longo prazo da sua recusa; na medida em que tem consciência do que faz, ele escapa às críticas científicas ou políticas dos que se colocam no plano dos fatos.”

Fonte:
ARON, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico; tradução Sérgio Bath. – 7ª ed. – São Paulo: Martins Fontes: 2008. – (Coleção Tópicos)

d. Ação racional com finalidade: trata-se da ação planejada visando um objetivo definido. A motivação possui a responsabilidade como fio condutor da ação. A racionalidade norteia esse tipo de ação.

Tipos ideais de dominação legítima: relação entre Estado e sociedade:

Em geral entendemos por poder a possibilidade de um indivíduo, ou de um grupo de indivíduos fazer com que sua vontade seja atendida em uma ação comunitária, inclusive contra a resistência dos que fazem parte do grupo. O sentido da ação comunitária é determinada pelos líderes. A relação entre líderes e liderados são relações de poder e dominação, se há resistência ou consentimento. O que determina o tipo de dominação é o que os seguidores têm em mente, o motivo pelo qual obedece, a partir do motivo é possível identificar o tipo de dominação.

A dominação é um caso especial de poder, ocorre quando há legitimidade, consentimento, aceitação.

Há dois tipos de legitimidade: extraordinária e de rotina diária.

Em relação à rotina diária há dois tipos: tradicional, patrimonial; racional-legal (burocrática).

Tipo puro de dominação: quando uma comunidade ou indivíduo se considera em rotina diária. 

Momento em que as situações acontecem como deveriam, ou seja, que estão certas de acordo com a perspectiva de quem obedece, então ocorre a legitimidade.

Momento extraordinário: exige a existência de uma pessoa cujas ações não sejam norteadas pela tradição nem pela racionalidade. Essa pessoa possui legitimidade porque quem a obedece acredita que ela cumprirá uma missão, porque possui dons extraordinários de corpo e de espírito, para conduzir seus líderes para a rotina diária. Ou seja, as qualidades dessa pessoa devem conduzir a comunidade para a tradição ou para a racionalidade. O término ou falha do cumprimento da missão faz com que os liderados desconsiderem o líder carismático. A condução da comunidade ao estado de rotina diária, normalidade deve acontecer.

Segundo Max Weber por política compreende-se qualquer tipo de liderança independente em ação. A ação política do Estado se define por seus meios específicos e peculiares: a violência. As relações de poder entre Estado e sociedade se estabelecem por meio da ação política, podendo ser utilizada a força física. A violência não o único meio de ação do Estado. O conceito de Estado só existe porque existem instituições sociais que conhecem o uso da força física. A violência legítima é exclusiva do Estado em seu território e se alguém além do Estado o faz é com a sua permissão. Isso significa que se existe na sociedade brasileira o emprego do uso da violência física é porque o Estado permite ou o faz diretamente por meio da sua força policial. A ação da polícia na sociedade é legal e legítima. É legal porque se encontra amparada pela lei e legítima porque existe aceitação por parte da população.

Dominação legítima: tipos mais puros.

a. Tradicional: é irracional e possui como principais características a hereditariedade e hierarquia. Precede a dominação racional-legal.
Exemplo: coronelismo, realeza, patrimonialismo, ou seja, relações de poder personalizadas.

b. Carismática: é irracional e quem obedece ao líder o faz porque acredita que ele possui características excepcionais para resolver uma situação de crise. O líder carismático existe porque há um momento extraordinário. É sua função executar a missão que se encontra em seu poder e conduzir a comunidade à rotina diária. Exemplo: Fascismo.

c. Racional-legal: existe obediência à um determinado conjunto de regulamentos registrados por escrito. A obediência existe em relação ao estatuto.
Exemplo: burocracia.

Ciência e política: duas vocações.

Política como vocação: é possível a ação política por vocação?

A palavra política encontra-se empregada pelo autor no sentido da sua orientação. Quem faz política almeja o Estado, porque deseja a intervenção por meio do uso legítimo da força física. O consentimento pode ser alcançado por meio da rotina diária ou por meio do momento extraordinário. 

É possível viver a política de dois modos distintos:

1.Viver da política: político profissional. O jornalista é um exemplo de político profissional, porque embora não almeje o Estado faz uso da palavra impressa para defender quem lhe beneficiará futuramente. Trata-se do demagogo.

