quinta-feira, 5 de setembro de 2019

August Comte

Auguste Comte (1798 - 1857)

A contribuição de Comte foi fundamental tanto para o surgimento da Sociologia como disciplina científica quanto para a Antropologia, na medida em que torna possível entender em suas obras qual era o modo como os intelectuais compreendiam o mundo naquela época. Ele era um filósofo francês que pensava as sociedades a partir de três princípios básicos.

a. Prioridade do todo sobre as partes, ou seja, para compreendermos um determinado acontecimento que existe numa sociedade é preciso antes entender o contexto social do qual faz parte. Um exemplo muito pertinente é fenômeno da precariedade da segurança pública na cidade do Rio de Janeiro. Muito se fala sobre soluções imediatas para combater as pessoas que agem fora da lei, mas pouco se pensa sobre as condições que podem ter contribuído para que uma criança, por exemplo, trabalhe em atividades ilegais.

b. Progresso do conhecimento, que é algo capaz de impulsionar as sociedades humanas para o melhor destino possível. Nessa época havia a crença de que o progresso científico reorganizaria a vida em sociedade dos seres humanos, de modo a reduzir progressivamente os fenômenos que pudessem prejudica-los.

c. O homem possui características universais em sua essência (constituição biológica e sistema cerebral), e é a partir dessa compreensão que ele concorda com a teoria darwinista social.

De acordo a ideia dos princípios básicos o autor concluiu que todas as sociedades humanas possuem o mesmo destino cultural. O que o autor compreende por sociedade avançada consiste num determinado sistema de classificações (cultura) será alcançado por todas as sociedades de forma progressiva e com a mesma trajetória. Trata-se de uma perspectiva evolucionista, forma de pensamento predominante na época (século XIX). Foi a partir da perspectiva evolucionista que o autor desenvolveu a lei dos três estados:

1. Estado teológico ou fictício, subdividido em fetichismo, politeísmo e monoteísmo: nesse estágio de evolução os seres humanos explicam o mundo que o cerca através de histórias que envolvem seres que não se encontram no mundo em que vivemos. Esses seres que vivem no mundo sobrenatural, isto é, além do mundo em que vivemos que é natural, material, porque o vemos e sentimos seus fenômenos, como a chuva, o calor do sol e o vento, por exemplo. É comum nesse estágio de evolução que a explicação para os fenômenos desconhecidos seja buscada nos seres imateriais, popularmente chamados de deuses. Dentro desse entendimento o filósofo destacou três tipos de estágio teológico/fictício, denominados:

a. fetichismo: explicação da vida humana a partir de forças sobrenaturais cuja origem se encontra em animais ou criaturas inanimadas. Isso significa considerar, por exemplo, que objetos concretos, que fazem parte do cotidiano das pessoas, possuem vida e poderes. E desse modo seria possível explicar a vida humana e o mundo que a cerca.

b. politeísmo: as características da natureza humana possuem sua origem nos deuses. Nesse sentido acredita-se existem seres num mundo diferente do nosso. Esses seres têm poderes e vontade própria, além da capacidade de intervir nas relações entre os homens em nosso mundo.

c. monoteísmo: há somente em um Deus, que é um ser sobrenatural, uma vez que se encontra em outro mundo, que possui poderes, vontade própria, podendo intervir nas relações humanas.

2. Estado metafísico ou abstrato: nesse período os filósofos se dedicam ao estudo da metafísica, busca pelas causas primeiras e pela essência dos entes (seres).

     Metafísica é o que se localiza além do mundo físico, material, que pode ser identificado pelos sentidos. A diferença entre o estágio teológico e o metafísico é que nesse não se buscam explicações em seres que transitam entre o mundo material (natural) e o mundo imaterial (sobrenatural). Os filósofos metafísicos buscavam explicações racionais para a origem do mundo que os cercava. Tais explicações eram buscadas através das ideias racionalmente construídas, o que não se verifica no estágio teológico, onde a razão é submetida à vontade dos deuses, por exemplo.

3. Estado positivo ou científico: momento de substituição da Filosofia pela ciência em sua trajetória de investigação acerca do princípio e fim do universo. Caberia ao conhecimento científico estabelecer as leis e regularidade e acontecimento e realidade dos acontecimentos que pudessem ser observados.

     Quando falamos em conhecimento científico estamos nos referindo ao conhecimento que é resultado de diversas pesquisas realizadas por cientistas, que são pessoas que dedicaram muito tempo, como muitos anos de estudos, sobre um determinado assunto. Como exemplo podemos citar o cientista político, que é alguém que dedicou alguns anos da sua vida a realização de leituras que o tornam capaz de olhar para a realidade e interpretá-la a partir do conhecimento que adquiriu com as leituras que fez. Nesse sentido é o repertório teórico que torna o cientista político mais capaz de interpretar de modo científico as relações de poder que existem nas sociedades humanas.

     Cada época possui um conjunto de normas que os cientistas devem respeitar em suas respectivas áreas. Imagine um cientista político que atualmente decide declarar publicamente que o conjunto de direitos humanos não deve contemplar todos os seres humanos. Como atualmente no campo de produção científica das ciências humanas o conjunto de direitos humanos é estabelecido para todos os seres humanos, nenhum cientista pode questionar essa afirmação.

O que torna científico o resultado de uma pesquisa sobre um determinado assunto é o respeito ao conjunto de procedimentos e normas que estão em vigor em determinada época e em determinadas áreas de conhecimento. