sexta-feira, 28 de junho de 2019

Francis Bacon

Francis Bacon: Empirismo

Proposta que defende a experiência empírica como fundamental para a construção do conhecimento.

Sugeriu o método indutivo:


Bacon não acredita no método dedutivo (analítico) de Aristóteles. E sugere o método de indução por observação de repetição dos fatos. Se algo de repete muito pode se tornar uma lei científica.

Limites do método indutivo:


Nem tudo o que se repete pode ser garantido porque em algum momento pode não se repetir.

Recolhimento de fatos/presença:


A hipótese indutiva deve ser construída a partir de uma rigorosa organização dos fatos analisados.

Classificação/Ausência:


Organização das informações até que seja possível encontrar uma relação de causa e efeito.

Comparação das experiências:


Interpretação das informações encontradas com objetivo de confirmar ou não a hipótese.

Utopia do progresso e defesa da ciência progressiva. 

Toda produção científica tende a superação.

Teoria dos ídolos: pré-conceitos que impedem o avanço da ciência. 

Ídolos da tribo: provenientes da cultura. Ex: Patriarcado

Ídolos da caverna: pré-conceito gerados pela individualidade humana. Ex: Certeza pela convicção

Ídolos do mercado: resultado das relações comerciais humanos. Ex: Futilidades da conversas

Ídolos do teatro: crítica ao que foi produzido pela metafísica. Ex: desespero humano (Kier Kegaard)

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Gilberto Freyre (1900-1987)


Estudar o que pensaram os intelectuais brasileiros acerca da formação da sociedade brasileira é fundamental para o entendimento das relações de poder que existem em nossa sociedade atualmente. A leitura da contribuição teórica do Gilberto Freyre nos torna capazes de olhar para a nossa história em relação ao processo que deu origem a quem somos hoje, enquanto sociedade. Ele nos ajuda a identificar os motivos pelos quais as pessoas se comportam de determinado modo quando se encontram em condições de desigualdade. Compreender a questão da democracia racial para Freyre nos faz pensar sobre como nos comportamos com as diferenças étnicas em nossa sociedade, por exemplo. E assim podemos refletir sobre como vivemos na atualidade com a diversidade étnica, tema tão importante e carente de ações que promovam a melhor forma de convivência entre os seres humanos.

Gilberto Freyre compreendeu o encontro das culturas europeia, africana e nativa como algo muito positivo, porque deu origem à cultura brasileira, cuja originalidade é resultado das trocas entre diferentes grupos sociais. E foi dessas trocas que surgiu uma sociedade autêntica, que vive em harmonia, porque os conflitos vivenciados não são suficientes para promover a desagregação da sociedade em sua totalidade. Essa compreensão de Freyre foi construída a partir de uma minuciosa pesquisa sobre o modo de vida tanto da casa grande quanto da senzala, com foco nas regiões do nordeste brasileiro.

Para o autor a colonização não foi feita pelo Estado, nem do indivíduo por iniciativa própria, mas da família. E essa forma de organização social corresponde à forma de produção econômica (canavieira). Nesse aspecto os nativos perderam, porque não sobreviveram com os elementos da sua cultura. Os escravos que conseguiram benefícios foram os que se adaptaram à cultura dos brancos.

Para ele o brasileiro não tem perfil para mandar, prefere obedecer. E isso tem a ver com o tipo de escravidão que foi implementado aqui, que teve a raça como critério e criou mecanismo de perversão entre dominantes e dominados. O mulato é o elemento mais dinâmico da formação da sociedade brasileira, porque traz em si a miscigenação racial e cultural. Nas sociedades onde não houve miscigenação houve conflito. Portanto o autor estava atento aos conflitos existentes de sua época, uma vez que estudou nos Estados Unidos, na universidade de Columbia e isso acontecia lá.