2.Viver para a política: político que defende uma causa, não precisa da política para ter dinheiro. Participa da vida política a fim de contribuir. O político por vocação deve possuir três qualidades:

2.1.Paixão: deve existir moderadamente e não pode predominar sobre as demais. Essa paixão não se relaciona com a emoção, mas com uma objetividade latente.

2.2.Senso de responsabilidade: o político deve avaliar as consequências da sua conduta.

2.3.Senso de proporção: o político deve ser capaz de permitir que a realidade atue sobre ele sem perder o equilíbrio. Por isso é necessário o desapego.

Max Weber não considera que haja problema em existirem alianças políticas, mas o político deve possuir habilidade para construir as alianças políticas. Do ponto de vista ético e legal realmente não há problema, todavia deve ser analisado cautelosamente o jogo de forças, a fim de que não se perca o controle. Entre adversários ideológicos em algum tipo de aliança política, a traição não é condenável, somente entre lados regidos pelo mesmo princípio ideológico.

Como o ser humano não gosta de ser contrariado, a política é um meio para o exercício de dominação. Por isso a legitimidade é importante para as relações de poder estabelecidas em sociedade. É através da legitimidade, ou seja, da aceitação do outro ao nosso comando que conquistamos o que desejamos.

Ética e política se relacionam na medida em que a ética reflete a criação das regras pelos homens e a política implica numa intervenção sobre alguém. Como não há consenso nem neutralidade absoluta num corpo social sempre haverá alguém contrariado. É possível identificar dois tipos de ética:

a. Convicção ou de valores: referente aos princípios absolutos, as ações do político estão voltadas para o benefício próprio, num plano moral.

b. Responsabilidade: referente às ações do político em relação ao grupo. São morais as ações que forem úteis para a coletividade.

Ciência como vocação:

O que a ciência tem a dizer sobre a vida de cada indivíduo? Como alguém pode se dedicar a algo que exige superação?

A ciência foi responsável pelo processo de desencantamento do mundo, caracterizou a retirada da religião, da magia, do estado teológico, do fetichismo, do sobrenatural das explicações acerca das relações entre os homens e a natureza. Essa é a pretensão da ciência, promover o desencantamento, ou seja, explicar de modo racional o que antes era atribuído ao sobrenatural.

A ciência responde certas questões de forma diferente. São questões que somente as universidades e as associações científicas respondem. A produção científica não possui como objetivo promover o cientista, mas, sobretudo o conhecimento nela contido. Quando o cientista faz uso do conhecimento para se promover se dedica a si mesmo e não à ciência em si. O cientista é percebido pelo autor como alguém que está sujeito a ser superado. A ciência deve possuir um valor em si mesma, não é neutra porque é refutável e deve ser protegida contra valores que não sejam os seus. A ciência implica racionalização, com latente valorização do cálculo, a fim de promover a maximização do lucro na moderna sociedade capitalista.

A ética protestante e o espírito do capitalismo.

Para viver o espírito do capitalismo o indivíduo precisa ser um asceta. O capitalismo por si mesmo não engendrou a conduta asceta, quem a criou foi o protestantismo, mais especificamente o calvinismo.

Os protestantes são pessoas dotadas de uma disciplina própria da religião. Esse ethos diante da vida e do trabalho favoreceu o desenvolvimento do capitalismo nas sociedades cuja religião predominante foi a protestante.

O tipo ideal de conduta religiosa capaz de promover o desenvolvimento do capitalismo qualitativamente foi a protestante calvinista. O ascetismo católico e luterano não foi capaz de contribuir significativamente porque para o primeiro deve ser esperada uma recompensa após a morte, e para o segundo a ação humana é dispensada como elemento que torna possível a salvação, reafirmando a concepção tradicionalista da vida na Terra.

Na Alemanha do tempo de Weber os homens de negócios bem sucedidos, proprietários de capital, 
assim como os trabalhadores mais bem sucedidos em sua carreira profissional eram, em sua maioria, protestantes.

