Natureza e cultura na
sociedade brasileira: o olhar científico.
Por qual razão
devemos estudar cultura? Como se pode construir uma leitura da cultura do outro
que não seja marcada por preconceitos ou princípios de exclusão? Perguntas como
essas deram origem ao debate da cultura que temos hoje, debate este que passou por
muitas transições, desde um período onde os antropólogos buscavam reafirmar uma
pretensa superioridade cultural, até o momento em que começaram a acolher a
diversidade cultural como um elemento genuinamente humano.
1-Dos primeiros encontros ao
surgimento da antropologia
Brasil
é o nome do país em que vivemos, mas nem sempre esse lugar teve esse nome. Aqui
moravam as pessoas que popularmente chamamos de índios, que eram os autóctones,
ou seja, as pessoas nativas da terra. Eles viviam com seus costumes, possuíam
sistemas de classificações coletivas próprios, até o momento em que os
Portugueses chegaram e deram início a um processo de ocupação do território, em
torno do ano 1500. O encontro entre portugueses e autóctones
foi marcado pelo “estranhamento”,
que esteve presente na construção das relações de poder em nossa sociedade. Os
portugueses pensavam que o modo como os europeus viviam era “civilizado” e
“correto”. Eles consideravam que o modo de viver dos outros povos era
“inferior”, simplesmente por ser diferente. Esse modo de pensamento fazia parte
daquela época, por isso quando estudamos a história do Brasil devemos ter
cuidado para não cometer anacronismo histórico, isto é, olhar para
o passado sem considerar que a mentalidade era outra, diferente da nossa. Isso
significa que o modo de ver a realidade muda conforme o tempo. Olhar para o
passado é importante para compreender o presente, mas é preciso considerar que
o modo de ver o mundo passa por mudanças que devem ser respeitadas.
Do encontro entre europeus e os diversos
povos da Terra surgiu a Antropologia,
uma área de conhecimento dedicada à compreensão da alteridade, isto é, do outro
que é diferente. Quando falamos sobre o que significa ser civilizado ou
bárbaro, estamos tratando das diferenças entre os povos, no que diz respeito ao
modo como percebem e interagem com o mundo que os cerca. Essa classificação se
traduz no modo como um povo se sente em relação ao outro, superior ou inferior.
O estudo da relação de superioridade e inferioridade no encontro entre
diferentes culturas faz parte Antropologia, que significa estudo
do ser humano. Os primeiros antropólogos surgiram no século XIX e seus
estudos formaram o que hoje conhecemos como evolucionismo.
De acordo com os teóricos evolucionistas
as sociedades europeias eram civilizadas e serviam como modelo para as demais
sociedades, consideradas primitivas. A civilização era equivalente ao que era
melhor, superior, desenvolvido; a sociedade que fosse diferente era
compreendida como primitiva, inferior, com características que a afastavam do
que seria melhor para a humanidade. Dessa forma, haveria uma obrigação dos
europeus de levarem a civilização para os outros povos, o que era chamado
de fardo do homem branco. Essa visão de mundo é definida atualmente
pela Antropologia como etnocêntrica, porque consiste em uma
interpretação das culturas de modo que as organiza hierarquicamente,
considerando que umas são melhores do que as outras. O etnocentrismo fez parte
da teoria da evolução das sociedades humanas, chamada de darwinismo
social. Essa teoria tem origem nas ideias de Charles Darwin, que acreditava
que a humanidade tinha sido resultado da evolução das diversas espécies que
existem na natureza. Naquela época as ideias de Darwin foram utilizadas pelas
pessoas que buscavam entender as sociedades humanas. E assim surgiu o
darwinismo social, onde estava presente o etnocentrismo como explicação para as
diferenças entre as culturas.
2-Referências
teóricas indispensáveis para compreendermos o início da Antropologia
2.1-Auguste Comte (1798 - 1857)
A contribuição de Comte foi
fundamental tanto para o surgimento da Sociologia como disciplina científica
quanto para a Antropologia, na medida em que torna possível entender em suas
obras qual era o modo como os intelectuais compreendiam o mundo naquela época.
