terça-feira, 21 de abril de 2020

Antropologia


Natureza e cultura na sociedade brasileira: o olhar científico.


Por qual razão devemos estudar cultura? Como se pode construir uma leitura da cultura do outro que não seja marcada por preconceitos ou princípios de exclusão? Perguntas como essas deram origem ao debate da cultura que temos hoje, debate este que passou por muitas transições, desde um período onde os antropólogos buscavam reafirmar uma pretensa superioridade cultural, até o momento em que começaram a acolher a diversidade cultural como um elemento genuinamente humano.


1-Dos primeiros encontros ao surgimento da antropologia

     Brasil é o nome do país em que vivemos, mas nem sempre esse lugar teve esse nome. Aqui moravam as pessoas que popularmente chamamos de índios, que eram os autóctones, ou seja, as pessoas nativas da terra. Eles viviam com seus costumes, possuíam sistemas de classificações coletivas próprios, até o momento em que os Portugueses chegaram e deram início a um processo de ocupação do território, em torno do ano 1500.   O encontro entre portugueses e autóctones foi marcado pelo “estranhamento”, que esteve presente na construção das relações de poder em nossa sociedade. Os portugueses pensavam que o modo como os europeus viviam era “civilizado” e “correto”. Eles consideravam que o modo de viver dos outros povos era “inferior”, simplesmente por ser diferente. Esse modo de pensamento fazia parte daquela época, por isso quando estudamos a história do Brasil devemos ter cuidado para não cometer anacronismo histórico, isto é, olhar para o passado sem considerar que a mentalidade era outra, diferente da nossa. Isso significa que o modo de ver a realidade muda conforme o tempo. Olhar para o passado é importante para compreender o presente, mas é preciso considerar que o modo de ver o mundo passa por mudanças que devem ser respeitadas.

     Do encontro entre europeus e os diversos povos da Terra surgiu a Antropologia, uma área de conhecimento dedicada à compreensão da alteridade, isto é, do outro que é diferente. Quando falamos sobre o que significa ser civilizado ou bárbaro, estamos tratando das diferenças entre os povos, no que diz respeito ao modo como percebem e interagem com o mundo que os cerca. Essa classificação se traduz no modo como um povo se sente em relação ao outro, superior ou inferior. O estudo da relação de superioridade e inferioridade no encontro entre diferentes culturas faz parte Antropologia, que significa estudo do ser humano. Os primeiros antropólogos surgiram no século XIX e seus estudos formaram o que hoje conhecemos como evolucionismo.

     De acordo com os teóricos evolucionistas as sociedades europeias eram civilizadas e serviam como modelo para as demais sociedades, consideradas primitivas. A civilização era equivalente ao que era melhor, superior, desenvolvido; a sociedade que fosse diferente era compreendida como primitiva, inferior, com características que a afastavam do que seria melhor para a humanidade. Dessa forma, haveria uma obrigação dos europeus de levarem a civilização para os outros povos, o que era chamado de fardo do homem branco. Essa visão de mundo é definida atualmente pela Antropologia como etnocêntrica, porque consiste em uma interpretação das culturas de modo que as organiza hierarquicamente, considerando que umas são melhores do que as outras. O etnocentrismo fez parte da teoria da evolução das sociedades humanas, chamada de darwinismo social. Essa teoria tem origem nas ideias de Charles Darwin, que acreditava que a humanidade tinha sido resultado da evolução das diversas espécies que existem na natureza. Naquela época as ideias de Darwin foram utilizadas pelas pessoas que buscavam entender as sociedades humanas. E assim surgiu o darwinismo social, onde estava presente o etnocentrismo como explicação para as diferenças entre as culturas.
    
2-Referências teóricas indispensáveis para compreendermos o início da Antropologia

2.1-Auguste Comte (1798 - 1857)

A contribuição de Comte foi fundamental tanto para o surgimento da Sociologia como disciplina científica quanto para a Antropologia, na medida em que torna possível entender em suas obras qual era o modo como os intelectuais compreendiam o mundo naquela época. Ele era um filósofo francês que pensava as sociedades a partir de três princípios básicos, a prioridade do todo sobre as partes, o progresso do conhecimento e o entendimento de que o homem possui características universais em sua essência.