A reforma protestante promoveu a inovação das formas de controle sobre o cotidiano das pessoas. Isso aconteceu porque diferente dos católicos, que preferiam, majoritariamente, a aprendizagem oferecida pelos ginásios humanísticos, os protestantes optavam, em sua maioria, pelo ensino ofertado em instituições que valorizavam o saber técnico para execução de funções comerciais e industriais. Nesse contexto social o homem encontra-se envolvido pela ideologia de que a aquisição de dinheiro é a finalidade da vida, mas não se trata de ganhar dinheiro de qualquer modo, mas de forma honesta, de acordo com parâmetros estabelecidos em leis instituídas. Esse tipo de aquisição de dinheiro é reflexo do modelo ensino a que o protestante foi submetido, ao formato de educação que recebeu. A disciplina foi indispensável para o êxito dos protestantes na nova ordem econômica.

A aquisição do dinheiro não destinada à conquista de bens materiais, mas para realizar a multiplicação por meio da maximização constante do lucro.

A honestidade também foi importantíssima para o desenvolvimento do capitalismo. Weber identificou que, onde o desenvolvimento burguês-capitalista, de acordo com os padrões ocidentais, se encontrava atrasado, as pessoas não se preocupavam em ganhar dinheiro de modo honesto em relação às leis vigentes.

O capitalismo não é um sistema, mas, sobretudo, uma ação racional relativa a fim, ou seja, à maximização constante do lucro na moderna sociedade capitalista. A principal motivação para o capitalismo é o seu “espírito”, fazer do capitalismo um valor em si mesmo, na medida em que usa o dinheiro com a finalidade de gerar mais dinheiro. Essa perspectiva tem origem no modo de vida calvinista. O ethos foi o hábito proveniente de uma educação que criou valores, normatizou comportamentos e atitudes diante da vida e do trabalho.

O protestante é o sujeito coletivo, ainda que a sua ação seja individual, porque o social só existe se cada um vivê-lo. Nesse caso o espírito do capitalismo só existe se o sujeito, em ação individual, viver a sua representação. Porque toda e qualquer criação carece de atores sociais para representá-la. Mas não se trata aqui de qualquer protestantismo, mas um tipo específico, cuja ação dos seus membros é racional relativa a valores, que não exclui a existência de uma finalidade, que é a salvação.

Para o católico a sua igreja detinha o poder de determinar quem seria salvo, o absolvia e realizava um sistema de compensações, para o calvinista sua vida deveria corresponder a um método específico de conduta, ou seja, uma rígida disciplina. Era uma conduta que conduzia o cristão à salvação. Houve a substituição da ética católica, que consistia na existência de uma aristocracia espiritual dos monges, pela ética da predestinação. Ao contrário dos monges, que ocupavam uma posição social à parte do mundo, os protestantes predestinados eram pessoas que formavam um novo segmento social, igualmente valorizado por Deus, mas inseridos no mundo.

No processo de construção da ética asceta protestante calvinista foi realizada uma sistematização das informações contidas no Velho Testamento, que embora possuísse uma moral tradicionalista, estavam também componentes que favoreceram o desenvolvimento do pequeno-burguês, principalmente nos livros intitulados Salmos e Provérbios. A raiz do perfil utilitário da ética calvinista localiza-se no ideal de vocação como área estabelecida para a realização de determinada atividade.

A doutrina da predestinação possui natureza na convicção de Calvino acerca da sua salvação, que estava centrada na confiança depositada em Cristo. Era a fé persistente, em última instância, o único elemento capaz de diferenciar os eleitos dos não eleitos, uma vez que as experiências de ambos podem ser semelhantes.

Karl Marx (1818-1883)

Origem do socialismo científico:

Assim como Émile Durkheim e Max Weber, Karl Marx analisou as transformações nas relações sociais após a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. As precárias condições de sobrevivência a que eram submetidos os operários nas fábricas chamou atenção de outros pensadores, que ficaram conhecidos como socialistas utópicos. E foi Marx, com seu colaborador Friedrich Engels (1820-1895), que fundou o socialismo científico. Em sua famosa obra O Manifesto do Partido Comunista, identificou que desde a antiguidade havia duas classes em luta, e que o desenvolvimento do capitalismo deu origem a dois grupos sociais em conflito, por possuírem interesses antagônicos: a burguesia e o proletariado.