A miscigenação proporcionou ao povo brasileiro uma autenticidade na formação da sociedade, e isso é visto como uma vantagem nossa frente às formações clássicas (europeias) por parte de Freyre, diferente de Oliveira Vianna, que vê essa miscigenação como desvantagem e atraso. Freyre pensa a formação da sociedade patriarcal no Brasil e recusa a análise que se assenta sobre a explicação biológica. Seu modelo teórico tem como base a ação simultânea desses três elementos que formam a sociedade brasileira: patriarcado; etnias e culturas; trópicos. De acordo com sua visão a miscigenação não é só racial, mas também cultural, devido à atuação do patriarcado marcado pela indistinção entre o público e o privado. O papel do Estado foi secundário na formação da sociedade porque estava subordinado, como a Igreja, ao patriarcado. Ele identificou que as trocas entre as culturas e as etnias criou harmonia ao invés de conflito político. Nesse sentido o patriarcado contribuiu para a integração entre pessoas com diferentes visões de mundo e as desigualdades não assumiram um caráter político.

Para Gilberto Freyre a história de todo brasileiro é a história da Casa Grande. Embora tenha formulado seu estudo analisando a sociedade pernambucana, estende suas conclusões para toda a sociedade brasileira. A unidade orgânica de formação da sociedade para Freyre é a família patriarcal, que Oliveira Vianna chama de “clã”. Ambos os autores identificam que as famílias protagonizam as relações sociais em detrimento do escravo, que possui papel social secundário. Nessa realidade não se desenvolve o papel social de “indivíduo” enquanto cidadão que dá origem a sociedade. Para os dois, o Estado e a Igreja não desempenharam papéis significantes, porque eram subordinados aos proprietários rurais.

Freyre utilizou em seus estudos documentos que na época não eram considerados fontes para construir teorias sociais, tais como receitas, cartas e utensílios domésticos. Para ele há dois eixos explicativos: a discriminação entre os efeitos da herança racial e a influência social. Em suas análises considerou que a miscigenação representou um processo de correção da distância social entre a Casa e a Senzala, eliminando as possibilidades de conflito, porque aproximou ambos os grupos sociais, uma vez que atua como centro e ponto de apoio da coesão social, em todos os aspectos.

Diante do processo de modernização no qual se encontrava o Brasil, momento este em que seria possível haver a redução do poder político do patriarcalismo, o sistema encontrou em crise, mas o poder dos senhores não foi totalmente anulado. Entre a Casa Grande e a Senzala houve uma relação democrática em virtude da troca cultural entre as etnias.

Para Freyre não existe religião oficial. Existe é uma religião que se manifesta no cotidiano. Quando a República separa Igreja e Estado o ensino passa a ser laico. A igreja perdeu o poder de formar as consciências das pessoas e, por isso, reformula sua forma de atuação na sociedade, abrindo mão dos elementos originais, determinados pelo Vaticano.

Esse processo de transição foi marcado pelo fim do século XVIII e início do século XIX, momento em que a Metrópole passa a se preocupar com a Colônia. A centralização de poder realizada pela Coroa tem como objetivo limitar os poderes dos patriarcas, sem sucesso. Freyre se refere a uma mudança que atingiu todas as esferas da sociedade. Essa mudança proporcionada com a chegada da família real, em 1808, põe em xeque a família patriarcal, formada ainda na era colonial e segundo Freyre, original. Toda aquela capacidade de equilibrar antagonismo, de corrente do tipo de organização social estabelecida, é posta em xeque. Todo o mundo patriarcal é posto em xeque. É constatada a adaptação do mundo patriarcal ao mundo que surge com seu declínio: urbano e organizado, mas não em torno do senhor. O grande marco desse período é a chegada da corte ao Brasil, porque a casa patriarcal perde muito de suas qualidades e, a partir daí surge o conflito entre as classes.