Ele era um filósofo francês que pensava as sociedades a partir de três
princípios básicos, a prioridade do todo sobre as partes, o progresso do
conhecimento e o entendimento de que o homem possui características universais
em sua essência.
De acordo a ideia dos princípios
básicos o autor concluiu que todas as sociedades humanas possuem o mesmo
destino cultural. O que o autor compreende por sociedade avançada consiste num
determinado sistema de classificações (cultura) será alcançado por todas as
sociedades de forma progressiva e com a mesma trajetória. Trata-se de uma
perspectiva evolucionista, forma de pensamento predominante na época (século
XIX). Foi a partir da perspectiva evolucionista que o autor desenvolveu a lei
dos três estados:
1. Estado teológico ou fictício, subdividido em
fetichismo, politeísmo e monoteísmo: nesse estágio de evolução os seres humanos
explicam o mundo que o cerca através de histórias que envolvem seres que não se
encontram no mundo em que vivemos. Esses seres que vivem no mundo sobrenatural,
isto é, além do mundo em que vivemos que é natural, material, porque o vemos e
sentimos seus fenômenos, como a chuva, o calor do sol e o vento, por exemplo. É
comum nesse estágio de evolução que a explicação para os fenômenos
desconhecidos seja buscada nos seres imateriais, popularmente chamados de
deuses. Dentro desse entendimento o filósofo destacou três tipos de estágio
teológico/fictício, denominados:
a. fetichismo:
explicação da vida humana a partir de forças sobrenaturais cuja origem se
encontra em animais ou criaturas inanimadas. Isso significa considerar, por
exemplo, que objetos concretos, que fazem parte do cotidiano das pessoas,
possuem vida e poderes. E desse modo seria possível explicar a vida humana e o
mundo que a cerca.
b. politeísmo:
as características da natureza humana possuem sua origem nos deuses. Nesse
sentido acredita-se existem seres num mundo diferente do nosso. Esses seres têm
poderes e vontade própria, além da capacidade de intervir nas relações entre os
homens em nosso mundo.
c. monoteísmo:
há somente em um Deus, que é um ser sobrenatural, uma vez que se encontra em
outro mundo, que possui poderes, vontade própria, podendo intervir nas relações
humanas.
2. Estado metafísico ou abstrato: nesse período os
filósofos se dedicam ao estudo da metafísica, busca pelas causas primeiras e pela
essência dos entes (seres).
Metafísica é o que se localiza além do mundo físico, material, que pode
ser identificado pelos sentidos. A diferença entre o estágio teológico e o
metafísico é que nesse não se buscam explicações em seres que transitam entre o
mundo material (natural) e o mundo imaterial (sobrenatural). Os filósofos
metafísicos buscavam explicações racionais para a origem do mundo que os
cercava. Tais explicações eram buscadas através das ideias racionalmente
construídas, o que não se verifica no estágio teológico, onde a razão é
submetida à vontade dos deuses, por exemplo.
3. Estado positivo ou científico: momento de
substituição da Filosofia pela ciência em sua trajetória de investigação acerca
do princípio e fim do universo. Caberia ao conhecimento científico estabelecer
as leis e regularidade e acontecimento e realidade dos acontecimentos que
pudessem ser observados.
Para
Comte as ciências abstratas se localizam na base das sociedades e delas
dependem as ciências concretas. Foi construída pelo autor uma hierarquia de
disciplinas: matemática, astronomia, física, química, biologia e sociologia.
Entre
todas as disciplinas a sociologia é a mais importante porque se constitui na
síntese das ciências humanas (Filosofia, História, Moral, Psicologia, Política,
Economia). Comte acreditava que o estudo das relações entre as pessoas é a mais
importante produção de conhecimento e dividiu a Sociologia em duas importantes
áreas:
a. Estática
social: pesquisa acerca do que há de permanente nas sociedades, trata-se da
ideia de ordem. Para compreender a
estática social é só lembrar que existem coisas que são iguais em todas as
culturas, porque fazem parte da estrutura social de todas das sociedades
humanas, tais como a distribuição das riquezas, educação dos mais jovens,
relações poder e regras de parentesco.
