segunda-feira, 2 de abril de 2018

Florestan Fernandes


Florestan Fernandes foi um importante intelectual brasileiro. Destacou-se por fazer parte do movimento intelectual responsável pela institucionalização da Sociologia no Brasil e suas produções são muito importantes para a compreensão da forma como as relações sociais são construídas na sociedade brasileira.


Até esse momento o passado social brasileiro não tinha explicação científica, porque não existia uma instituição para dar organicidade. Quem explicava o Brasil era o ISEB (Instituo Superior de Estudos Brasileiros) e o PCB (Partido Comunista Brasileiro). A sociologia logrou destituir essas duas matrizes de explicação do Brasil. Foi o momento de ruptura com a era pré-científica. 


Para Florestan Fernandes a Sociologia e o sociólogo se constituem em ciência e cientista. Ele separava a sociologia de uma prática. Para Florestan, a sociologia pode ser crítica, mas não deve tomar partido. Porque caso isso ocorra, perde a compreensão da realidade. Florestan trabalha com a ideia de processo. Não pensa que os atores podem, simplesmente, fazer mudanças. E essa motivação não é algo natural, e uma construção social.

Relação entre Florestan Fernandes e Caio Prado Junior:

O PCB, seguindo a dogmática da III Internacional, concebia que a revolução deveria ser etapista. Tal como foi na Europa. Acreditavam que não havia uma ordem capitalista no Brasil ainda (o Brasil para eles era feudal), por isso seria possível uma revolução socialista. 


Caio Prado, mesmo se posicionando contra essa tese (feudalismo no Brasil), permaneceu no PCB. Para ele, o que conferia organicidade no Brasil era a escravidão. O tráfico de escravos foi um elemento crucial para a acumulação de capital no Brasil. Seu conceito chave é o sentido da colonização. O elemento que estrutura a sociedade é a escravidão, que atende a interesses externos, uma vez que o Brasil “nasce” na lógica do mercantilismo. Por isso, acredita-se que não fomos feudais. Tanto que o nosso nome é referente a uma mercadoria.

Florestan, em sua crítica à elaboração teórica de Caio Prado, afirma eu este não valorizou os elementos internos da sociedade. Considera que Caio Prado não explica como os interesses externos se enraízam na sociedade. Por esse motivo não é possível explicar o Brasil. Para Florestan as relações sociais não foram plenamente capitalistas no Brasil porque a estratificação social de uma sociedade capitalista consiste na propriedade privada dos meios de produção, que produz a divisão em classes. Trata-se de uma ordem social competitiva, já que não é estamental. Portanto, a sociedade moderna se define pela competição.

Quando Florestan pensa a modernidade no Brasil investiga o papel da burguesia. Em sua obra A Revolução Burguesa no Brasil o autor analisa o processo histórico formador da sociedade brasileira. Significa para Florestan estudar um processo multidimensional, além de um simples modo de produção. Não se trata simplesmente de comparar o caso brasileiro com outros países, mas de analisar um estilo especial de revolução burguesa. A sociedade brasileira confere um estilo próprio à implantação e consolidação do capitalismo em seu interior e o principal personagem é a burguesia.

A diferença básica entre estamento e classe, dois princípios da organização social, consiste em que, no primeiro, um conjunto de indivíduos se agrega conforme um critério de inclusão ou exclusão em relação ao acesso ao conjunto de vantagens que se encontram em condições determinadas pelas relações sociais, tais como contatos e status, por exemplo. O problema é que nesse tipo de organização social existe uma situação de privilégios aos membros que fazem parte do estamento. De acordo com esse modelo de construção de relações sociais o estamento se caracteriza por inviabilizar a competição, que se constitui no elemento fundamental de uma sociedade cujas relações se assentam sobre classes sociais. Uma sociedade organizada em classes sociais estabelece a meritocracia a partir das ações individuais dos seus membros. Por isso é possível compreender que enquanto o estamento se constitui numa organização fechada em si, sem espaço para a mobilidade social, a classe possui como característica a mobilidade social pela competitividade.

Quando Florestan Fernandes realiza uma análise sobre a realidade brasileira constata que burguesia não pode ser considerada nos termos teóricos clássicos, porque ela opera também com estamentos. O que ele identifica em seus estudos é a emergência de uma classe numa sociedade organizada sob o princípio estamental. O processo que Florestan descreve não é revolucionário porque conserva o que já existe, a organização estamental, que possui caráter conservador. Pensar como foi feita a Revolução Burguesa no Brasil é importante porque se trata de refletir sobre o processo pelo qual a classe social se organiza e conquista condições para se estabelecer social, política e economicamente.

Alguns aspectos teóricos da produção de Florestan Fernandes sobre a Revolução Burguesa no Brasil devem considerados. Para Florestan houve revolução e a burguesia saiu vitoriosa. Mas não é classe, em termos teóricos, como o conceito prescreve. É um grupo social que age ora como classe, ora como estamento. Não precisou abrir mão de ser estamento. 


O autor utiliza os conceitos de classe e estamento para entender a realidade brasileira do ponto de 
vista sociológico. Trata-se de um processo que é econômico, político e cultural. Tais conceitos são considerados princípios que organizam a sociedade brasileira. A investigação do autor acerca do modo com a burguesia elabora a imagem da realidade brasileira, de acordo com os seus interesses, torna clara a percepção de que esse segmento social se forja como classe partindo de um princípio estamental de organização social, que se mantém como fundamento central. Nesse sentido o alcance aos bens socialmente valorizados é controlado estamentalmente, permanecendo a lógica da tradição. A burguesia opera em dois níveis, fazendo prevalecer a lógica estamental.

Nenhum comentário:

Postar um comentário