domingo, 22 de junho de 2025

 Como se formam as famílias?

A palavra "família" tem origem no termo latino familia, que, por sua vez, deriva de famulus, que significa "servo" ou "escravo doméstico". Na Roma Antiga, a familia não se restringia apenas aos laços consanguíneos, mas englobava todos os membros da casa, incluindo servos e escravos, sob a autoridade do chefe familiar, o pater familias. 

Com o tempo, o conceito de família evoluiu, e hoje, a palavra se refere ao grupo de pessoas unidas por laços de parentesco, casamento, afetividade ou adoção. Apesar da origem com conotação de servidão, a palavra família carrega atualmente um forte significado de união, afeto, apoio e pertencimento. 

Em resumo, a palavra família tem raízes no latim familia, que originalmente se referia ao conjunto de pessoas sob o domínio de um chefe de família, incluindo servos e escravos. No entanto, o termo evoluiu para representar as relações familiares modernas, baseadas em laços de parentesco, afetividade e convivência.

Na sociologia, a família é entendida como uma instituição social fundamental, composta por pessoas unidas por laços biológicos, afetivos ou legais, e que desempenha papéis cruciais na socialização inicial e no desenvolvimento dos indivíduos. A família evoluiu ao longo do tempo, com diferentes tipos surgindo e suas funções se adaptando às mudanças sociais, econômicas e culturais. 

Conceito de família na sociologia:

·         Instituição social:

A família é reconhecida como uma das instituições sociais mais antigas e importantes, moldando valores, normas e comportamentos. 

·         Laços:

Pode ser definida por laços biológicos (parentesco de sangue), afetivos (laços emocionais) ou legais (casamento, adoção). 

·         Socialização:

A família é considerada a primeira e mais importante agência de socialização, responsável por transmitir cultura, valores e normas sociais aos seus membros, especialmente às crianças. 

·         Evolução:

O conceito de família não é estático, tendo passado por transformações ao longo da história, com diferentes tipos de famílias surgindo em diferentes contextos sociais e culturais. 

·         Funções:

Além da socialização, a família desempenha outras funções importantes, como proteção, cuidado, apoio emocional e econômico, e transmissão de identidade. 

·         Abordagens:

A sociologia analisa a família através de diferentes abordagens teóricas, como a funcionalista, a marxista e a interacionista, cada uma com suas próprias perspectivas sobre a estrutura e o funcionamento familiar. 

·         Diversidade:

A família contemporânea é caracterizada pela diversidade de suas configurações, incluindo famílias nucleares, extensas, monoparentais, homoafetivas, entre outras. 

 A família como objeto de estudo:

A sociologia da família investiga diversos aspectos da vida familiar, como:

·         Estrutura familiar:

Como as famílias são formadas, organizadas e se transformam ao longo do tempo. 

·         Funções familiares:

Quais são as funções desempenhadas pela família na sociedade e em relação aos seus membros. 

·         Relações familiares:

As relações entre os membros da família, incluindo relações de casal, pais e filhos, e relações com outros parentes. 

·         Impacto da família:

O impacto da família na vida dos seus membros, incluindo o desenvolvimento social, emocional e psicológico. 

·         Políticas públicas:

O estudo da família também se relaciona com as políticas públicas voltadas para a família e o bem-estar familiar. 

 Os diversos tipos de famílias

Existem diversos tipos de famílias, e a definição tradicional de família, composta por pai, mãe e filhos, não é mais a única forma reconhecida. A família pode ser nuclear (pais e filhos), extensa (inclui parentes como avós e tios), monoparental (um único responsável), adotiva, homoafetiva (pais do mesmo sexo) e reconstituída (casais com filhos de uniões anteriores), entre outras.

Segundo o artigo 226 da Constituição da República de 1988, a família é compreendida como a base da sociedade e recebe uma proteção especial do Estado.

Ao longo dos anos, o significado de família vem sendo alterado. A família tradicional, família nuclear, composta por pai, provedor da casa; mãe, cuidadora da família, e seus filhos foi sendo substituída por novos tipos de família.