Engels foi importante para o desenvolvimento do socialismo científico porque além de produzir com Marx, contribuiu significativamente para divulgação das ideias de Marx como uma possibilidade concreta, ou seja, como uma visão de mundo alternativa ao capitalismo. Participou, junto com Marx, intensamente, da primeira internacional (federação internacional dos trabalhadores: 1864 – 1876) e esteve na presente na formação da segunda internacional (federação internacional dos trabalhadores: 1889 – 1914). Com o falecimento de Marx, Engels dedicou-se intensamente à organização dos volumes dois e três da principal obra de Marx: O Capital. Engels faleceu com câncer após iniciar o quarto volume.
Socialismo utópico: Corrente de pensamento formada por autores que se encontravam insatisfeitos com as consequências do desenvolvimento do modo de produção capitalista. Entre tais autores se destacaram o britânico Robert Owen (1771-1858), os franceses Henri de Saint-Simon (1760-1825), François-Charles Fourier (1772-1837) e Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). Embora todos tenham sido criticados por Marx no Manifesto do Partido Comunista, havia algumas diferenças entre suas construções teóricas.

Socialismo utópico:

Para Saint-Simon e Charles Fourier as teorias iluministas acerca do caráter do ser humano foram responsáveis pelo caos consequente da Revolução Francesa.
Segundo ambos havia algo que nascia com o ser humano e que haveria harmonia nas relações sociais se fosse criado um processo de acomodação para reorganizar a vida em sociedade. Para Owen não havia algo inato no ser humano e seu conjunto de atributos individuais é formado a partir de situações externas. Desse modo, para Owen, deveria haver uma reorganização da sociedade no sentido de favorecer a construção de relações que despertassem nas pessoas o desejo de cooperação e não de competitividade. Assim a sociedade caminharia para a passagem do conflito para a harmonia.
PETCIS/UERN: Anarquismo e socialismo utópico.
Proudhon foi o primeiro teórico a fazer uso do termo “anarquia” com a intenção de favorecer os interesses dos operários. Segundo o autor a anarquia representava uma organização social sem qualquer forma de governo que estivesse localizada acima da vontade coletiva.

O fundamento teórico do anarquismo enquanto tendência política encontra-se em seus escritos. A emancipação dos operários deveria ser realizada por meio de uma organização econômica, por cooperação mútua.

Com a divisão social do trabalho os artesãos foram separados das suas ferramentas de trabalho. Na 
Inglaterra foi realizado o cercamento dos campos, no início do século XVII, forçando as pessoas a migrarem do campo para as cidades. Também foi criado um conjunto de leis que favoreceram esse processo. Embora a produção artesanal ainda se encontrasse presente nas manufaturas, os operários já estavam submetidos ao controle do capitalista, proprietário da manufatura e, desse modo, proprietário dos meios de produção. Essa separação entre os trabalhadores e suas ferramentas de produção, segundo Marx, promoveu o estado de alienação porque se estabeleceu uma relação de estranhamento entre o operário e o artigo construído. Por exemplo, se antes da divisão social do trabalho o artesão conhecia todas as etapas da confecção do artigo, após a especialização da mão-de-obra ele passa a executar somente uma etapa. Além disso, o artigo deixou de pertencer a quem o fez, tornou-se propriedade do burguês, novo proprietário dos meios de produção.
http://petcis.blogspot.com.br/2011/05/seminario-de-leitura-da-divisao-do.html

De acordo com a perspectiva teórica de Karl Marx, a sociedade capitalista, além de promover o assalariamento do trabalhador, assim como a sua alienação, promoveu também a transformação do valor dos bens produzidos. Esses deixaram de possuir por finalidade um valor de uso para adquirirem valor de troca. Nesse sentido é possível perceber que o sistema capitalista transforma tudo o que é produzido em mercadoria. A partir do momento em que os bens foram transformados em mercadorias o trabalhador também se tornou uma mercadoria. Esse processo foi denominado por Marx como fetichismo da mercadoria e reificação do trabalhador. O processo de fetichismo da mercadoria pode ser verificado quando a mercadoria é tão valorizada que sobrepõe a seu valor de uso. Essa supervalorização da mercadoria passa a orientar as relações entre as pessoas. A reificação do trabalhador é constituída pela transformação dos seres humanos em “coisas”. Isso significa a desumanização do ser humano, corresponde à sua conversão em mercadoria. O processo de alienação não se encontra restrito às formas de produção de bens, mas também ao modo como as pessoas passam a consumir, ou seja, a adquirir bens.

Com a finalidade de produzir uma sociedade de consumo capaz de promover a maximização constante do lucro, a classe dominante criou uma ideologia que impedisse que a classe operária percebesse a situação de exploração em que vivia. Por ideologia compreende-se um conjunto de ideias capazes de orientar a prática social de um determinado grupo de pessoas.