Conforme o patriarcado entrou em decadência foram estabelecidas novas formas de subordinação. É a urbanização que altera o processo de formação da sociedade brasileira, mas a mudança, entretanto, não se faz pela ruptura. Os personagens do passado são atualizados, se acomodando ao novo processo. Gilberto Freyre constata que o sentido do processo de formação da sociedade brasileira mudou mais no campo teórico do que empírico, ou seja, na realidade concreta. No século XIX ocorreu a europeização de hábitos coletivos da população. Houve um aburguesamento da vida social. Nesse contexto, embora a casa ainda seja o eixo de formação da sociedade, as ruas não pertencem mais aos senhores porque se tornaram ambiente público (rua, praça, festa da igreja, escola). Essa sociedade original, face ao processo de mudança, corre o risco de se perder, em virtude da “ocidentalização”. Em lugares onde o indivíduo é a base da sociedade a família não tem a mesma importância, porque há predomínio do indivíduo enquanto cidadão. A mudança referente ao primeiro processo de urbanização que ocorreu aqui se deu por acomodação e não por ruptura.

2.2-Sobrados e mocambos: tese central construída em torno da raça, classe e religião.

Freyre montou um tipo ideal da população brasileira. A troca de culturas entre as diferentes etnias e o patriarcalismo possuíam aspectos que deram origem a configuração política brasileira. O Brasil se caracteriza pela ordem que tem origem no patriarcado, os conflitos que existem não são capazes de promover rupturas na sociedade, mas a sua integração, por esse motivo as mudanças sociais que acontecem no Brasil são por acomodação. Aqui se trabalha com oposições que convivem e não se excluem, por isso os antagonismos são equilibrados.

Foi a chegada da família real tornou possível o conflito entre senhor e escravo. Nesse contexto de mudanças a base da família patriarcal continua sendo a religião e a escravidão como força produtiva. A decadência do patriarcado além de não anular o poder dos patriarcas torna possível um conflito que não existia, porque o escravo foi substituído pela máquina.

Estado e governo no Brasil.

Relações de poder na Grécia Antiga e no Brasil atual.

     O estudo das relações de poder tem origem na Grécia Antiga, na Cidade-Estado grega Atenas. Naquela época ainda não existia a Ciência Política como disciplina científica. Isso significa que não existia uma área de conhecimento específica, ou seja, exclusiva para o estudo das relações de poder.   

Em Atenas surgiu a primeira organização política onde a participação política dos cidadãos era direta, realizada em uma praça pública, que se chamava Ágora. Mas em Atenas nem todos os habitantes eram considerados cidadãos. Por esse motivo nem todas as pessoas que moravam na cidade podiam participar dos debates públicos na Ágora. As mulheres, os escravos e os estrangeiros não eram considerados cidadãos. Nos debates públicos os cidadãos tratavam de assuntos importantes para a vida das pessoas na cidade. Este modelo foi denominado como Democracia, junção dos termos Demos+Kratos(Povo+ Poder) Esse modelo de democracia é diferente no nosso porque lá na Grécia a participação dos cidadãos era direta. Em nossa democracia os cidadãos escolhem pessoas para decidirem o que será melhor para todas as pessoas na vida em sociedade, e em ocasiões especiais votam diretamente nas leis através de referendos e plebiscitos. 

     Existem alguns tipos de democracia: direta, semidireta, representativa e indireta. Na democracia participativa (direta) os cidadãos decidem por votação o que deve ser feito para o interesse público. Na democracia representativa (indireta) os cidadãos escolhem as pessoas que decidirão o que será melhor para as pessoas que vivem na sociedade. Na democracia semidireta os cidadãos decidem parcialmente o que será feito para os cidadãos que fazem parte da sociedade. A democracia representativa (indireta) pode ser boa ou ruim, em alguns aspectos. Uma característica positiva da democracia representativa é que as pessoas que tomarão as decisões possuem tempo para se dedicar as análises  necessárias para escolher o que  será melhor para o bem comum, ou seja, para a totalidade da vida social. Por outro lado essa forma de governo possui como atributo negativo a possibilidade de corrupção, uma vez que o pequeno grupo de pessoas que toma as decisões pode privilegiar seus interesses pessoais, prejudicando o interesse público, isto é, o bem comum.

