domingo, 19 de abril de 2020

Max Weber: A ética protestante e o espírito do capitalismo.

A ética protestante e o espírito do capitalismo.

Para viver o espírito do capitalismo o indivíduo precisa ser um asceta. O capitalismo por si mesmo não engendrou a conduta asceta, quem a criou foi o protestantismo, mais especificamente o calvinismo.

Os protestantes são pessoas dotadas de uma disciplina própria da religião. Esse ethos diante da vida e do trabalho favoreceu o desenvolvimento do capitalismo nas sociedades cuja religião predominante foi a protestante.

O tipo ideal de conduta religiosa capaz de promover o desenvolvimento do capitalismo qualitativamente foi a protestante calvinista. O ascetismo católico e luterano não foi capaz de contribuir significativamente porque para o primeiro deve ser esperada uma recompensa após a morte, e para o segundo a ação humana é dispensada como elemento que torna possível a salvação, reafirmando a concepção tradicionalista da vida na Terra.

Na Alemanha do tempo de Weber os homens de negócios bem sucedidos, proprietários de capital,
assim como os trabalhadores mais bem sucedidos em sua carreira profissional eram, em sua maioria, protestantes.

A reforma protestante promoveu a inovação das formas de controle sobre o cotidiano das pessoas. Isso aconteceu porque diferente dos católicos, que preferiam, majoritariamente, a aprendizagem oferecida pelos ginásios humanísticos, os protestantes optavam, em sua maioria, pelo ensino ofertado em instituições que valorizavam o saber técnico para execução de funções comerciais e industriais. 

Nesse contexto social o homem encontra-se envolvido pela ideologia de que a aquisição de dinheiro é a finalidade da vida, mas não se trata de ganhar dinheiro de qualquer modo, mas de forma honesta, de acordo com parâmetros estabelecidos em leis instituídas. Esse tipo de aquisição de dinheiro é reflexo do modelo ensino a que o protestante foi submetido, ao formato de educação que recebeu. A disciplina foi indispensável para o êxito dos protestantes na nova ordem econômica.

A aquisição do dinheiro não destinada à conquista de bens materiais, mas para realizar a multiplicação por meio da maximização constante do lucro.

A honestidade também foi importantíssima para o desenvolvimento do capitalismo. Weber identificou que, onde o desenvolvimento burguês-capitalista, de acordo com os padrões ocidentais, se encontrava atrasado, as pessoas não se preocupavam em ganhar dinheiro de modo honesto em relação às leis vigentes.

O capitalismo não é um sistema, mas, sobretudo, uma ação racional relativa a fim, ou seja, à maximização constante do lucro na moderna sociedade capitalista. A principal motivação para o capitalismo é o seu “espírito”, fazer do capitalismo um valor em si mesmo, na medida em que usa o dinheiro com a finalidade de gerar mais dinheiro. Essa perspectiva tem origem no modo de vida calvinista. O ethos foi o hábito proveniente de uma educação que criou valores, normatizou comportamentos e atitudes diante da vida e do trabalho.

O protestante é o sujeito coletivo, ainda que a sua ação seja individual, porque o social só existe se cada um vivê-lo. Nesse caso o espírito do capitalismo só existe se o sujeito, em ação individual, viver a sua representação. Porque toda e qualquer criação carece de atores sociais para representá-la. Mas não se trata aqui de qualquer protestantismo, mas um tipo específico, cuja ação dos seus membros é racional relativa a valores, que não exclui a existência de uma finalidade, que é a salvação.

Para o católico a sua igreja detinha o poder de determinar quem seria salvo, o absolvia e realizava um sistema de compensações, para o calvinista sua vida deveria corresponder a um método específico de conduta, ou seja, uma rígida disciplina. Era uma conduta que conduzia o cristão à salvação. Houve a substituição da ética católica, que consistia na existência de uma aristocracia espiritual dos monges, pela ética da predestinação. Ao contrário dos monges, que ocupavam uma posição social à parte do mundo, os protestantes predestinados eram pessoas que formavam um novo segmento social, igualmente valorizado por Deus, mas inseridos no mundo.

No processo de construção da ética asceta protestante calvinista foi realizada uma sistematização das informações contidas no Velho Testamento, que embora possuísse uma moral tradicionalista, estavam também componentes que favoreceram o desenvolvimento do pequeno-burguês, principalmente nos livros intitulados Salmos e Provérbios. A raiz do perfil utilitário da ética calvinista localiza-se no ideal de vocação como área estabelecida para a realização de determinada atividade.

A doutrina da predestinação possui natureza na convicção de Calvino acerca da sua salvação, que estava centrada na confiança depositada em Cristo. Era a fé persistente, em última instância, o único elemento capaz de diferenciar os eleitos dos não eleitos, uma vez que as experiências de ambos podem ser semelhantes.

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