A França do século XVIII foi analisada por uma historiadora contemporânea, chamada Michelle Perrot. Em seus estudos verificou que dois tipos de disciplina foram responsáveis pela reorganização do mundo do trabalho, o militar e o religioso. A disciplina militar traz em seu bojo a hierarquia e a organização em fileiras, a religiosa possui como característica o silêncio. Desse modo, nas fábricas, foi construída uma estrutura com rígida supervisão e penalidades, a fim de evitar que as regras fossem violadas. Essa nova estrutura do mundo do trabalho reorganizou a sociedade contando com o apoio de instituições sociais, tais como escolas, igrejas, manicômios, cárceres, reformatórios, asilos e quartéis. Coube ao Estado assegurar que essas instituições legitimariam a nova ideologia do trabalho.

Segundo o cientista social e escritor canadense Erving Goffman as instituições sociais desempenham funções importantes na sociedade porque são responsáveis pela modelagem do “eu” individual. Em sua obra Manicômios, prisões e conventos as instituições totais são analisadas minunciosamente pelo autor. Em tais lugares o ingresso do indivíduo caracteriza um momento de ruptura não espontâneo com os atributos individuais humanos, ou seja, com a identidade individual. Trata-se, em última instância, da adesão compulsória ao novo conjunto de atributos, institucionais, que possuem como finalidade a padronização de comportamentos, anulando, desse modo, qualquer tipo de manifestação individual que não esteja previsto no conjunto de regras estabelecidas.

A construção de uma ideologia, assim como a sua difusão, foi indispensável, porque era necessário que os membros da nova sociedade além de obedecer as regras as instituídas as percebessem como benéficas e naturais. Esse processo de naturalização de uma ordem socialmente construída criou nas pessoas a sensação de que aquele modelo de estrutura social era o único possível, reduzindo as possibilidades de resistência e de conflito.

A ideologia liberal foi muito eficiente porque além de criar instituições que legitimassem uma determinada visão de mundo, ou seja, que fossem aceitas pela classe operária como única e possível, também contribuiu para a formação de uma sociedade de consumo, a fim de promover a maximização constante dos lucros dos burgueses, classe social proprietária dos meios de produção. A associação do consumo à felicidade foi fundamental para favorecer esse processo. Esse movimento foi possível porque foi realizada a mercantilização da cultura, onde, segundo Marcuse, importante crítico do capitalismo, a produção cultural passa a atender interesses específicos. Acontece, portanto, a desvalorização da produção cultural em prol do mercado. Fica evidente, portanto, que a mercantilização da cultura corresponde exatamente aos conceitos de fetichismo da mercadoria e reificação do trabalhador.

Materialismo histórico e dialético:

Por materialismo compreende-se a ausência completa de qualquer elemento na vida social que possua natureza incorpórea. Em seus estudos Marx considerou que o materialismo histórico possui algumas premissas, tais como a ausência de autonomia da vida social; a realidade concreta como ponto de partida para análise da vida social; importância do trabalho enquanto processo de transformação da natureza e elemento que põe os atores sociais em relações constantes; importância da natureza para a vida humana, tratando-se de uma relação onde há equivalência. Nesse sentido o materialismo histórico encontra-se definido pelo autor como a forma através da qual os homens de organizam, desde a antiguidade para a produção da vida social, que possui uma base material, sendo, portanto, a vida material responsável pela formação da consciência humana.

Marx identifica nas relações sociais um estado de permanente transformação, um movimento dialético. Ele considera o método dialético como um procedimento científico por ser capaz de explicar as contradições de uma fase de produção material de uma determinada sociedade. Trata-se de um movimento composto por três etapas: tese, antítese e síntese. Sendo a terceira a superação da primeira e da segunda. Movimento este que corresponde à realidade em seus antagonismos, uma vez que nada é estático na vida social.

A compreensão da ideia de totalidade da vida social é muito importante porque em sua perspectiva teórica, Marx considera que as relações entre os homens são determinadas pelas condições materiais. Nesse sentido não existe na estrutura social nenhum elemento isolado, todas as vertentes da vida social se encontram interligadas e em constante movimento, trata-se da infraestrutura e superestrutura de uma determinada sociedade. Localiza-se na infraestrutura a produção econômica da sociedade, que determina a superestrutura social, onde se encontram a estrutura jurídico-política e a estrutura ideológica.

