Como se formam as famílias?
A palavra
"família" tem origem no termo latino familia, que, por sua vez,
deriva de famulus, que significa "servo" ou "escravo
doméstico". Na Roma Antiga, a familia não se restringia apenas aos
laços consanguíneos, mas englobava todos os membros da casa, incluindo servos e
escravos, sob a autoridade do chefe familiar, o pater familias.
Com o tempo, o conceito de
família evoluiu, e hoje, a palavra se refere ao grupo de pessoas unidas por
laços de parentesco, casamento, afetividade ou adoção. Apesar da origem
com conotação de servidão, a palavra família carrega atualmente um forte
significado de união, afeto, apoio e pertencimento.
Em resumo, a palavra família tem
raízes no latim familia, que originalmente se referia ao conjunto de pessoas
sob o domínio de um chefe de família, incluindo servos e escravos. No
entanto, o termo evoluiu para representar as relações familiares modernas,
baseadas em laços de parentesco, afetividade e convivência.
Na sociologia, a família é
entendida como uma instituição social fundamental, composta por pessoas
unidas por laços biológicos, afetivos ou legais, e que desempenha papéis
cruciais na socialização inicial e no desenvolvimento dos indivíduos. A
família evoluiu ao longo do tempo, com diferentes tipos surgindo e suas funções
se adaptando às mudanças sociais, econômicas e culturais.
Conceito de família na
sociologia:
·
Instituição social:
A família é reconhecida como uma das instituições sociais mais antigas e
importantes, moldando valores, normas e comportamentos.
·
Laços:
Pode ser definida por laços biológicos (parentesco de sangue), afetivos
(laços emocionais) ou legais (casamento, adoção).
·
Socialização:
A família é considerada a primeira e mais importante agência de
socialização, responsável por transmitir cultura, valores e normas sociais aos
seus membros, especialmente às crianças.
·
Evolução:
O conceito de família não é estático, tendo passado por transformações
ao longo da história, com diferentes tipos de famílias surgindo em diferentes
contextos sociais e culturais.
·
Funções:
Além da socialização, a família desempenha outras funções importantes,
como proteção, cuidado, apoio emocional e econômico, e transmissão de
identidade.
·
Abordagens:
A sociologia analisa a família através de diferentes abordagens
teóricas, como a funcionalista, a marxista e a interacionista, cada uma com
suas próprias perspectivas sobre a estrutura e o funcionamento familiar.
·
Diversidade:
A família contemporânea é caracterizada pela diversidade de suas
configurações, incluindo famílias nucleares, extensas, monoparentais,
homoafetivas, entre outras.
A
sociologia da família investiga diversos aspectos da vida familiar, como:
·
Estrutura familiar:
Como as famílias são formadas, organizadas e se transformam ao longo do
tempo.
·
Funções familiares:
Quais são as funções desempenhadas pela família na sociedade e em
relação aos seus membros.
·
Relações familiares:
As relações entre os membros da família, incluindo relações de casal,
pais e filhos, e relações com outros parentes.
·
Impacto da família:
O impacto da família na vida dos seus membros, incluindo o
desenvolvimento social, emocional e psicológico.
·
Políticas públicas:
O estudo da família também se relaciona com as políticas públicas
voltadas para a família e o bem-estar familiar.
Existem diversos tipos de
famílias, e a definição tradicional de família, composta por pai, mãe e filhos,
não é mais a única forma reconhecida. A família pode ser nuclear
(pais e filhos), extensa (inclui parentes como avós e tios), monoparental (um
único responsável), adotiva, homoafetiva (pais do mesmo sexo) e reconstituída
(casais com filhos de uniões anteriores), entre outras.
Segundo o artigo 226 da
Constituição da República de 1988, a família é compreendida como a base da
sociedade e recebe uma proteção especial do Estado.
Ao longo dos anos, o significado
de família vem sendo alterado. A família tradicional, família nuclear, composta
por pai, provedor da casa; mãe, cuidadora da família, e seus filhos foi sendo
substituída por novos tipos de família.
Atualmente, o entendimento
jurídico sobre a família comporta vários tipos de agregado familiar e visa dar
conta de toda a complexidade dos fatores que unem as pessoas.
1. Família
Nuclear: Pai,
mãe e filhos.
2. Família
Extensa: Inclui
parentes como avós, tios, primos, etc.
3. Família
Monoparental: Um
dos pais com seus filhos.
4. Família
Homoafetiva: Casais
do mesmo sexo, com ou sem filhos.
5. Família
Reconstituída: Casais
com filhos de relacionamentos anteriores.
6. Família
Anaparental: Sem
pais, formada apenas por irmãos.
7. Família
Adotiva: Família
que adota uma criança.
8. Família
Eudemonista: Unida
pela busca da felicidade e laços afetivos, independente de consanguinidade.
9. Família
Paralela/Simultânea: Uma
pessoa com duas relações familiares ao mesmo tempo.
10. Família matrimonial : A família matrimonial comporta a ideia tradicional de família, constituída a partir da oficialização do matrimônio (casamento). Na lei vigente, a família matrimonial compreende os casamentos civis e religiosos, podendo ser hétero ou homoafetivo.
11.
Família informal: Família
informal é o termo utilizado para os agregados familiares formados a partir da
união estável entre seus elementos. Esse tipo de família recebe todo o tipo de
amparo legal mesmo sem a oficialização do matrimônio.
12.
Família unipessoal: As
famílias unipessoais cumprem uma função jurídica importante por se tratarem de
pessoas que vivem sozinhas (pessoas solteiras, viúvas ou separadas). Essas
pessoas recebem amparo legal e não podem ter suas heranças familiares
penhoradas pela justiça.
