domingo, 22 de junho de 2025

 Como se formam as famílias?

A palavra "família" tem origem no termo latino familia, que, por sua vez, deriva de famulus, que significa "servo" ou "escravo doméstico". Na Roma Antiga, a familia não se restringia apenas aos laços consanguíneos, mas englobava todos os membros da casa, incluindo servos e escravos, sob a autoridade do chefe familiar, o pater familias. 

Com o tempo, o conceito de família evoluiu, e hoje, a palavra se refere ao grupo de pessoas unidas por laços de parentesco, casamento, afetividade ou adoção. Apesar da origem com conotação de servidão, a palavra família carrega atualmente um forte significado de união, afeto, apoio e pertencimento. 

Em resumo, a palavra família tem raízes no latim familia, que originalmente se referia ao conjunto de pessoas sob o domínio de um chefe de família, incluindo servos e escravos. No entanto, o termo evoluiu para representar as relações familiares modernas, baseadas em laços de parentesco, afetividade e convivência.

Na sociologia, a família é entendida como uma instituição social fundamental, composta por pessoas unidas por laços biológicos, afetivos ou legais, e que desempenha papéis cruciais na socialização inicial e no desenvolvimento dos indivíduos. A família evoluiu ao longo do tempo, com diferentes tipos surgindo e suas funções se adaptando às mudanças sociais, econômicas e culturais. 

Conceito de família na sociologia:

·         Instituição social:

A família é reconhecida como uma das instituições sociais mais antigas e importantes, moldando valores, normas e comportamentos. 

·         Laços:

Pode ser definida por laços biológicos (parentesco de sangue), afetivos (laços emocionais) ou legais (casamento, adoção). 

·         Socialização:

A família é considerada a primeira e mais importante agência de socialização, responsável por transmitir cultura, valores e normas sociais aos seus membros, especialmente às crianças. 

·         Evolução:

O conceito de família não é estático, tendo passado por transformações ao longo da história, com diferentes tipos de famílias surgindo em diferentes contextos sociais e culturais. 

·         Funções:

Além da socialização, a família desempenha outras funções importantes, como proteção, cuidado, apoio emocional e econômico, e transmissão de identidade. 

·         Abordagens:

A sociologia analisa a família através de diferentes abordagens teóricas, como a funcionalista, a marxista e a interacionista, cada uma com suas próprias perspectivas sobre a estrutura e o funcionamento familiar. 

·         Diversidade:

A família contemporânea é caracterizada pela diversidade de suas configurações, incluindo famílias nucleares, extensas, monoparentais, homoafetivas, entre outras. 

 A família como objeto de estudo:

A sociologia da família investiga diversos aspectos da vida familiar, como:

·         Estrutura familiar:

Como as famílias são formadas, organizadas e se transformam ao longo do tempo. 

·         Funções familiares:

Quais são as funções desempenhadas pela família na sociedade e em relação aos seus membros. 

·         Relações familiares:

As relações entre os membros da família, incluindo relações de casal, pais e filhos, e relações com outros parentes. 

·         Impacto da família:

O impacto da família na vida dos seus membros, incluindo o desenvolvimento social, emocional e psicológico. 

·         Políticas públicas:

O estudo da família também se relaciona com as políticas públicas voltadas para a família e o bem-estar familiar. 

 Os diversos tipos de famílias

Existem diversos tipos de famílias, e a definição tradicional de família, composta por pai, mãe e filhos, não é mais a única forma reconhecida. A família pode ser nuclear (pais e filhos), extensa (inclui parentes como avós e tios), monoparental (um único responsável), adotiva, homoafetiva (pais do mesmo sexo) e reconstituída (casais com filhos de uniões anteriores), entre outras.

Segundo o artigo 226 da Constituição da República de 1988, a família é compreendida como a base da sociedade e recebe uma proteção especial do Estado.

Ao longo dos anos, o significado de família vem sendo alterado. A família tradicional, família nuclear, composta por pai, provedor da casa; mãe, cuidadora da família, e seus filhos foi sendo substituída por novos tipos de família.

Atualmente, o entendimento jurídico sobre a família comporta vários tipos de agregado familiar e visa dar conta de toda a complexidade dos fatores que unem as pessoas.

1. Família Nuclear: Pai, mãe e filhos.

2. Família Extensa: Inclui parentes como avós, tios, primos, etc.

3. Família Monoparental: Um dos pais com seus filhos.

4. Família Homoafetiva: Casais do mesmo sexo, com ou sem filhos.

5. Família Reconstituída: Casais com filhos de relacionamentos anteriores.

6. Família Anaparental: Sem pais, formada apenas por irmãos.

7. Família Adotiva: Família que adota uma criança.

8. Família Eudemonista: Unida pela busca da felicidade e laços afetivos, independente de consanguinidade.

9. Família Paralela/Simultânea: Uma pessoa com duas relações familiares ao mesmo tempo. 

10. Família matrimonial : A família matrimonial comporta a ideia tradicional de família, constituída a partir da oficialização do matrimônio (casamento). Na lei vigente, a família matrimonial compreende os casamentos civis e religiosos, podendo ser hétero ou homoafetivo.

11. Família informal: Família informal é o termo utilizado para os agregados familiares formados a partir da união estável entre seus elementos. Esse tipo de família recebe todo o tipo de amparo legal mesmo sem a oficialização do matrimônio.

12. Família unipessoal: As famílias unipessoais cumprem uma função jurídica importante por se tratarem de pessoas que vivem sozinhas (pessoas solteiras, viúvas ou separadas). Essas pessoas recebem amparo legal e não podem ter suas heranças familiares penhoradas pela justiça.