Atualmente, o entendimento jurídico sobre a família comporta vários tipos de agregado familiar e visa dar conta de toda a complexidade dos fatores que unem as pessoas.

1. Família Nuclear: Pai, mãe e filhos.

2. Família Extensa: Inclui parentes como avós, tios, primos, etc.

3. Família Monoparental: Um dos pais com seus filhos.

4. Família Homoafetiva: Casais do mesmo sexo, com ou sem filhos.

5. Família Reconstituída: Casais com filhos de relacionamentos anteriores.

6. Família Anaparental: Sem pais, formada apenas por irmãos.

7. Família Adotiva: Família que adota uma criança.

8. Família Eudemonista: Unida pela busca da felicidade e laços afetivos, independente de consanguinidade.

9. Família Paralela/Simultânea: Uma pessoa com duas relações familiares ao mesmo tempo. 

10. Família matrimonial : A família matrimonial comporta a ideia tradicional de família, constituída a partir da oficialização do matrimônio (casamento). Na lei vigente, a família matrimonial compreende os casamentos civis e religiosos, podendo ser hétero ou homoafetivo.

11. Família informal: Família informal é o termo utilizado para os agregados familiares formados a partir da união estável entre seus elementos. Esse tipo de família recebe todo o tipo de amparo legal mesmo sem a oficialização do matrimônio.

12. Família unipessoal: As famílias unipessoais cumprem uma função jurídica importante por se tratarem de pessoas que vivem sozinhas (pessoas solteiras, viúvas ou separadas). Essas pessoas recebem amparo legal e não podem ter suas heranças familiares penhoradas pela justiça.

13. Famílias nas religiões de matriz africana: Nas religiões de matriz africana, a família é entendida como uma unidade grupal que transcende laços de sangue e inclui relações de aliança, filiação e consanguinidade, com forte valorização da família extensa. A noção de família também se estende aos laços estabelecidos dentro do terreiro, onde o pai ou mãe de santo e seus filhos espirituais compartilham valores ancestrais e constroem um senso de pertencimento. Além disso, a relação com os ancestrais, através dos orixás, é fundamental, formando uma rede de parentesco espiritual.

  •        Família no terreiro: O terreiro, mais do que um espaço religioso, é um local de reprodução de valores ancestrais, onde a relação com o pai/mãe de santo e outros membros cria um senso de família e pertencimento. 
  • Parentesco espiritual: Nas religiões de matriz africana, o parentesco vai além dos laços biológicos, incluindo a relação com os orixás e ancestrais, que se manifesta em rituais, práticas e na própria dinâmica do grupo. 
  • Família extensa: A família extensa, com suas múltiplas gerações e laços de parentesco, é um elemento central, funcionando como um sistema de apoio social, espiritual e mítico. 
  • Ancestralidade: A relação com os ancestrais é fundamental, pois eles são vistos como guias e protetores, influenciando a vida dos seus descendentes e fortalecendo os laços familiares. 
  • Enredo: O "enredo" é uma forma de parentesco espiritual, uma ligação profunda entre pessoas e orixás, que pode ser entendida como uma história pessoal, um conjunto de laços e afinidades, segundo pesquisadores da área. 

A legislação brasileira reconhece a diversidade familiar, incluindo a união estável e a família monoparental como entidades familiares. A família contemporânea é marcada pelo afeto, respeito mútuo e busca pela felicidade, indo além dos laços de sangue. 

A sociologia aborda a família como uma instituição social complexa e multifacetada, com diferentes configurações e funções, e que desempenha um papel crucial na socialização e no desenvolvimento dos indivíduos. 

Família como instituição social segundo Pierre Bourdieu

Pierre Bourdieu via a família como uma estrutura social fundamental na reprodução das desigualdades, onde o "habitus" familiar e os capitais culturais e sociais são transmitidos, influenciando as trajetórias individuais e as relações com as instituições, como a escola. A família, segundo ele, não é apenas um grupo de parentesco, mas um campo de disputas onde se manifestam relações de poder e onde se produzem e reproduzem práticas sociais e culturais. 