No Brasil o voto é obrigatório para as pessoas que tem entre 18 e 70 anos. Com 16 anos e a partir dos 70 anos o voto é facultativo, depende da vontade da pessoa. O lugar onde os cidadãos votam se chama zona eleitoral, o cadastro é feito no cartório eleitoral. Quando se cadastra para votar a pessoa já recebe as informações sobre o lugar onde deve comparecer no dia das eleições. Se no dia da votação o cidadão não estiver na cidade onde está cadastrado deve comparecer a uma zona eleitoral da cidade para justificar seu voto. Mas se no dia das eleições a pessoa não puder justificar, será necessário comparecer, em até sessenta dias, ao cartório eleitoral onde está registrada para justificar sua ausência no dia das eleições. No cartório eleitoral devem ser apresentados os documentos que justifiquem o motivo da ausência. E se não fizer isso pagará uma multa. O cidadão que não efetuar o pagamento da multa terá vários problemas, tais como: impedimento de participação em concurso público; se tiver um emprego público ficará sem salário; não conseguirá empréstimo em instituição financeira do governo; não conseguirá um passaporte para viajar e não poderá renovar matrícula em instituição de ensino do governo. E se a pessoa fizer isso em três eleições seguidas terá o título de eleitor cancelado.

     A população pode participar das decisões políticas através de plebiscitos e referendos. No plebiscito a população é consultada antes da criação de uma norma jurídica. No referendo a população é consultada acerca da aprovação ou não de uma norma jurídica que já tenha sido criada pelo poder legislativo. Em nossa sociedade temos como exemplo o Estatuto do Desarmamento. Em 2005 a população brasileira foi consultada através de um referendo sobre uma lei acerca da comercialização de armas no país. Além do plebiscito e referendo há também a iniciativa popular. Trata-se da possibilidade do cidadão propor, alterar ou pedir o fim de uma norma jurídica vigente em seu país.

O Brasil é uma república federativa !!!

   Estado e governo são coisas diferentes. O conhecimento da forma de Estado e de governo é muito importante para entender o mundo da política em nossa sociedade. Como formas de Estado podemos compreender a unidade (unitarismo) ou pluralidade (federalismo) de tudo o que faz parte do Estado. Aqui no Brasil, por exemplo, temos Estados federados, como o Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Espírito Santo, Acre e Amapá. Por isso há pluralidade na organização da forma do Estado brasileiro. Se fosse somente um Estado seria uma organização unitária ou simples, como existe na França. Fazem parte das formas de Estado o federalismo e o unitarismo. O modelo federalista tem por característica privilegiar uma maior participação dos estados, e em países como um território amplo e diversos, como é o caso do Brasil e dos EUA, acaba sendo um modelo mais justo e coeso, pois evita que uma única visão de nação seja trabalhada por um governo central que pode ser desconectado da necessidade dos estados.

Como forma de governo podemos compreender o modo como é organizado o funcionamento do poder do Estado, ou seja, quantas pessoas tomarão as decisões sobre o que diz respeito ao interesse público, das pessoas que vivem no território. Também faz parte da forma de governo a divisão de poderes, quem desempenhará qual função no exercício de poder. Outro aspecto muito importante da forma de governo é se haverá algum limite ao exercício de poder de quem faz parte do governo. Em nossa sociedade existe a Constituição Federal, divulgada para a população em 1988.

     O Brasil é organizado de acordo com o modelo federativo de Estado e no governo existe o modelo republicano democrático. Quando dizemos que existe república em uma sociedade significa que o governo em suas ações tem como prioridade o interesse público. E quando afirmamos que em uma sociedade existe democracia, consideramos que a população que vive no território exerce influência no cenário político, ou seja, interfere nas decisões que interessam à sociedade. Atualmente vivemos numa sociedade democrática representativa porque através do voto os cidadãos brasileiros escolhem as pessoas que decidirão o que será melhor para as pessoas que vivem na sociedade brasileira.

terça-feira, 18 de junho de 2019

Moral e ética.

 
     A palavra ética tem origem grega e significa ETHOS, que corresponde ao modo como o ser humano deve agir em relação aos outros seres humanos na vida em sociedade.

     A construção da ideia do que é correto nas relações entre as pessoas na vida em sociedade também pode ser compreendida através da moral, que tem origem no latim mores, e significa costumes que fazem parte da vida de uma determinada sociedade. Os costumes, que também podemos chamar de hábito coletivo, são normas de comportamento, transmitidos de pais para filhos, através da educação familiar.