13. Famílias nas religiões de matriz africana: Nas religiões de matriz africana, a família é entendida como uma unidade grupal que transcende laços de sangue e inclui relações de aliança, filiação e consanguinidade, com forte valorização da família extensa. A noção de família também se estende aos laços estabelecidos dentro do terreiro, onde o pai ou mãe de santo e seus filhos espirituais compartilham valores ancestrais e constroem um senso de pertencimento. Além disso, a relação com os ancestrais, através dos orixás, é fundamental, formando uma rede de parentesco espiritual.

  •        Família no terreiro: O terreiro, mais do que um espaço religioso, é um local de reprodução de valores ancestrais, onde a relação com o pai/mãe de santo e outros membros cria um senso de família e pertencimento. 
  • Parentesco espiritual: Nas religiões de matriz africana, o parentesco vai além dos laços biológicos, incluindo a relação com os orixás e ancestrais, que se manifesta em rituais, práticas e na própria dinâmica do grupo. 
  • Família extensa: A família extensa, com suas múltiplas gerações e laços de parentesco, é um elemento central, funcionando como um sistema de apoio social, espiritual e mítico. 
  • Ancestralidade: A relação com os ancestrais é fundamental, pois eles são vistos como guias e protetores, influenciando a vida dos seus descendentes e fortalecendo os laços familiares. 
  • Enredo: O "enredo" é uma forma de parentesco espiritual, uma ligação profunda entre pessoas e orixás, que pode ser entendida como uma história pessoal, um conjunto de laços e afinidades, segundo pesquisadores da área. 

A legislação brasileira reconhece a diversidade familiar, incluindo a união estável e a família monoparental como entidades familiares. A família contemporânea é marcada pelo afeto, respeito mútuo e busca pela felicidade, indo além dos laços de sangue. 

A sociologia aborda a família como uma instituição social complexa e multifacetada, com diferentes configurações e funções, e que desempenha um papel crucial na socialização e no desenvolvimento dos indivíduos. 

Família como instituição social segundo Pierre Bourdieu

Pierre Bourdieu via a família como uma estrutura social fundamental na reprodução das desigualdades, onde o "habitus" familiar e os capitais culturais e sociais são transmitidos, influenciando as trajetórias individuais e as relações com as instituições, como a escola. A família, segundo ele, não é apenas um grupo de parentesco, mas um campo de disputas onde se manifestam relações de poder e onde se produzem e reproduzem práticas sociais e culturais. 

·         Habitus:

O habitus é um conjunto de disposições duráveis e transponíveis, adquirido através da experiência familiar, que influencia percepções, avaliações, sentimentos e ações. Ele molda a forma como os indivíduos interagem com o mundo e com as instituições, incluindo a escola. 

·         Capital Cultural:

Bourdieu diferencia três formas de capital cultural: incorporado (conhecimentos, habilidades, gostos), objetivado (livros, obras de arte, instrumentos) e institucionalizado (títulos acadêmicos). A família, especialmente a de origem, é crucial na transmissão do capital cultural, o que pode levar a vantagens ou desvantagens no campo educacional e social. 

·         Capital Social:

O capital social refere-se à rede de relações sociais que um indivíduo possui, incluindo laços familiares, amizades e contatos profissionais. Essa rede pode ser usada para acessar recursos e oportunidades, e a família é um dos principais locais de formação e transmissão do capital social. 

·         Campo:

A família pode ser entendida como um campo social, ou seja, um espaço de relações sociais onde os indivíduos e grupos disputam posições e recursos. A posição de cada família nesse campo influencia as chances de seus membros no acesso a recursos como educação, emprego e influência social. 

·         Violência Simbólica:

Bourdieu descreve a imposição do "arbitrário cultural" da escola como uma forma de violência simbólica, pois ela pode desvalorizar o capital cultural das famílias de classes sociais menos favorecidas, perpetuando desigualdades.

Bourdieu via a família como um local de produção e reprodução de práticas sociais, um campo de disputa por capitais (cultural, social e econômico) e um agente crucial na socialização dos indivíduos. A família, através do habitus e da transmissão de capitais, influencia as trajetórias individuais e a relação dos indivíduos com as instituições, incluindo a escola, perpetuando ou transformando as desigualdades sociais.

Contribuição da internet para o debate público sobre como se forma uma família

Na sociedade  brasileira é possível notar que foi a internet que promoveu o debate público acerca do que forma uma família. O modelo de família que os brasileiros conheciam como "ideal", mesmo estando longe da realidade de muitos brasileiros, possuía uma estrutura patriarcal onde o homem ocupava o espaço público da sociedade e a mulher estava restrita ao espaço privado, cuidando do aspecto doméstico da vida social. Mesmo com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, com maior intensidade na década de 80 do século passado, a realidade não mudou para os homens, que continuaram ausentes nas tarefas domésticas, gerando dupla jornada de trabalho para as mulheres. O advento da internet levou o debate sobre os papéis sociais dos homens e das mulheres das universidades para a vivência de pessoas que talvez nunca tivessem acesso a esse tipo de informação. Foi a internet também que ampliou o debate sobre as questões de gênero, incluindo-as no que a sociedade entende como família. 

Contribuição dos movimentos sociais para o debate público sobre como se forma uma família

A internet favoreceu também a organização e o fortalecimento dos movimentos sociais de luta por igualdade. Os movimentos sociais feminista e LGBTQIAPN+. Essa sigla se refere às lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, intersexo, assexuais, pansexuais, não-binários e outros que não se identificam nas categorias tradicionais de gênero e sexualidade. O "+" representa a inclusão de todas as outras identidades e orientações sexuais que não se encontram na lista de modo específico. Essa comunidade, embora também forme família, teve somente em 2011, através de uma decisão do Supremo Tribunal Federal e em 2013, pelo Conselho Nacional de Justiça, a união estável homoafetiva reconhecida na esfera legal.