·         Habitus:

O habitus é um conjunto de disposições duráveis e transponíveis, adquirido através da experiência familiar, que influencia percepções, avaliações, sentimentos e ações. Ele molda a forma como os indivíduos interagem com o mundo e com as instituições, incluindo a escola. 

·         Capital Cultural:

Bourdieu diferencia três formas de capital cultural: incorporado (conhecimentos, habilidades, gostos), objetivado (livros, obras de arte, instrumentos) e institucionalizado (títulos acadêmicos). A família, especialmente a de origem, é crucial na transmissão do capital cultural, o que pode levar a vantagens ou desvantagens no campo educacional e social. 

·         Capital Social:

O capital social refere-se à rede de relações sociais que um indivíduo possui, incluindo laços familiares, amizades e contatos profissionais. Essa rede pode ser usada para acessar recursos e oportunidades, e a família é um dos principais locais de formação e transmissão do capital social. 

·         Campo:

A família pode ser entendida como um campo social, ou seja, um espaço de relações sociais onde os indivíduos e grupos disputam posições e recursos. A posição de cada família nesse campo influencia as chances de seus membros no acesso a recursos como educação, emprego e influência social. 

·         Violência Simbólica:

Bourdieu descreve a imposição do "arbitrário cultural" da escola como uma forma de violência simbólica, pois ela pode desvalorizar o capital cultural das famílias de classes sociais menos favorecidas, perpetuando desigualdades.

Bourdieu via a família como um local de produção e reprodução de práticas sociais, um campo de disputa por capitais (cultural, social e econômico) e um agente crucial na socialização dos indivíduos. A família, através do habitus e da transmissão de capitais, influencia as trajetórias individuais e a relação dos indivíduos com as instituições, incluindo a escola, perpetuando ou transformando as desigualdades sociais.

Contribuição da internet para o debate público sobre como se forma uma família

Na sociedade  brasileira é possível notar que foi a internet que promoveu o debate público acerca do que forma uma família. O modelo de família que os brasileiros conheciam como "ideal", mesmo estando longe da realidade de muitos brasileiros, possuía uma estrutura patriarcal onde o homem ocupava o espaço público da sociedade e a mulher estava restrita ao espaço privado, cuidando do aspecto doméstico da vida social. Mesmo com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, com maior intensidade na década de 80 do século passado, a realidade não mudou para os homens, que continuaram ausentes nas tarefas domésticas, gerando dupla jornada de trabalho para as mulheres. O advento da internet levou o debate sobre os papéis sociais dos homens e das mulheres das universidades para a vivência de pessoas que talvez nunca tivessem acesso a esse tipo de informação. Foi a internet também que ampliou o debate sobre as questões de gênero, incluindo-as no que a sociedade entende como família. 

Contribuição dos movimentos sociais para o debate público sobre como se forma uma família

A internet favoreceu também a organização e o fortalecimento dos movimentos sociais de luta por igualdade. Os movimentos sociais feminista e LGBTQIAPN+. Essa sigla se refere às lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, intersexo, assexuais, pansexuais, não-binários e outros que não se identificam nas categorias tradicionais de gênero e sexualidade. O "+" representa a inclusão de todas as outras identidades e orientações sexuais que não se encontram na lista de modo específico. Essa comunidade, embora também forme família, teve somente em 2011, através de uma decisão do Supremo Tribunal Federal e em 2013, pelo Conselho Nacional de Justiça, a união estável homoafetiva reconhecida na esfera legal. 


domingo, 18 de maio de 2025

Helenismo

O helenismo começou no Império de Alexandre, o Grande, e se estendeu até o século I d.C.

Projeto de educação que visava a massificação da cultura grega difundida por todo o mundo conhecido.

Nesse contexto surgiu o termo “cosmopolita”, que significa cidadão do cosmos, grande cidade que constitui o universo.

A massificação da cultura grega propagou também a filosofia nascida na Grécia.

Essa propagação aumentou a popularidade, mas reduziu a profundidade, perda de identidade política do cidadão da época.

Isso aconteceu porque não existia mais um estado democrático em Atenas, mas um estado constituído enquanto Império.