De acordo a ideia dos princípios básicos o autor concluiu que todas as sociedades humanas possuem o mesmo destino cultural. O que o autor compreende por sociedade avançada consiste num determinado sistema de classificações (cultura) será alcançado por todas as sociedades de forma progressiva e com a mesma trajetória. Trata-se de uma perspectiva evolucionista, forma de pensamento predominante na época (século XIX). Foi a partir da perspectiva evolucionista que o autor desenvolveu a lei dos três estados:


1. Estado teológico ou fictício, subdividido em fetichismo, politeísmo e monoteísmo: nesse estágio de evolução os seres humanos explicam o mundo que o cerca através de histórias que envolvem seres que não se encontram no mundo em que vivemos. Esses seres que vivem no mundo sobrenatural, isto é, além do mundo em que vivemos que é natural, material, porque o vemos e sentimos seus fenômenos, como a chuva, o calor do sol e o vento, por exemplo. É comum nesse estágio de evolução que a explicação para os fenômenos desconhecidos seja buscada nos seres imateriais, popularmente chamados de deuses. Dentro desse entendimento o filósofo destacou três tipos de estágio teológico/fictício, denominados:

a. fetichismo: explicação da vida humana a partir de forças sobrenaturais cuja origem se encontra em animais ou criaturas inanimadas. Isso significa considerar, por exemplo, que objetos concretos, que fazem parte do cotidiano das pessoas, possuem vida e poderes. E desse modo seria possível explicar a vida humana e o mundo que a cerca.

b. politeísmo: as características da natureza humana possuem sua origem nos deuses. Nesse sentido acredita-se existem seres num mundo diferente do nosso. Esses seres têm poderes e vontade própria, além da capacidade de intervir nas relações entre os homens em nosso mundo.

c. monoteísmo: há somente em um Deus, que é um ser sobrenatural, uma vez que se encontra em outro mundo, que possui poderes, vontade própria, podendo intervir nas relações humanas.

2. Estado metafísico ou abstrato: nesse período os filósofos se dedicam ao estudo da metafísica, busca pelas causas primeiras e pela essência dos entes (seres).

     Metafísica é o que se localiza além do mundo físico, material, que pode ser identificado pelos sentidos. A diferença entre o estágio teológico e o metafísico é que nesse não se buscam explicações em seres que transitam entre o mundo material (natural) e o mundo imaterial (sobrenatural). Os filósofos metafísicos buscavam explicações racionais para a origem do mundo que os cercava. Tais explicações eram buscadas através das ideias racionalmente construídas, o que não se verifica no estágio teológico, onde a razão é submetida à vontade dos deuses, por exemplo.

3. Estado positivo ou científico: momento de substituição da Filosofia pela ciência em sua trajetória de investigação acerca do princípio e fim do universo. Caberia ao conhecimento científico estabelecer as leis e regularidade e acontecimento e realidade dos acontecimentos que pudessem ser observados.

     Para Comte as ciências abstratas se localizam na base das sociedades e delas dependem as ciências concretas. Foi construída pelo autor uma hierarquia de disciplinas: matemática, astronomia, física, química, biologia e sociologia.

     Entre todas as disciplinas a sociologia é a mais importante porque se constitui na síntese das ciências humanas (Filosofia, História, Moral, Psicologia, Política, Economia). Comte acreditava que o estudo das relações entre as pessoas é a mais importante produção de conhecimento e dividiu a Sociologia em duas importantes áreas:

a. Estática social: pesquisa acerca do que há de permanente nas sociedades, trata-se da ideia de ordem. Para compreender a estática social é só lembrar que existem coisas que são iguais em todas as culturas, porque fazem parte da estrutura social de todas das sociedades humanas, tais como a distribuição das riquezas, educação dos mais jovens, relações poder e regras de parentesco.

Caixa de texto: Curiosidade!!