     Em nossa sociedade existem normas morais e normas jurídicas. As normas morais fazem parte do hábito coletivo, são transmitidas através das gerações, de pais para filhos e não são registradas por escrito. As normas jurídicas são diferentes das normas morais porque são registradas por escrito. Um exemplo de norma jurídica é a nossa Constituição Federal Brasileira, um documento muito importante para a nossa sociedade, porque nele constam as regras que devem estar presentes no convívio entre as todas as pessoas. A Constituição Federal brasileira é conhecida como Constituição Cidadã porque nela estão presentes os direitos civis, políticos e sociais de todos os cidadãos brasileiros. Desse modo sabemos que a cidadania é importante para a vida das pessoas em sociedade.
   
     

Obesidade infantil


》Em 1990, a obesidade passou a ser tratada como doença epidêmica.
》Sociólogos: medicalização como possibilidade de controle.
》Novos atores sociais passam a tratar do assunto:
*Representantes do governo
*Representantes das indústrias farmacêutica e alimentícia
*Imprensa
》Para a jornalista Simone Pallone de Figueiredo (Unicamp), o estigma que envolve as pessoas consideradas acima do peso se relaciona com a saúde e com os padrões de beleza socialmente construídos.
*Estigma: saúde e estética
*Possibilidade de anorexia
》Papel da imprensa no processo de construção da epidemia da obesidade.
》Discurso médico como autoridade científica.
》Construção do mito da beleza.
》Para a Sociologia, o cuidado com a saúde não pode se confundir com o mito da beleza.

Fonte: Sítio Diário da Saúde, 25/03/2010.

Pensamento conservador: Edmund Burke.


O que Burke pensava sobre as revoluções:

     As sociedades humanas, desde a antiguidade, passaram por transformações culturais, onde se localizam as relações econômicas e políticas. Essas mudanças produzem transformações nos demais aspectos da vida social. É importante lembrar que todo tipo de transformação social produz algum tipo de conflito, porque sempre haverá quem sinta saudade da época anterior.

     Em nossa sociedade isso se verifica todos os dias em redes sociais, pessoas que consideram que a realidade brasileira era muito melhor no século XX. Na época da Revolução Francesa também existiam pessoas com pensamento crítico em relação ao modo como a sociedade francesa ficou após a revolução. Entre tais pessoas se destacou Edmund Burke, que escreveu sobre a França comparando a realidade antes e depois da revolução.

     Burke era Irlandês, filósofo e participava das relações de poder na sociedade inglesa. Tinha uma postura crítica em relação ao poder régio porque considerava que o rei deveria ter limites, para que na monarquia inglesa não houvesse nenhum tipo de abuso de poder sobre seus súditos. Nessa época a população estava insatisfeita porque existiam pessoas que eram “amigas” do rei e através de relações pessoais tinham privilégios. Imagine que em nossa sociedade o poder legislativo crie leis para beneficiar a si mesmo e aos seus “amigos”, ou que o poder judiciário julgue de modo benevolente com algumas pessoas e muito rigor com outras pessoas porque possui interesses pessoais. Era isso o que acontecia naquela época na Inglaterra entre o rei, seus “amigos” o os demais súditos. Burke acreditava que os partidos políticos poderiam evitar os abusos da monarquia e impedir que os interesses pessoais predominassem prejudicando a impessoalidade que deveria existir nas relações entre o rei e todos os súditos.

     Quando dizemos que as relações são impessoais na política significa que o interesse público é atendido, que todos os cidadãos possuem suas necessidades atendidas pelo governante. É como se o governo brasileiro tivesse a preocupação em atender as necessidades de toda a população e não somente de alguns grupos que existem na sociedade.

     Para Burke a economia deveria ser liberal, defendia que os colonos ingleses tivessem liberdade de comércio, e a política deveria ser conservadora, inclusive acreditava na manutenção das tradições. Em seu argumento existia a comparação entre a sociedade inglesa e francesa. As normas jurídicas as sociedade inglesa teriam sido o resultado de uma evolução histórica, considerando todos os aspectos da vida social inglesa, ou seja, tudo o que está presente na cultura. E as normas jurídicas da sociedade francesa teriam sido resultado de pensamentos, ou seja, de algo imaginado e nunca havia sido vivido pelos franceses.