Perda de sentido da vida pública: preocupação dos cidadãos com questões políticas enquanto atividades da Polis.

Houve também o abandono quase completo de questões metafísicas.

As escolas que surgiram nesse período se fundaram sobre a questão da ética e matéria, introduzida por Sócrates à Filosofia.

Importância do discurso filosófico: justifica a escolha de vida e desenvolve suas implicações.

Viver filosoficamente significa exercer uma ação sobre si mesmo e sobre os outros.

Trata-se do diálogo com os outros ou consigo mesmo.

Aponia e Ataraxia: A ausência de dor (aponia) e a falta de perturbação mental (ataraxia) eram vistos como estados de prazer katastemático, ou seja, estados de quietude e paz. 

Escolas

Epicurista: cálculo dos prazeres.: O objetivo final da ética epicurista era atingir um estado de aponia e ataraxia, eliminando a dor e a ansiedade e alcançando a felicidade. 

Prazeres Naturais e Necessários: São aqueles que são essenciais para a sobrevivência e bem-estar, como comer, beber e dormir. A satisfação desses prazeres é crucial para evitar a dor. 

Prazeres Naturais mas Não Necessários: São prazeres que, embora naturais, não são indispensáveis para a vida, como a alimentação refinada ou roupas elegantes. 

Prazeres Não Naturais: São prazeres que são criados pela sociedade e não são necessários para a felicidade, como fama, riqueza ou poder. Epicuro considerava que a busca por esses prazeres podia levar ao sofrimento, pois dependiam de fatores externos e não eram controláveis pelo indivíduo. 

A importância da moderação: Para Epicuro, a felicidade é alcançada através do prazer moderado, evitando a busca excessiva e o sofrimento que pode resultar da insatisfação. 

Cínica: desapego/razão.

Desprezo pelas convenções sociais: Os cínicos desprezavam as normas e regras sociais, considerando-as artificiais e desnecessárias para a busca da felicidade. 

Vida simples e natural: Praticavam uma vida austera, sem preocupações com bens materiais ou conforto, buscando viver de acordo com a natureza. 

Foco na virtude: A virtude era vista como o único bem verdadeiro, e a felicidade era alcançada através da prática da virtude. 

Desapego aos bens materiais: Os cínicos desvalorizavam a riqueza e a busca por bens materiais, considerando-os como obstáculos para a felicidade. 

Indiferença ao prazer: Não se preocupavam com o prazer ou a satisfação dos desejos, buscando a tranquilidade e a liberdade interior. 

Estoica: subordinação ao destino/imperturbabilidade do espírito.

Virtude como único bem: Os estoicos acreditavam que a virtude (sabedoria, justiça, coragem e temperança) era o único bem verdadeiro e que a felicidade (eudaimonia) dependia do cultivo da virtude. 

Acomodação à natureza: A vida deve ser conduzida em harmonia com a natureza, tanto com o universo (governado pela razão) quanto com a natureza humana. 

Razão e autodomínio: Os estoicos enfatizavam a importância da razão na tomada de decisões e no controle das emoções, buscando a serenidade (ataraxia) e a independência em relação às coisas externas. 

Aceitação do que não pode ser controlado: É fundamental aceitar com serenidade o que está fora do nosso alcance e focar no que podemos controlar, como nossas ações e pensamentos. 

Importância da morte: A morte é vista como parte natural do ciclo da vida e não como algo a ser temido, mas sim como algo a ser aceito com calma e resignação. 

A importância da vida moral: Os estoicos buscavam viver uma vida virtuosa e moral, focando no desenvolvimento de bom caráter e na busca pela excelência. 

 

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Mercado da saúde mental

Entrevista do filósofo Luis Felipe Pondé para o canal Linhas Cruzadas. Disponível no YouTube.

Patologia ou normalidade?

Conceito de sanidade mental: possui caráter histórico, porque muda conforme a época.

Transformação de comportamentos psicológicos do âmbito da psicopatologia em transtornos ou diversidade psíquica. Ex.: Autismo.

Entendimento da doença mental: tendência à relativização ao mesmo tempo em que ocorre um notável crescimento de diagnósticos.

