Sobre "direita" e "esquerda"...
Quando falamos em ideologias de esquerda, direita
liberal ou conservadora é comum que haja confusão, como se esquerda fosse tudo
a mesma coisa, assim como se o pensamento conservador não fosse uma ideologia.
Por isso é importante ter conhecimento teórico sobre o que se diz, para que o
debate político, tão indispensável para as pessoas na vida em sociedade, não
fique no plano do senso comum, cheio de opiniões sem fundamento científico.
As ideologias popularmente conhecidas
como “esquerda” têm origem na época da Revolução Francesa, com o filósofo
Jean-Jacques Rousseau. Ele acreditava que as desigualdades entre os seres
humanos tinham origem no surgimento da propriedade privada. E como solução ele
apresentou a possibilidade de um contrato social onde seria constituído um governo,
que deveria obedecer à vontade popular, com poder questionável, podendo ser
revogado. As propostas teóricas construídas após Rousseau que defendem a liberdade
coletiva em acordo com a propriedade coletiva são popularmente conhecidas como socialistas. Nesse sentido, Rousseau lançou as bases do plano
ideológico do que seria a vida das pessoas sem a propriedade privada.
As ideologias popularmente conhecidas
como “direita liberal” também têm origem na época da Revolução Francesa, com o
filósofo John Locke. Ele acreditava que as desigualdades entre os seres humanos
estão relacionadas ao modo como acontece acumulação das riquezas na sociedade,
podendo levar à escassez caso não seja considerada a lei natural. Um exemplo
que pode ser observado é a questão do desmatamento na Amazônia, aqui em nosso
país. A possibilidade de escassez de água potável é um dos motivos pelo qual os
seres humanos escolhem viver sob o contrato social, para regular a propriedade,
onde o consenso será estabelecido pelo acordo das opiniões. Para Locke uma
pessoa não deve haver se apropriar dos recursos naturais de modo a prejudicar
outras pessoas, porque o direito à apropriação estaria violando o direito
natural, uma vez que a natureza existe para todas as pessoas. Nesse sentido a
delegação de poder, senso consensual, garantirá que haja justiça. Trata-se de
um exercício de poder temporário, questionável e revogável de acordo com a
vontade popular.
Quando ele escreve, há
três formas de religiosidade: católica, protestante e deísmo. Ele considera
essencial falar em Deus porque freia o homem. O que interessa é a obediência na
Terra para conquistar a eternidade. Sobretudo o filósofo considerou que político
não pode estar vinculado com o poder religioso. Desse modo ele defendeu o
Estado laico, com neutralidade religiosa. A soberania está na comunidade
política: se o Legislativo tem poder delegado, ele é o poder supremo. O
Executivo opera continuamente, dentro da lei. Cabem ao Executivo as funções
judiciárias e a condução da política externa. Ele diz que o povo é soberano,
antes e depois do pacto. No segundo tratado de Locke o Estado é fundado num
acordo entre os indivíduos. O poder do Estado é consentido, desejado, quando
deriva de um contrato social. Locke introduz a novidade de que os governantes
não devem ser permanentes, para não governarem de acordo com seus próprios
interesses, em detrimento da maioria. Ele representou, portanto, o modelo no plano ideológico, do
que seria a vida das pessoas com a propriedade privada a liberdade individual.
Assim como as duas anteriores, as
ideologias popularmente conhecidas como “direita conservadora” se originam na
época da Revolução Francesa, com o filósofo Edmund Burke. Ele acreditava que as
desigualdades entre os seres humanos são naturais, e toda tentativa de busca
por igualdade se torna uma violação na natureza humana. Desse modo o exercício
de poder deve respeitar as desigualdades porque foram instituídas pela natureza,
pelas normas morais e por Deus, de acordo com a perspectiva judaico-cristã
ocidental. Em suas análises sobre a Revolução Francesa e o Iluminismo Burke
chamou atenção para a capacidade natural que os proprietários possuem de exercício
de poder político, em virtude de garantirem que não aconteçam mudanças como as
que ocorreram a partir da Revolução Francesa. Ele entendia que quem se
posicionasse contra o governo dos proprietários estaria contra a nação e a
ordem social.
Consequências da pós-modernidade na sociedade brasileira.
Na sociedade brasileira a pós-modernidade - principalmente os benefícios
da tecnologia da informação - foi sentida pela população com o fortalecimento
dos movimentos sociais e desenvolvimento do pensamento crítico nas salas de
aula em todo o país. Embora as reivindicações das minorias não pertençam de
modo delimitado ao pensamento ideológico de “esquerda”, houve no imaginário
social uma associação entre o “socialismo real”, já derrotado no plano concreto
com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, e os movimentos
sociais. Verifica-se também que a população brasileira, de um modo geral, se
divide entre a ideologia conservadora, que atua de modo concreto na busca pelo
resgate da moralidade vigente no Brasil do século XX, herdada do patriarcado; e
a ideologia socialista fundada em Bernstein, cujos militantes acreditam ser
possível conciliar os interesses dos diversos setores da sociedade através da
democracia liberal. Nesse contexto de conflito os conservadores se alinharam
com o discurso nacionalista e os socialistas reformistas com o discurso
internacionalista, que os compromete no campo ideológico da moralidade - é
comum que os conservadores considerem que os liberais e os comunistas estão
errados em sua escolha pelo internacionalismo. Os liberais, que também são
internacionalistas, nesse cenário brasileiro conflituoso, ficaram com pouca
visibilidade no jogo político e se alinharam com os conservadores. O resultado
das alianças políticas culminou na vitória dos conservadores no plano nacional
de disputa pelo comando do país na esfera federal. Diante dessa realidade é bem
interessante a compreensão da visão de mundo desses grupos em disputa, e como a
tecnologia da informação contribuiu para o desenvolvimento do pensamento
crítico nas salas de aula, assim como para o debate público em torno do
conflito entre a cultura local, defendida pelos conservadores, e a cultura
global, reivindicada pelos movimentos sociais na atualidade.
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