Relações de produção na sociedade moderna:

São as relações de produção que refletem a forma como as pessoas de uma determinada sociedade se organizam para construir os bens que serão utilizados. Tais relações correspondem a uma determinada fase das forças produtivas. Essas, por sua vez, são formadas pelo homem, matéria-prima, ferramentas e técnica. O ser humano é o elemento mais importante das forças produtivas, porque estabelece, por meio do trabalho, a conexão entre os demais elementos. Compreender como são construídas as relações de produção de uma determinada sociedade é muito importante porque torna clara a percepção do funcionamento da totalidade da vida social. As relações de produção são as relações mais importantes da vida social porque determinam as demais relações estabelecidas entre as pessoas, em todas as instituições sociais. Ou seja, a infraestrutura determina a superestrutura (relações de parentesco, leis, religião, ideologias políticas).

Marx denominou modo de produção as relações de produção e as forças produtivas. Estudou diversos modos de produção a fim de compreender relações sociais específicas e identificou que um modo de produção é substituído por outro quando ocorre o desgaste das lutas de classes. Isso significa que as contradições do modo de produção, devido à forma como se dá a apropriação dos produtos gerados, chegaram ao limite, havendo assim a necessidade de construir um novo modo de produção.
Nas relações de produção da sociedade capitalista os produtos são gerados a partir de uma relação de conflito, antagonismo, interdependência e exploração. O operário (proletário) vende a sua força de trabalho em troca de um salário para o proprietário dos meios de produção (burguês). Esse transforma o produto em mercadoria a fim de gerar a mais-valia, que pode ser absoluta ou relativa, que corresponde às horas que o operário produz, mas não recebe.

A mais-valia pode ser absoluta ou relativa. A mais-valia absoluta é extraída a partir do aumento do tempo de trabalho sem aumento no salário. Quando a extração da mais-valia absoluta chega ao limite é possível a extração da mais-valia relativa, através das inovações tecnológicas. Imagine que o operário se recuse a produzir a mais-valia para o burguês, que não venda sua força de trabalho em troca de um salário, ou que deseje cobrar mais caro pela sua mão-de-obra. O que acontece?

O capitalismo faz a manutenção de um exército industrial de reserva através da manutenção do desemprego. Se um funcionário se encontra insatisfeito com as condições de trabalho em que produz, é livre para ficar desempregado e sem dinheiro para suprir suas necessidades básicas, como alimentação e habitação, por exemplo.

Segundo Marx a revolução inglesa, assim como a revolução francesa e a norte-americana possuíam um traço em comum, serviram para consolidar o processo de emancipação da burguesia enquanto classe social em ascensão.

Para o autor a revolução seria o ápice do desgaste do modo de produção capitalista, que culminaria no comunismo. Seria a classe operária responsável por colocar um fim definitivo em todas as possíveis lutas de classes, existentes desde a antiguidade. Assim que chegasse ao poder o proletariado promoveria profundas transformações sociais e morais, construindo uma nova sociedade, em todos os sentidos. Após a revolução caberia ao proletariado a formação de um Estado provisório, que poria fim à propriedade privada dos meios de produção. Esse novo Estado foi denominado for Marx como Ditadura do Proletariado, a fim de evitar um movimento contrarrevolucionário da burguesia. Após esse período seria alcançada a sociedade comunista, onde não haveria a necessidade de um Estado nem a divisão da sociedade em classes sociais.

Marx chamou atenção para a existência de um grupo de pessoas que formava o que denominou lumpemproletariado. Eram pessoas que em tempos de crise formavam um grupo tão desorganizado que tendia a apoiar ideologias contrárias aos interesses do proletariado, favorecendo a classe dominante em suas ações reacionárias.

Desdobramentos da construção teórica de Karl Marx

a. As associações internacionais dos trabalhadores.

Em 1864 foi criada a primeira Associação Internacional dos Trabalhadores, que findou em 1876. Marx era responsável por quase todos os documentos produzidos. Após um conflito com Bakunin, teórico anarquista, Marx e Engels encontraram problemas por causa dos seus seguidores, então decidiram aumentar os poderes do conselho geral. Essa medida fortaleceu Bakunin, que foi expulso do movimento. Marx e Engels sugeriram a mudança da sede do conselho geral para Nova York, o que colocaria fim ao movimento em 1876.