Debate acerca das fronteiras: o melhor exemplo é a experiência religiosa, que pode ser entendida como experiência fora da normalidade, passível de diagnóstico.

Saúde mental é a grande fronteira do mercado no século XXI.

Exemplo de marco histórico: racionalidade burguesa que propõe retirar de circulação quem não se comporta de acordo com os valores burgueses.

Há momentos em que se alguém falar em patologia mental será visto como preconceituoso.

Relação entre o aumento dos diagnósticos e o mercado de saúde mental: conforme são formados profissionais, estabelecidos procedimentos técnicos para os diagnósticos, são produzidos certos protocolos de tratamento... Isso tudo já é o mercado. Mas não significa que o trabalho não é sério, mas que houve um aumento do ferramental que impacta a própria percepção do fenômeno. Esse aumento significa clínicas, profissionais, cursos de formação... E assim começa a se concretizar um processo de comoditização da saúde mental, que se transforma em um nicho de produção de riqueza, produção de riqueza, produção de demanda e amplia a própria percepção de realidade. Ex.: Antes de podia ter uma criança "pestinha" na escola, agora tem o diagnóstico...

O diagnóstico é um alívio para os pais no sentido de saberem o que filho tem, qual é a medicação, profissional...

Os pais têm ficado rendidos em relação à saúde mental dos filhos.

No ambiente escolar e social o suicídio se apresenta como tema delicado porque ninguém quer ter a imagem comprometida com uma alta taxa de suicídio.

As redes sociais alimentam o sofrimento psicológico das pessoas, principalmente os jovens.

A vulnerabilidade e a incapacidade de lidar com qualquer coisa relacionada à autoestima e ao bem-estar fazem com que as pessoas busquem tais garantias em agentes externos.

Cientistas como psicólogos, por exemplo, sugerem que os pais não sabem como educar os filhos e oferecem esse tipo de serviço.

Transferência da culpa do ambiente familiar e social para a genética. Isso não tem como garantir que é verdade.





terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Para onde vai o lixo que produzimos?

 

Para onde vai o lixo que produzimos? 


Autores: David Amaral e Elaina Sieiro.

   Essa reportagem foi realizada a partir de entrevistas. As perguntas foram criadas tendo como foco a reflexão crítica  sobre o meio ambiente,  principalmente os rios, mares, lagos e oceanos. Foram entrevistadas cinco pessoas maiores de dezoito anos.

   As perguntas foram elaboradas com o objetivo de identificar se as pessoas têm  conhecimento sobre o destino do lixo que produzem. Entre os entrevistados ninguém sabia que o lixo produz uma imensa poluição nos oceanos e , desse modo, prejudicando a vida marinha.
  
   No oceano Pacífico, por exemplo,  tem tantos plásticos descartados como  lixo, que já correspondem a dezesseis vezes o território de Portugal. E se os seres humanos  não mudarem seus hábitos de consumo em 2050 haverá mais plásticos do que peixes nos oceanos . Essas informações são públicas  e se encontram no canal "Menos um lixo " no YouTube.  As pessoas entrevistadas não conheciam os cinco erres da sustentabilidade: repensar, reduzir, recusar, reutilizar e reciclar.


    De acordo com as respostas do entrevistados foi possível concluir que é fundamental que a espécie humana crie meios para que o meio ambiente não continue sendo prejudicado pelo descarte inadequado  de lixo.

 

 

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Paulo Baía, sobre Lya Luft.

Lya Luft faleceu.
Estou triste.
Minha homenagem é reproduzir um texto que postei em passado recente.
Sou grato ao que aprendi com Lya Luft .

Lya Luft e o voto bolsonarista.