b. Dinâmica
social: pesquisa acerca do processo de desenvolvimento histórico das
sociedades, trata-se da ideia de
progresso. Para entender o que é dinâmica social basta lembrar que a partir
da estrutura social os seres humanos classificam o que é bom ou ruim para a
vida em sociedade. Trata-se dos sistemas de classificações coletivas. A
dinâmica social, desse modo, corresponde à estratificação social, porque é o
desdobramento da estrutura social. Por exemplo, em todas as culturas os mais
jovens são educados, isso é estrutura social; mas o tipo de educação muda
conforme a época e o lugar, por esse motivo é o desdobramento da estrutura
social, que chamamos de estratificação social, ou seja, o tipo de educação
específico de uma determinada cultura, assim como as relações de poder, distribuição
das riquezas e regras de parentesco.
2.2-Herbert Spencer (1820-1903)
Sociólogo inglês que difundiu o Darwinismo Social. De acordo com essa
perspectiva teórica todas sociedades passam por estágios de evolução, conforme
a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin. De acordo com essa
perspectiva teórica os fenômenos sociais seriam estudados de modo semelhante às
ciências naturais, com os mesmos procedimentos. Essa compreensão evolucionista
das sociedades humanas tinha como matriz as sociedades europeias. Isso
significa que as demais sociedades eram estudadas e suas características
culturais eram comparadas com o modo de viver dos europeus. Através dessas
comparações as sociedades europeias eram classificadas como civilizadas, enquanto as demais eram
classificadas como mais ou menos primitivas,
de acordo com o estágio de evolução em que estivesse.
Hoje já sabemos que as ciências sociais não podem utilizar os mesmos
procedimentos das ciências naturais, porque lida com pessoas, que não possuem as
mesmas reações diante das mesmas situações. Um exemplo dessa impossibilidade é
a comparação entre um procedimento químico para criar um remédio e uma
manifestação popular. A mistura das substâncias químicas terá os resultados
esperados, diferente da manifestação, porque cada pessoa a interpreta de modo
individual. Por esse motivo atualmente podemos afirmar que nas ciências sociais
está presente a subjetividade humana, diferente das ciências naturais, onde
prevalece a objetividade. Enquanto a subjetividade depende da compreensão
individual de cada pessoa, a objetividade independe de como cada pessoa
compreende a realidade que a cerca.
2.3 Edward Burnett Tylor (1832-1917)
Tylor acreditava na
compreensão evolucionista da história da humanidade. De acordo com essa
perspectiva darwinista social as sociedades humanas poderiam ser pensadas a
partir da dualidade entre civilização e
barbárie. Nesse sentido as
sociedades europeias são civilizadas e superiores às demais sociedades humanas.
Ele considerava que o antropólogo deveria classificar as sociedades humanas a
partir de dois limites, de um lado as sociedades europeias e do outro as
sociedades com a máxima quantidade possível de características diferentes. A
alteridade, ou seja, a diferença era tratada por ele como selvageria. Essa
dicotomia entre civilização e barbárie trouxe consequências que estão presentes
até hoje nas sociedades humanas, como a discriminação racial, por exemplo.
2.4 James George Frazer (1854-1941)
Frazer foi responsável pela
criação de uma teoria das religiões, através de uma interpretação generalizada.
Ele acreditava que antes da religião existia a magia. Através da magia os seres
humanos tentaram controlar o mundo que os cercava, mas não conseguiram. Por
causa desse fracasso os seres humanos criaram a religião porque acreditavam que
por meio de sacrifícios e orações seria possível controlar forças que se
localizam além do mundo natural. Trata-se de um processo de conciliação entre
os interesses dos seres humanos, que vivem no mundo natural e os seres que se
encontram no mundo sobrenatural.
Os antropólogos evolucionistas não tinham
contato com as sociedades humanas sobre as quais escreviam. Eles se referiam a
essas pessoas como nativos, com objetivo de dizer que eram inferiores. Seus
escritos eram construídos a partir de relatos de viajantes, pessoas que em suas
viagens tinham contato com os “nativos” e quando retornavam para a Europa
contavam para os antropólogos o que tinham observado. Em virtude da falta de
contato com os nativos, esses antropólogos são considerados “antropólogos de gabinete”.