Comte realizou a ruptura com a construção teórica contratualista, segundo a qual os indivíduos dão origem à sociedade, mas o contrário. Com a intenção de reorganizar as instituições dilaceradas pelas revoluções francesa e industrial, tanto Saint- Simon quanto Comte dedicaram-se a pensar acerca da possibilidade de criação de uma religião orientada por uma moral que fosse capaz de promover a solidariedade necessária à nova ordem social, política e econômica. No Brasil a construção teórica positivista influenciou as ideias que motivaram o processo de independência, cuja premissa se encontra na bandeira nacional: ordem e progresso. Nesse caso ordem significa que existe em nosso país enquanto estrutura social; e progresso corresponde à crença de que o progresso científico seria excelente para o desenvolvimento do país. Nessa época que as pessoas acreditavam que o progresso da ciência seria suficiente para o desenvolvimento das sociedades humanas.

b. Dinâmica social: pesquisa acerca do processo de desenvolvimento histórico das sociedades, trata-se da ideia de progresso. Para entender o que é dinâmica social basta lembrar que a partir da estrutura social os seres humanos classificam o que é bom ou ruim para a vida em sociedade. Trata-se dos sistemas de classificações coletivas. A dinâmica social, desse modo, corresponde à estratificação social, porque é o desdobramento da estrutura social. Por exemplo, em todas as culturas os mais jovens são educados, isso é estrutura social; mas o tipo de educação muda conforme a época e o lugar, por esse motivo é o desdobramento da estrutura social, que chamamos de estratificação social, ou seja, o tipo de educação específico de uma determinada cultura, assim como as relações de poder, distribuição das riquezas e regras de parentesco.

2.2-Herbert Spencer (1820-1903)

Sociólogo inglês que difundiu o Darwinismo Social. De acordo com essa perspectiva teórica todas sociedades passam por estágios de evolução, conforme a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin. De acordo com essa perspectiva teórica os fenômenos sociais seriam estudados de modo semelhante às ciências naturais, com os mesmos procedimentos. Essa compreensão evolucionista das sociedades humanas tinha como matriz as sociedades europeias. Isso significa que as demais sociedades eram estudadas e suas características culturais eram comparadas com o modo de viver dos europeus. Através dessas comparações as sociedades europeias eram classificadas como civilizadas, enquanto as demais eram classificadas como mais ou menos primitivas, de acordo com o estágio de evolução em que estivesse.

Hoje já sabemos que as ciências sociais não podem utilizar os mesmos procedimentos das ciências naturais, porque lida com pessoas, que não possuem as mesmas reações diante das mesmas situações. Um exemplo dessa impossibilidade é a comparação entre um procedimento químico para criar um remédio e uma manifestação popular. A mistura das substâncias químicas terá os resultados esperados, diferente da manifestação, porque cada pessoa a interpreta de modo individual. Por esse motivo atualmente podemos afirmar que nas ciências sociais está presente a subjetividade humana, diferente das ciências naturais, onde prevalece a objetividade. Enquanto a subjetividade depende da compreensão individual de cada pessoa, a objetividade independe de como cada pessoa compreende a realidade que a cerca.

2.3 Edward Burnett Tylor (1832-1917)

Tylor acreditava na compreensão evolucionista da história da humanidade. De acordo com essa perspectiva darwinista social as sociedades humanas poderiam ser pensadas a partir da dualidade entre civilização e barbárie. Nesse sentido as sociedades europeias são civilizadas e superiores às demais sociedades humanas. Ele considerava que o antropólogo deveria classificar as sociedades humanas a partir de dois limites, de um lado as sociedades europeias e do outro as sociedades com a máxima quantidade possível de características diferentes. A alteridade, ou seja, a diferença era tratada por ele como selvageria. Essa dicotomia entre civilização e barbárie trouxe consequências que estão presentes até hoje nas sociedades humanas, como a discriminação racial, por exemplo.

2.4 James George Frazer  (1854-1941)

Frazer foi responsável pela criação de uma teoria das religiões, através de uma interpretação generalizada. Ele acreditava que antes da religião existia a magia. Através da magia os seres humanos tentaram controlar o mundo que os cercava, mas não conseguiram. Por causa desse fracasso os seres humanos criaram a religião porque acreditavam que por meio de sacrifícios e orações seria possível controlar forças que se localizam além do mundo natural. Trata-se de um processo de conciliação entre os interesses dos seres humanos, que vivem no mundo natural e os seres que se encontram no mundo sobrenatural.