O voto é uma relação de "Troca Assimétrica", movida por afetos e cognição, no estrito sentido do significado das palavras afeto e cognição.
Afeto como a disposição de alguém por alguma coisa, seja positiva ou negativa, e  cognição como a capacidade de processar informações e transformá-las em conhecimento, com base em um conjunto de habilidades como a percepção, a atenção, a associação, a imaginação, o juízo, o raciocínio e a memória.
O voto tem uma racionalidade na escolha, o eleitor faz um balanço de perdas e ganhos, uma avaliação de benefícios e custos de sua ação eleitoral.
A escolha nessa "Troca Assimétrica" sempre é mais vantajosa para o candidato do que para o eleitor.
O eleitor, por seus afetos e cognição, centra sua escolha na sua própria história de vida e de sua malha de sociabilidade.
Mesmos os votos mais altruístas, movidos por "Causas", são enredados em um convívio de afetos e cognições do "mundo visível e experimentado" pelo eleitor.
O candidato fala e se expõe sempre de maneira "segmentada" ou "individualizada" para captar a decisão do eleitor.
O candidato faz um processo de "sedução" do eleitor, fazendo com que o eleitor troque seu voto ou por adesão ao candidato ou por repúdio aos demais candidatos, sem que necessariamente haja adesão ao candidato escolhido.
A racionalidade da escolha eleitoral é sazonal, raramente estruturada e atemporal.
O momento do voto, seu tempo e espaço, são os vetores de motivação afetiva e cognitiva  para uma escolha assimétrica, que sempre traz consequências positivas ou negativas para o autor da escolha.
Assim foi com Lya Luft, que não é uma ressentida, desencantada, desalentada.
É uma mulher forte, sabe o que quer e é determinada.
Vanguardista em sua geração, mulher libertária no campo profissional e existencial.
Extremamente culta e com elevado nível de escolarização, já possuia um mestrado em linguística em 1975 e outro em literatura brasileira em 1978, época em que muito poucos tinham o título de mestre no Brasil.
Leitora de Friedrich Schiller, poeta, filósofo, médico e historiador alemão.
Leitora de Johann Wolfgang von Goethe, Santo Tomás de Aquino e Jean Paul Sartre.
Professora notável na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi inovadora e pioneira dos primeiros cursos de pós-graduação no país.
Tradutora ousada, colocou em língua portuguesa Virgínia Woolf, Thomas Mann, Herman Hesse e muitos outros.
Como escritora tem destaque com "As coisas humanas", " Pensar é transgredir" e "Quarto fechado", que são mergulhos na alma humana.
Foi uma combatente contra a ditadura vinculada ao grupo de intelectuais/psicanalistas de Hélio Pelegrino, denunciando torturadores da área médica, psiquiatra e psicanalista que atuaram na ditadura brasileira a partir de 1964.
No Rio de Janeiro, participou das primeiras e históricas campanhas eleitorais do PT para o governo do estado com Lysâneas Maciel para governador e Vladimir Palmeira para o senado  em 1982. 
Em 1985 fez a campanha do desconhecido Wilson Farias do PT, tendo como vice a socióloga Miriam Limoeiro Cardoso, para a prefeitura do Rio de Janeiro, mesmo sendo amiga de Saturnino Braga do PDT e Marcelo Cerqueira do PSB, também candidatos.
O voto de Lya Luft, mesmo como escolha individual, tem significado público, é simbólico em termos políticos e sociológicos.
Representa a ambiência de afetos e cognição de um momento temporal de 57 milhões de brasileiros.
Não sabia que Lya Luft tinha votado em Jair Bolsonaro; se alguém me contasse, eu não acreditaria.
Soube com a entrevista da própria declarando seu arrependimento.
Por que votou? De acordo com seu relato, fez uma escolha assimétrica movida pela rejeição aos demais candidatos, em função de suas experiências de vida em relação aos competidores.
Escolheu não ganhar muito ou quase nada a ter que perder, na sua avaliação afetiva e cognitiva, com a vitória dos demais candidatos.
Com a escolha de Jair Bolsonaro, Lya Luft materializou seus afetos e cognições no segundo semestre de 2018.
O arrependimento público em junho de 2020 mostra outro momento de afetos e cognição. Lya Luft percebeu, por sua vivência no cotidiano do governo Jair Bolsonaro desde janeiro de 2019, que sua escolha eleitoral lhe trouxe perdas, perdas grandes e significativas, em vez de ganhos pequenos ou não ganhos.
O voto de Lya Luft torna-se um "Voto Desvio Padrão" para se compreender a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro.
Como "Troca Assimétrica" , como uma racionalidade eleitoral  em que todos ganham - os eleitores pouco e menos  que o candidato - a votação de 57 milhões de votantes bolsonaristas está revelando que a "Assimetria" foi muito maior.  O eleitor está descobrindo que, não só não ganhou nada com a rejeição aos demais candidatos, como efetivamente está perdendo com sua escolha em 2018.
O "Voto Lya Luft" foi um padrão, que pode explicar a escolha de Jair Bolsonaro pela rejeição, como um decisão de racionalidade política da maioria dos votantes em Bolsonaro. Essa mesma racionalidade está a promover "Arrependimentos", pois a lógica da "Troca Assimétrica" foi rompida com as perdas e com um "custo" que é imensamente alto e sem benefícios.
O "Arrependimento Público de Lya Luft" pode vir a se tornar um fenômeno coletivo para a maior parte dos 57 milhões de eleitores. 
Creio que o voto "Lya Luft" explica, como padrão, a enorme escolha por Jair Bolsonaro nas regiões Sul e Sudeste do país.
O "Arrependimento" é um mecanismo psíquico, social e político que vem com a admissão pelo indivíduo de uma nova realidade em sua vida.
É um desprendimento com as amarras de um passado próximo ou distante, um ato de libertação, de arrojo pessoal ou coletivo.
O arrependimento de Lya Luft, para mim é muito bem-vindo, e basta para tê-la como aliada na luta contra o neofascismo do governo Bolsonaro.
Nessa questão eu estou sintonizado com Renato Janine Ribeiro , Sergio Abranches , Jose Alvaro Moises , Marcos Nobre  , Jairo Nicolau e  Bolívar Lamounier .
O "Voto Lya Luft" descortinou uma linha nova para entender o voto bolsonarista em 2018.
Não foi um voto de *"toscos"* e "imbecilizados", foi uma escolha feita preferencialmente pela "não escolha" aos demais candidatos.
Uma tomada de decisão dramática, contraditória, com subjetividades afetivas e cognitivas complexas, com dúvidas e incertezas no  voto. Sem estigmatizar eleitores de Jair Bolsonaro , sem "a prioris" morais condenatórios, com técnicas sociológicas e políticas, podemos decifrar o voto de Lya Luft e compreender pelo menos 30 milhões dos 57 milhões de votos em Jair Bolsonaro, nas principais cidades das regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Nas demais regiões e na maioria das cidades do interior de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul temos outras variáveis de entendimento em que a "Idéia Projétil"  de Jair Bolsonaro é protagonista das escolhas. Nessas os eleitores estão tendo "ganhos" com o voto em Jair Bolsonaro.