A segunda internacional foi construída em 1889, embora fosse majoritariamente livre de partidos e sindicatos, a ideologia predominante era a marxista. Os anarquistas foram expulsos em 1896. Após o falecimento de Engels destacaram-se Kautsky e Plekhanov. Com a iminência da primeira guerra mundial houve uma crise no interior da organização. O apoio dos principais partidos à guerra deflagrou o fim do movimento, por se tratar de um conflito imperialista, que carecia do estímulo ao nacionalismo. Foi exatamente em 1914 que a associação chegou ao fim.

A terceira internacional teve início em 1919, pelos bolcheviques, após a vitória da revolução russa. Sua dissolução ocorreu em 1943, sob a ditadura de Stálin, após a partilha com seus “aliados”.

A quarta internacional foi fundada por Trotsky em 1938, em oposição à segunda e à terceira internacionais. Ainda existe e possui como premissa a teoria da revolução permanente, defendida por seu fundador.

b. A social-democracia alemã e o Estado de bem-estar social: Edward Bernstein.

Foi membro do partido Social Democrata dos Trabalhadores Alemães, construiu uma teoria de revisão das análises marxistas onde se opôs à revolução pela força, assim como à ditadura do proletariado. Segundo ele os trabalhadores deveriam alcançar o poder político por meio da democracia. A socialdemocracia deveria se organizar no sentido de se tornar um partido socialista, democrático e que promovesse reformas. Suas ideias se tornaram conhecidas como revisionistas.

Contexto histórico de construção da proposta teórica de Bernstein:

No final do século XIX, o liberalismo e o consumismo entraram em crise. O pensamento conservador (teoria das elites) ressurgiu com Vilfredo Pareto, Robert Michels e Gaetano Mosca. Nesse cenário político, o partido comunista mais influente da Europa era o SPD alemão -partido social-democrata.
No SPD alemão, houve um conflito entre Edward Bernstein e Rosa Luxemburgo, em virtude da questão dos créditos de guerra. Rosa Luxemburgo se posicionou contra os créditos de guerra em virtude do internacionalismo da teoria de Karl Marx (materialismo dialético). Ela foi assassinada e Bernstein convenceu os operários a votarem a favor dos créditos de guerra e lutarem pela Alemanha, ou seja, em posicionamento nacionalista.
Bernstein desenvolveu uma releitura da teoria política de Marx, que ficou conhecida como revisionismo. Trata-se de alcançar a máxima igualdade pela democracia burguesa (liberal).

c. Liga Spartacus: Rosa Luxemburg e Karl Liebknech.

Movimento fundado por Rosa Luxemburg e Karl Liebkneck em 1915, cujo nome foi inspirado no nome do líder da maior rebelião de escravos na Roma antiga, Spartacus. Sua maior atividade foi no período em que houve a tentativa de uma revolução comunista na Alemanha. As ações repressoras do poder oficial da Alemanha reprimiram o movimento revolucionário a ambos foram assassinados.

d. Escola de Frankfurt:

A Escola de Frankfurt teve origem na Alemanha, nas décadas de 1920 e 1930. Sua principal premissa foi o desenvolvimento de uma teoria crítica, considerada uma ramificação radical do marxismo. Entre seus principais autores destacaram-se Max Horkheimer, Theodor Adorno e Walter Benjamin. A indústria cultural foi objeto de estudo dos três autores, ou seja, a forma com o capitalismo reproduzia os bens culturais. Horkheimer e Adorno perceberam a indústria cultural como instrumento de alienação que tendia a favorecer o desenvolvimento da sociedade de consumo, ao passo de Benjamin percebeu a contribuição benéfica da indústria cultural. Segundo ele as novas técnicas de reprodução ampliariam as possibilidades de acesso às produções artísticas.
Comparação entre os clássicos da Sociologia: publicados em março de 2013.

SOCIOLOGIA BRASILEIRA

As ideias de Karl Marx chegaram ao Brasil e foram analisadas por diversos intelectuais. Um importante intelectual que pensou a sociedade brasileira considerando a proposta teórica de Karl Marx foi o historiador Caio Prado Junior. Sua primeira publicação foi realizada em 1933, denominada Evolução Política do Brasil. Essa obra foi muito importante porque representa o período em que o autor começou um diálogo com o Partido Comunista do Brasil.