     Os antropólogos evolucionistas não tinham contato com as sociedades humanas sobre as quais escreviam. Eles se referiam a essas pessoas como nativos, com objetivo de dizer que eram inferiores. Seus escritos eram construídos a partir de relatos de viajantes, pessoas que em suas viagens tinham contato com os “nativos” e quando retornavam para a Europa contavam para os antropólogos o que tinham observado. Em virtude da falta de contato com os nativos, esses antropólogos são considerados “antropólogos de gabinete”.

3-Surgimento da corrente Culturalista Norte-Americana na Antropologia
    
     No início do século XX vai surgir um importante antropólogo, Franz Boas. Sua contribuição para o estudo das culturas é fundamental para entendermos o mundo em que vivemos hoje. De acordo com esse autor as diferentes culturas que existem no mundo podem ser comparadas, mas não devemos estabelecer hierarquia a partir do modo de viver dos europeus. Essa novidade no estudo da Antropologia recebeu o nome de relativismo cultural.

     Os antropólogos adeptos do relativismo cultural vão se opor ao etnocentrismo que estava presente na perspectiva evolucionista porque embora aceitassem a comparação entre diferentes culturas, eram indiscutivelmente contra a classificação de modo hierárquico. O evolucionismo se localiza próximo à perspectiva etnocêntrica porque julga que existem culturas superiores, que são as europeias; e culturas inferiores, que são as demais culturas. Quanto mais próximas das culturas europeias mais civilizadas e menos bárbaras são as culturas que se encontram entre os extremos considerados civilização e barbárie. Franz Boas fez uma crítica ao etnocentrismo presente no evolucionismo quando cria o conceito e relativismo cultural, e assim criou o suporte da Antropologia Moderna, que tem em Malinowski importante expressão teórica.
            A partir deste processo a antropologia ganhou um novo direcionamento, passando a buscar um afastamento das leituras etnocêntricas e abraçando os elementos diversos a partir de suas teorias e propostas, veremos a seguir como cada corrente antropológica corroborou e ampliou esta visão.

3.1  Surgimento da corrente Funcionalista na Antropologia

Bronislaw Malinowski (1884-1942)

A contribuição teórica de Malinowski foi fundamental para a Antropologia Moderna porque ele apresentou uma novidade, a etnografia, também conhecida como “observação participante”. De acordo com essa proposta o antropólogo, que também pode ser considerado etnólogo, deve conviver com a sociedade humana que deseja pesquisar, até que se torne capaz de compreender o mundo que o cerca conforme os membros do grupo. Para que o antropólogo realize seu trabalho com sucesso é indispensável que seja realizado o rito de passagem. Trata-se do momento em que a pessoa não se encontra em sua cultura de origem, mas ainda não faz parte da cultura onde está vivendo, porque não é compreendido como membro do grupo. Nesse sentido o rito de passagem torna possível que a pessoa se torne membro do novo grupo social do qual está inserido.

Outra importante percepção de Malinowski foi a de quem em todas as culturas existem necessidades que são fundamentais para o grupo, tais como defesa, alimentação e habitação. Somente após ser decidido como essas necessidades serão atendidas as demais serão construídas, como educação e regras de parentesco, por exemplo. Nesse sentido é possível compreender que para ele as construções sociais existem para atender primeiro as necessidades biológicas.

3.2 Surgimento da corrente Estrutural-funcionalista na Antropologia

Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955)

Era um antropólogo muito preocupado com a consolidação da Antropologia como conhecimento científico. Considerava que o pesquisador deveria estar atento aos elementos culturais porque possuem significado para o grupo social. Os símbolos religiosos, por exemplo, possuem significado para os seguidores de determinada religião. Nesse sentido, tais símbolos fazem contribuem para a organização e coesão da vida das pessoas em sociedade. Em seus estudos sobre as regras de parentesco concluiu que eram determinadas pela ancestralidade em comum.