Paulo Baía.
Sociólogo e cientista político.
25/06/2020

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Organização social e política brasileira (OSPB) - Resumo

O Brasil é uma República (forma de governo, assim como a monarquia) Federativa, o que significa que há autonomia entre os Municípios, Estados e União (Poder exercido pelo Governo Federal). No Brasil essa autonomia é menor, nos EUA é maior.

Para o cientista político Paulo Bonavides entre os autores estrangeiros existe confusão sobre o modo como se deve usar as expressões "forma de governo" e "forma de Estado". Na Alemanha se utiliza a expressão "forma de Estado" para definir  que na França se define como "forma de governo".

Segundo Maquiavel, existem duas formas de governo: monarquia e república. Na primeira o poder é singular e na segunda pode ser aristocrático ou democrático. 

Forma de Estado: unitarismo/simples ou federativo. 

Regime político: autoritário, totalitário ou democrático.

> Sistema de governo: é a forma como o poder político de um país é dividido e exercido.

Ex: Funções e relações entre os três poderes no Brasil, presidencialismo, parlamentarismo.

Presidencialismo só funciona em repúblicas. E parlamentarismo funciona em repúblicas ou monarquias. 

> Formas de governo segundo José Afonso da Silva é o modo como se organizam as instituições sociais oficiais de poder em relação aos cidadãos e demais instituições sociais. Trata-se da fonte de poder dos governantes.