3-Surgimento da corrente Culturalista
Norte-Americana na Antropologia
No
início do século XX vai surgir um importante antropólogo, Franz Boas. Sua
contribuição para o estudo das culturas é fundamental para entendermos o mundo
em que vivemos hoje. De acordo com esse autor as diferentes culturas que
existem no mundo podem ser comparadas, mas não devemos estabelecer hierarquia a
partir do modo de viver dos europeus. Essa novidade no estudo da Antropologia
recebeu o nome de relativismo cultural.
Os antropólogos adeptos do relativismo
cultural vão se opor ao etnocentrismo que estava presente na perspectiva
evolucionista porque embora aceitassem a comparação entre diferentes culturas,
eram indiscutivelmente contra a classificação de modo hierárquico. O evolucionismo se localiza próximo à
perspectiva etnocêntrica porque julga que existem culturas superiores, que são
as europeias; e culturas inferiores, que são as demais culturas. Quanto
mais próximas das culturas europeias mais civilizadas e menos bárbaras são as
culturas que se encontram entre os extremos considerados civilização e
barbárie. Franz Boas fez uma crítica ao etnocentrismo presente no evolucionismo
quando cria o conceito e relativismo cultural, e assim criou o suporte da
Antropologia Moderna, que tem em Malinowski importante expressão teórica.
A partir deste processo a antropologia ganhou um novo
direcionamento, passando a buscar um afastamento das leituras etnocêntricas e
abraçando os elementos diversos a partir de suas teorias e propostas, veremos a
seguir como cada corrente antropológica corroborou e ampliou esta visão.
3.1 Surgimento da corrente Funcionalista na
Antropologia
Bronislaw Malinowski
(1884-1942)
A contribuição teórica de
Malinowski foi fundamental para a Antropologia Moderna porque ele apresentou
uma novidade, a etnografia, também conhecida como “observação participante”. De acordo com essa proposta o
antropólogo, que também pode ser considerado etnólogo, deve conviver com a
sociedade humana que deseja pesquisar, até que se torne capaz de compreender o
mundo que o cerca conforme os membros do grupo. Para que o antropólogo realize
seu trabalho com sucesso é indispensável que seja realizado o rito de passagem. Trata-se do momento
em que a pessoa não se encontra em sua cultura de origem, mas ainda não faz
parte da cultura onde está vivendo, porque não é compreendido como membro do
grupo. Nesse sentido o rito de passagem torna possível que a pessoa se torne
membro do novo grupo social do qual está inserido.
Outra importante percepção de
Malinowski foi a de quem em todas as culturas existem necessidades que são
fundamentais para o grupo, tais como defesa, alimentação e habitação. Somente
após ser decidido como essas necessidades serão atendidas as demais serão
construídas, como educação e regras de parentesco, por exemplo. Nesse sentido é
possível compreender que para ele as construções sociais existem para atender
primeiro as necessidades biológicas.
3.2 Surgimento da corrente
Estrutural-funcionalista na Antropologia
Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955)
Era um antropólogo muito preocupado com a consolidação
da Antropologia como conhecimento científico. Considerava que o pesquisador
deveria estar atento aos elementos culturais porque possuem significado para o
grupo social. Os símbolos religiosos, por exemplo, possuem significado para os
seguidores de determinada religião. Nesse sentido, tais símbolos fazem
contribuem para a organização e coesão da vida das pessoas em sociedade. Em
seus estudos sobre as regras de parentesco concluiu que eram determinadas pela
ancestralidade em comum.
Para esse autor as sociedades humanas deveriam ser
estudadas como se fossem corpos humanos, porque assim como cada órgão
desempenha uma função específica no corpo humano, nas sociedades humanas as
pessoas desempenham funções que garantem a estabilidade social. Isso significa
que todas as pessoas na vida em sociedade já sabem o que esperar das outras
pessoas nas diversas situações do cotidiano. Imagine uma instituição social
como um hospital, por exemplo, quando entramos já sabemos como devemos agir, do
mesmo modo que sabemos também como as pessoas irão se comportar em suas funções
sociais. Por esse motivo, para o antropólogo, é importante que as sociedades
humanas sejam estudadas considerando suas partes, uma vez que é a integração
delas que vai definir qual é o perfil de determinado grupo social. É assim que
podemos entender como os grupos humanos são diferentes, estudando o
funcionamento das partes que o formam, construindo a sua totalidade. Quando as pessoas desempenham as suas funções sociais
estão tornando visível e concreta a estrutura social. É comum que as pessoas
digam que se sentem bem em suas ações cotidianas. Isso acontece porque a
própria sociedade, com as suas normas e regulamentos, faz com que as pessoas
pensem que estão agindo por livre e espontânea vontade, quando na verdade até
os seus sentimentos de satisfação ou insatisfação são produzidos pelo corpo
social.