Para esse autor as sociedades humanas deveriam ser estudadas como se fossem corpos humanos, porque assim como cada órgão desempenha uma função específica no corpo humano, nas sociedades humanas as pessoas desempenham funções que garantem a estabilidade social. Isso significa que todas as pessoas na vida em sociedade já sabem o que esperar das outras pessoas nas diversas situações do cotidiano. Imagine uma instituição social como um hospital, por exemplo, quando entramos já sabemos como devemos agir, do mesmo modo que sabemos também como as pessoas irão se comportar em suas funções sociais. Por esse motivo, para o antropólogo, é importante que as sociedades humanas sejam estudadas considerando suas partes, uma vez que é a integração delas que vai definir qual é o perfil de determinado grupo social. É assim que podemos entender como os grupos humanos são diferentes, estudando o funcionamento das partes que o formam, construindo a sua totalidade. Quando as pessoas desempenham as suas funções sociais estão tornando visível e concreta a estrutura social. É comum que as pessoas digam que se sentem bem em suas ações cotidianas. Isso acontece porque a própria sociedade, com as suas normas e regulamentos, faz com que as pessoas pensem que estão agindo por livre e espontânea vontade, quando na verdade até os seus sentimentos de satisfação ou insatisfação são produzidos pelo corpo social.

3.3   Surgimento da corrente Estruturalista na Antropologia

Claude Lévi-Strauss (1908-2009)

Lévi-Strauss considerou que as sociedades humanas são organizadas a partir de estruturas sociais que contém elementos culturais. Através do estudo desses elementos é possível compreender como as pessoas de determinado grupo social explicam o mundo que as cerca. Em sua pesquisa sobre os mitos ele considerou que era muito importante entender o mito em relação aos demais mitos e elementos culturais. Outro aspecto destacado pelo autor é a construção das linguagens pelos seres humanos na vida em sociedade, com objetivo de exercer domínio no mundo.

Em seus estudos sobre regras de parentesco concluiu que eram construídas quando havia casamento entre uma mulher de uma família com um homem de outra família. O incesto surge em seu entendimento como proibido a partir do momento que os seres humanos começam a produzir cultura, ou seja, sistemas de classificações coletivas sobre que é certo, errado, justo, injusto... Desse modo é possível afirmar que houve um momento da história da humanidade em que os homens viviam em estado de natureza, sem organização social definida.

O rito de passagem era compreendido pelo antropólogo como momento em que o ser humano se encontra numa situação em que o faz refletir sobre as suas experiências no mundo em vive. Nesse momento em que a pessoa pensa sobre sua relação com mundo através de um rito, está em processo de mudança, que resultará numa nova relação com mundo que cerca. Desse modo o ser humano vivencia uma mudança tanto no plano do pensamento quanto nas suas relações com o mundo, porque houve mudança de interpretação de mundo. Essa é a função do rito de passagem, mudar a interpretação de mundo, por isso o rito pode ser considerado como uma passagem simbólica no que diz respeito ao pensamento, porque muda o modo de pensar sobre o mundo, mudando também as relações das pessoas com as outras pessoas e com mundo que as cerca.

3.4 Surgimento da corrente Interpretativa na Antropologia

Clifford Geertz (1926-2006)

Geertz é considerado o responsável pelo surgimento da Antropologia Interpretativa. Em sua tentativa de reorganização do conceito de cultura entendia que a cultura possuía sentido semiótico, ou seja, uma construção de sistemas de comunicação que tornam possível a existência de um conjunto de classificações coletivas que atribuem sentido ao mundo e às relações humanas. O comportamento das pessoas são ações simbólicas, repletas de significados. Desse modo as representações sociais são como reflexos desses sistemas, onde as ações humanas correspondem a esses sistemas de classificações, que definem como as pessoas irão se comportar tanto em relação às outras pessoas quanto diante da natureza. Por esse motivo para esse antropólogo é fundamental estudar as culturas através da interpretação das representações sociais, que possuem significados que podem ser identificados nas ações das pessoas na vida em sociedade.

Para Geertz o estudo das religiões é importante porque amplia a compreensão da visão de mundo do grupo pesquisado, uma vez que pretende explicar tanto a realidade concreta, presente nas relações entre os homens e com a natureza, quanto a realidade que se localiza além do mundo natural. Nas religiões é possível encontrar um conjunto de símbolos que orientam a tanto a compreensão de mundo das pessoas quanto o comportamento na vida em sociedade. A influência da religião na vida de uma pessoa pode ser tão grande que seu estudo aumenta a possibilidade de entendimento do antropólogo sobre o que é verdadeiro para determinado grupo social. Esse estudo deve ser feito considerando os significados dos símbolos presentes na religião e como eles se relacionam com o modo como as pessoas percebem o mundo.

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