Havia uma discussão na época em que Caio Prado Junior construía suas produções teóricas sobre a possibilidade de o Brasil se encontrar numa etapa semifeudal. Foi nesse período que o PCB, em seu V congresso, considerou que seria necessária a existência de uma revolução burguesa e democrática. Caio Prado não concordou com essa análise do partido porque considerou que as relações produtivas na sociedade brasileira possuíam natureza capitalista. Para ele seria possível mobilizar os trabalhadores através das lutas por melhores condições de trabalho. Esse processo se constituiria na luta de classes de fato.

Outra discussão importante na época da produção do autor foi referente ao caminho adotado para a construção do socialismo. Seria pela via da reforma ou da revolução? Esse debate pode ser compreendido pela história do Partido Social Democrata Alemão. Entre todos os partidos membros da II internacional, o Partido Social Democrata Alemão possuía maior prestígio. Eduard Bernstein era membro do partido e elaborou uma análise sobre a construção teórica de Karl Marx. Em sua revisão se posicionou contrário à revolução pela força, também se opôs à ditadura do proletariado. Bernstein acreditava na democracia e insistia que o partido deveria ser socialista e realizar reformas. Mas no partido existia também uma ilustre pensadora, Rosa Luxemburg, que junto com Karl Liebknech, fundou a Liga Spartacus. Esse nome possui como motivação uma grande rebelião de escravos que aconteceu em Roma. Ambos acreditavam que não deveria haver nenhum tipo de acordo político entre o partido e o governo alemão no tocante à participação dos membros do partido na primeira guerra mundial, por se tratar de um conflito imperialista e, desse modo, não convergir com os interesses do proletariado. O partido, por sua vez, votou a favor dos créditos de guerra e esse foi o motivo do fim da II internacional.

Caio Prado Junior construiu sua produção teórica de acordo com a sua interpretação da realidade brasileira. Acreditava na possibilidade de ascensão do proletariado ao poder, mas considerava que a trajetória deveria ser construída a partir dos elementos empíricos evidentes. Isso significa que a luta armada seria possível, assim como um processo de transição pacífico, desde que a realidade sustentasse o procedimento escolhido.

O autor considerava também que o sistema colonial no Brasil representava um problema porque representava um obstáculo ao desenvolvimento de um Estado Nacional. A existência de um Estado Nacional seria indispensável para assegurar o processo de organização de um capitalismo gestor de conveniências nacionais, principalmente através do estabelecimento de um mercado interno e de uma produção industrial. 

Compreender como as ideias de Marx foram discutidas na sociedade brasileira é muito interessante, mas entender como foi organizado o pensamento conservador é indispensável para uma análise eficiente do cenário político brasileiro.

A construção teórica dos autores conservadores é muito interessante para compreender os desdobramentos da construção teórica de Karl Marx na sociedade brasileira. Vilfredo Pareto, ilustríssimo intelectual, acreditava que os conflitos que existem nas sociedades não ocorrem entre classes, mas entre massa e elite, e somente em períodos revolucionários, até o momento em que os revolucionários são eliminados ou absorvidos pelas elites no exercício de poder. Em momentos de estabilidade política a massa é conduzida pela elite. O processo de ascensão social acontece quando os membros privilegiados da massa conseguem fazer parte da elite. Mas isso não significa que a massa se torna elite, somente alguns membros passam por esse processo. Trata-se da teoria de circulação de elites. A elite é constituída por pessoas talentosas em sua área de formação. Faz parte da elite quem possui status social. A elite mais importante é a elite política, formada nas universidades, são as pessoas responsáveis pela administração da máquina política. São indivíduos cujas ações possuem legitimidade e constroem relações que favorecem suas ações.

Em relação à construção teórica de Karl Marx, Pareto admite que ainda que a propriedade privada seja destruída, a paz entre os homens não pode ser alcançada. Isso acontece porque todas as revoluções levarão a substituição da minoria privilegiada e governante. A história das sociedades humanas é a história da substituição de elites que exercerão poder. Ao realizar análises sobre as origens das quedas das elites em exercício de poder político, percebe que a utilização da força é sempre necessária em alguma proporção. As ações humanas possuem predominantemente motivações irracionais, quem age de modo racional ascende à elite. Desse modo a desigualdade faz parte da natureza humana, uma vez que somente algumas pessoas possuem as habilidades necessárias para fazer parte da elite.