3.3 Surgimento da corrente Estruturalista na
Antropologia
Claude Lévi-Strauss (1908-2009)
Lévi-Strauss considerou que
as sociedades humanas são organizadas a partir de estruturas sociais que contém
elementos culturais. Através do estudo desses elementos é possível compreender
como as pessoas de determinado grupo social explicam o mundo que as cerca. Em
sua pesquisa sobre os mitos ele considerou que era muito importante entender o
mito em relação aos demais mitos e elementos culturais. Outro aspecto destacado
pelo autor é a construção das linguagens pelos seres humanos na vida em
sociedade, com objetivo de exercer domínio no mundo.
Em seus estudos sobre regras
de parentesco concluiu que eram construídas quando havia casamento entre uma
mulher de uma família com um homem de outra família. O incesto surge em seu
entendimento como proibido a partir do momento que os seres humanos começam a
produzir cultura, ou seja, sistemas de classificações coletivas sobre que é
certo, errado, justo, injusto... Desse modo é possível afirmar que houve um
momento da história da humanidade em que os homens viviam em estado de
natureza, sem organização social definida.
O rito de passagem era
compreendido pelo antropólogo como momento em que o ser humano se encontra numa
situação em que o faz refletir sobre as suas experiências no mundo em vive.
Nesse momento em que a pessoa pensa sobre sua relação com mundo através de um
rito, está em processo de mudança, que resultará numa nova relação com mundo
que cerca. Desse modo o ser humano vivencia uma mudança tanto no plano do
pensamento quanto nas suas relações com o mundo, porque houve mudança de
interpretação de mundo. Essa é a função do rito de passagem, mudar a
interpretação de mundo, por isso o rito pode ser considerado como uma passagem
simbólica no que diz respeito ao pensamento, porque muda o modo de pensar sobre
o mundo, mudando também as relações das pessoas com as outras pessoas e com
mundo que as cerca.
3.4 Surgimento da corrente
Interpretativa na Antropologia
Clifford Geertz (1926-2006)
Geertz
é considerado o responsável pelo surgimento da Antropologia Interpretativa. Em sua tentativa de reorganização do
conceito de cultura entendia que a cultura possuía sentido semiótico, ou seja,
uma construção de sistemas de comunicação que tornam possível a existência de
um conjunto de classificações coletivas que atribuem sentido ao mundo e às
relações humanas. O comportamento das pessoas são ações simbólicas, repletas de
significados. Desse modo as representações sociais são como reflexos desses
sistemas, onde as ações humanas correspondem a esses sistemas de
classificações, que definem como as pessoas irão se comportar tanto em relação
às outras pessoas quanto diante da natureza. Por esse motivo para esse
antropólogo é fundamental estudar as culturas através da interpretação das
representações sociais, que possuem significados que podem ser identificados
nas ações das pessoas na vida em sociedade.
Para
Geertz o estudo das religiões é importante porque amplia a compreensão da visão
de mundo do grupo pesquisado, uma vez que pretende explicar tanto a realidade
concreta, presente nas relações entre os homens e com a natureza, quanto a
realidade que se localiza além do mundo natural. Nas religiões é possível
encontrar um conjunto de símbolos que orientam a tanto a compreensão de mundo
das pessoas quanto o comportamento na vida em sociedade. A influência da
religião na vida de uma pessoa pode ser tão grande que seu estudo aumenta a
possibilidade de entendimento do antropólogo sobre o que é verdadeiro para
determinado grupo social. Esse estudo deve ser feito considerando os
significados dos símbolos presentes na religião e como eles se relacionam com o
modo como as pessoas percebem o mundo.