terça-feira, 3 de abril de 2018

Sérgio Buarque de Hollanda

No século XX alguns intelectuais se preocuparam em explicar a sociedade brasileira a fim de explicar a forma como os brasileiros constroem coletivamente a sua visão de mundo. Alguns autores se destacaram nesse processo. Sérgio Buarque de Hollanda foi um importante autor, utilizou a construção teórica de Max Weber sobre “tipo ideal” para desenvolver o conceito de “Homem Cordial”, para explicar o comportamento do brasileiro diante das instituições sociais.

Vejamos a seguir o modelo burocrático, que corresponde ao tipo de dominação racional-legal:
Características da burocracia:
Impessoalidade: relação em nível de cargos, e não de pessoas. A distribuição dos cargos é realizada de acordo com a formação técnica para o exercício da função.
Meritocracia: a escolha das pessoas para os cargos é baseada no mérito e na competência técnica. O processo de seleção é impessoal e formal.
Hierarquia: cada cargo inferior deve ser supervisionado pelo cargo automaticamente superior.
Rotina: o funcionário deve fazer o que a burocracia manda, não tem autonomia.
Previsibilidade: prever as ações através das normas.

Disfunções da Burocracia:
Pessoalidade: a distribuição dos cargos é realizada de acordo com as relações pessoais. Nesse tipo de relação não importa a formação técnica do funcionário para o exercício da função.
Categorização como base do processo decisório: o que possui o cargo mais alto tomará as decisões independentemente do conhecimento que possui sobre o assunto.
Exibição de poderes de autoridade dentro da estrutura hierárquica.
Dificuldade com clientes: o funcionário está voltado para o interior da organização.
A burocracia não leva em conta a organização informal e nem a variabilidade humana.
Fonte: http://www.geocities.ws/vanio_coelho/MaxWeber.htm (adaptado)

O funcionamento de uma empresa é um excelente exemplo para pensarmos as relações de cordialidade na sociedade brasileira. Outro exemplo muito interessante para pensar a dificuldade do brasileiro em se adaptar às instituições oficiais de poder é a corrupção. As normas jurídicas, cujo caráter é impessoal, são constantemente violadas no Brasil a fim de satisfazer interesses pessoais. A cordialidade, segundo Sérgio Buarque de Hollanda, se localiza na dificuldade do brasileiro em se adaptar ao tipo de comportamento que corresponde à impessoalidade das normas e regulamentos que correspondem ao tipo de dominação racional-legal construído por Max Weber.
Faz-se necessário compreender a corrupção como um fenômeno que se encontra localizado na cultura produzida pela sociedade brasileira. Para compreender tanto a corrupção quanto a pessoalidade nas empresas, é possível utilizar a construção teórica de Sergio Buarque de Hollanda sobre a cordialidade do brasileiro.

Outro importante intelectual que pensou as relações sociais no Brasil foi o sociólogo Oracy Nogueira. Em sua obra Preconceito de Marca e de Origem o autor compara o Brasil e os Estados Unidos em relação à prática de discriminação racial. Enquanto nos EUA o preconceito racial se manifesta pela ascendência do indivíduo, no Brasil o preconceito se intensifica na medida em que ocorre o escurecimento do tom da pele. Existe uma resistência por parte do indivíduo afrodescendente em declarar sua origem étnica. Isso acontece em virtude da discriminação que existe contra as características físicas e culturais da população africana, escravizada no Brasil. A beleza no Brasil se encontra dissociada dos atributos físicos da população africana. Nesse sentido a ideologia da miscigenação, presente na obra do autor, encontra solo fértil e pode ser observada desde o processo de imigração europeia até os casos de bullying identificados nas escolas de educação básica. Os movimentos sociais que reivindicam políticas públicas compensatórias são constantemente questionados quanto à legitimidade de suas reivindicações, por segmentos sociais que não consideram que exista algum tipo de preconceito que impeça a ascensão social dos indivíduos afrodescendentes na sociedade brasileira. Para compreender melhor o processo histórico que legitima as reivindicações da população afrodescendente, vejamos o que pensa o ilustre pensador brasileiro Darcy Ribeiro sobre a questão racial.

Interessante como as elites brasileiras conseguem, em pleno século XXI, sustentar uma ideologia que tem por finalidade a desqualificação da população afrodescendente e pobre, que reside em comunidades carentes. A caracterização do pobre como responsável pelo atraso, pela violência e pelo crime se encontra vinculada à ideia de que o pobre é responsável pela sua condição, por preguiça. O que se encontra em oculto é a negação histórica de direitos sociais que atendam de fato às necessidades da população pobre e afrodescendente. Há quem sustente que o Estado brasileiro possui dificuldades em promover a igualdade de acesso aos bens simbólicos e materiais disponíveis na sociedade. Mas, de acordo com o texto do antropólogo Darcy Ribeiro, é evidente que os responsáveis pelo controle do Estado não possuem nenhum tipo de interesse em permitir que haja cidadania para a população historicamente marginalizada. Porque, desse modo, preserva seus privilégios, impedindo a mobilidade social, característica de uma sociedade capitalista, estruturada em classes sociais.

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