     Em sua tese de manutenção de tradições Burke compreendia que as pessoas que compõem as sociedades humanas não poderiam construir normas morais e jurídicas sem considerar as pessoas que já existiram e as que ainda existirão, como era a proposta iluminista. Mas quando a palavra “conservador” começa a circular na França, em 1910, a ideia de manutenção das tradições significava manter a organização social que os jacobinos tinham destruído. Atualmente quando falamos em conservador percebemos que há significados, em relação à moral e a economia. Ser conservador moralmente é equivalente a não questionar os costumes que orientam o comportamento das pessoas na vida em sociedade. Uma pessoa considerada conservadora em relação à economia acredita que o Estado deve controlar as relações comerciais em seu território. Além disso, os conservadores entendem que as relações comerciais fazem parte do hábito da história da humanidade, seja por trocas ou por acordos.

     Os conservadores são céticos em relação a associar poder político e imaginação. Eles duvidam de que possa haver idealizações na política. Há oposição entre fazer política a partir da realidade concreta, de modo cético; e de idealizações, imaginando como deve ser a realidade. Essa crítica dos conservadores pode ser compreendida em relação ao que Rousseau escreveu sobre a política, cujo desdobramento é possível encontrar em Karl Marx e Friedrich Engels.

Ideologia em Tracy

Ideologia: análise do termo.

     Há quem acredite que é possível existir política sem ideologia, mas as ações humanas são resultados do que foi pensado, de alguma ideia, porque todos os seres humanos fazem parte de alguma cultura. Todas as pessoas são educadas desde a infância com as visões de mundo do grupo social onde se encontram, ou seja, recebem durante toda a vida informações que possuem algum significado e que orientam as suas ações.
     De acordo com Tracy a Ciência das Ideias ajudaria a promover o uso da razão na política em todas as partes, tais como a criação das leis e o funcionamento do Estado. E isso seria possível em qualquer lugar do mundo, por isso dizemos que é universal. Essa era a proposta do Iluminismo, encontrar explicações racionais para as coisas que existem no mundo inteiro. A Ciência das Ideias recebeu de Tracy o nome de Ideologia, que significa Estudo das Ideias. Esse estudo deveria reorganizar as relações de poder, as relações produtivas e a cultura, de modo a atender as necessidades dos seres humanos. Por isso a Ideologia seria uma área de conhecimento prática, isto é, para a realidade concreta em que as pessoas vivem. A Ideologia também seria responsável pela educação escolar francesa, porque seria capaz de identificar as origens da ignorância humana e assim acabar com os preconceitos que existiam nas sociedades humanas.
     A palavra Ideologia passou a ter um significado negativo quando Napoleão, que era governante da França, começou a perseguir Tracy e as pessoas que pensavam como ele. Essa perseguição aconteceu porque Tracy defendia que a França deveria ser laica, republicana e liberal. Quando uma sociedade é laica significa que as questões relacionadas às decisões políticas não recebem nenhum tipo de influência religiosa.

     Em uma sociedade republicana o governante não pode fazer o que sente vontade, sem qualquer limite, porque os interesses da população não podem ser ignorados. Tracy era defensor do liberalismo econômico, acreditava que a sociedade de mercado não precisava do controle do Estado sobre as mercadorias que entram e saem dos países. Esse controle acontecia através de impostos sobre os valores dos produtos. Quem morasse na França e quisesse um chapéu que era produzido na Inglaterra deveria pagar uma taxa para o Estado francês para ter o chapéu. Esse era o modo que o governo usava para proteger a produção francesa de chapéus. Quem não quisesse o chapéu francês pagaria mais caro. Tracy era contra esse controle do Estado na economia, por isso era liberal. Além do liberalismo econômico Tracy também era defensor da liberdade que as mulheres deveriam ter para escolher seus maridos e dos direitos das mães solteiras.