13. Famílias nas religiões de matriz africana: Nas religiões de matriz africana, a família é entendida como uma unidade grupal que transcende laços de sangue e inclui relações de aliança, filiação e consanguinidade, com forte valorização da família extensa. A noção de família também se estende aos laços estabelecidos dentro do terreiro, onde o pai ou mãe de santo e seus filhos espirituais compartilham valores ancestrais e constroem um senso de pertencimento. Além disso, a relação com os ancestrais, através dos orixás, é fundamental, formando uma rede de parentesco espiritual.
- Parentesco espiritual: Nas religiões de matriz africana, o parentesco vai além dos laços biológicos, incluindo a relação com os orixás e ancestrais, que se manifesta em rituais, práticas e na própria dinâmica do grupo.
- Família extensa: A família extensa, com suas múltiplas gerações e laços de parentesco, é um elemento central, funcionando como um sistema de apoio social, espiritual e mítico.
- Ancestralidade: A relação com os ancestrais é fundamental, pois eles são vistos como guias e protetores, influenciando a vida dos seus descendentes e fortalecendo os laços familiares.
- Enredo: O "enredo" é uma forma de parentesco espiritual, uma ligação profunda entre pessoas e orixás, que pode ser entendida como uma história pessoal, um conjunto de laços e afinidades, segundo pesquisadores da área.
A legislação brasileira reconhece
a diversidade familiar, incluindo a união estável e a família monoparental como
entidades familiares. A família contemporânea é marcada pelo afeto,
respeito mútuo e busca pela felicidade, indo além dos laços de sangue.
A sociologia aborda a
família como uma instituição social complexa e multifacetada, com diferentes
configurações e funções, e que desempenha um papel crucial na socialização e no
desenvolvimento dos indivíduos.
Família
como instituição social segundo Pierre Bourdieu
Pierre Bourdieu via a família
como uma estrutura social fundamental na reprodução das desigualdades, onde o
"habitus" familiar e os capitais culturais e sociais são
transmitidos, influenciando as trajetórias individuais e as relações com as
instituições, como a escola. A família, segundo ele, não é apenas um grupo
de parentesco, mas um campo de disputas onde se manifestam relações de poder e
onde se produzem e reproduzem práticas sociais e culturais.
·
Habitus:
O habitus é um conjunto de disposições duráveis e transponíveis,
adquirido através da experiência familiar, que influencia percepções,
avaliações, sentimentos e ações. Ele molda a forma como os indivíduos
interagem com o mundo e com as instituições, incluindo a escola.
·
Capital Cultural:
Bourdieu diferencia três formas de capital cultural: incorporado
(conhecimentos, habilidades, gostos), objetivado (livros, obras de arte,
instrumentos) e institucionalizado (títulos acadêmicos). A família,
especialmente a de origem, é crucial na transmissão do capital cultural, o que
pode levar a vantagens ou desvantagens no campo educacional e social.
·
Capital Social:
O capital social refere-se à rede de relações sociais que um indivíduo
possui, incluindo laços familiares, amizades e contatos profissionais. Essa
rede pode ser usada para acessar recursos e oportunidades, e a família é um dos
principais locais de formação e transmissão do capital social.
·
Campo:
A família pode ser entendida como um campo social, ou seja, um espaço de
relações sociais onde os indivíduos e grupos disputam posições e
recursos. A posição de cada família nesse campo influencia as chances de
seus membros no acesso a recursos como educação, emprego e influência social.
·
Violência Simbólica:
Bourdieu descreve a imposição do "arbitrário cultural" da
escola como uma forma de violência simbólica, pois ela pode desvalorizar o
capital cultural das famílias de classes sociais menos favorecidas, perpetuando
desigualdades.
Bourdieu via a família como um local de produção e reprodução de práticas sociais, um campo de disputa por capitais (cultural, social e econômico) e um agente crucial na socialização dos indivíduos. A família, através do habitus e da transmissão de capitais, influencia as trajetórias individuais e a relação dos indivíduos com as instituições, incluindo a escola, perpetuando ou transformando as desigualdades sociais.
Contribuição da internet para o debate público sobre como se forma uma família
Na sociedade brasileira é possível notar que foi a internet que promoveu o debate público acerca do que forma uma família. O modelo de família que os brasileiros conheciam como "ideal", mesmo estando longe da realidade de muitos brasileiros, possuía uma estrutura patriarcal onde o homem ocupava o espaço público da sociedade e a mulher estava restrita ao espaço privado, cuidando do aspecto doméstico da vida social. Mesmo com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, com maior intensidade na década de 80 do século passado, a realidade não mudou para os homens, que continuaram ausentes nas tarefas domésticas, gerando dupla jornada de trabalho para as mulheres. O advento da internet levou o debate sobre os papéis sociais dos homens e das mulheres das universidades para a vivência de pessoas que talvez nunca tivessem acesso a esse tipo de informação. Foi a internet também que ampliou o debate sobre as questões de gênero, incluindo-as no que a sociedade entende como família.
Contribuição dos movimentos sociais para o debate público sobre como se forma uma família
A internet favoreceu também a organização e o fortalecimento dos movimentos sociais de luta por igualdade. Os movimentos sociais feminista e LGBTQIAPN+. Essa sigla se refere às lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, intersexo, assexuais, pansexuais, não-binários e outros que não se identificam nas categorias tradicionais de gênero e sexualidade. O "+" representa a inclusão de todas as outras identidades e orientações sexuais que não se encontram na lista de modo específico. Essa comunidade, embora também forme família, teve somente em 2011, através de uma decisão do Supremo Tribunal Federal e em 2013, pelo Conselho Nacional de Justiça, a união estável homoafetiva reconhecida na esfera legal.
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