Ex: Monarquia ou república.

>Monarquia: forma de governo onde o poder é "hereditário" e "irrevogável".

>Monarquia absoluta: Quando o monarca exerce o poder sem questionamentos. Nesse caso o rei está acima do Estado.

>Monarquia constitucional: Passagem da monarquia absoluta, de origem feudal, para a monarquia em acordo com a ideologia burguesa, quando surge a separação de poderes (legislativo, executivo e judiciário). Nesse sentido há parceria entre o rei e o parlamento (três poderes).

Na monarquia parlamentar o rei certifica e ratifica as decisões dos parlamentares, que são eleitos pelos cidadãos. Assim o monarca é chefe de Estado e o Primeiro Ministro é o chefe de governo.

República:

República significa “coisa pública”, onde a preocupação do governo deve ser bem comum.

República é diferente da democracia em virtude da soberania popular. Desse modo a república pode ser uma ditadura, por exemplo. 

Atribuições dos três poderes:

* Poder Executivo:

> Responsabilidades administrativas.

> Gestão de recursos.

> Regulação do mercado.

> Criação de estruturas para o desenvolvimento do país. 

> Fazem parte do poder executivo: presidente, governadores, prefeitos, ministros e secretários.


* Poder Judiciário:

> Resolve os conflitos de origem pública e privada.

> Organização do modelo eleitoral e eleições.

> Organiza a documentação de quem pode participar das eleições.


* Poder Legislativo:

> Responsável pela criação das leis.

> Trabalha em harmonia com o poder executivo.


* Diferença entre deputados e senadores no poder legislativo federal:


> O legislativo federal se divide em Câmara dos Deputados e Câmara dos Senadores.

> A Câmara dos Deputados representa a população.

> A Câmara dos Senadores representa os Estados Federais e o Distrito Federal.

> Uma lei só pode ser sancionada com o apoio das duas Câmaras.


* Para que haja democracia é importante a governabilidade e a representação.

Documentário recomendado: Democracia em vertigem.


* Sistemas eleitorais:


a) Modelo majoritário: utilizado para o poder executivo.

b) Modelo proporcional: utilizado para o poder legislativo.


* Parlamentarismo: o executivo é escolhido pelo poder legislativo, eleito diretamente pela população.


* Presidencialismo: o executivo é escolhido pela população, assim como o legislativo.



quinta-feira, 15 de outubro de 2020

República

República é forma de governo em oposição à monarquia.

 ⁃ José Afonso da Silva: quem deve exercer o poder e como este se exerce.

 ⁃ Roma: República se tornou oposição à monarquia.

 ⁃ Monarquia: transferência de poder por hereditariedade e o líder político é o chefe do Estado.

 ⁃ República e liderança política, ou seja, o chefe do estado, pode ser uma pessoa ou um colegiado eleito pelo povo, direta ou indiretamente.

 ⁃ Origem latina: res publica significa coisa pública. Trata-se de uma organização de governo orientada pela coisa do povo, o bem comum da comunidade.

 ⁃ Referências teóricas: 

a) Cícero: república é o governo de acordo com o interesse comum, a lei e a justiça. E não se contrapõe à monarquia.

b) Idade Média: 

 ⁃ Regnum e civitas: ideia de república.

 ⁃ Res publica christiana: unidade e ordem da sociedade cristã. 

c) Bodin: república é o oposto aos governos violentos e anárquicos.

d) Kant: república é a realização da justiça a partir da constituição do direito público.

e)Montesquieu: república é o respeito pelas leis e pela dedicação do indivíduo à sociedade.

 ⁃ Formas de Estado:

 ⁃ Dessa forma de governo (república) surgiu a organização interna dos Estados (formas de Estado):

a)Forma unitária de Estado: todo o território nacional possui um único centro de administração política para todos os cidadãos. Ex: França.

b) Forma federativa de Estado: construção de um pacto federativo entre os estados, províncias ou distritos. Nesse caso a autonomia dos estados deve estar de acordo com o pacto federativo. 

Ex: Brasil e EUA.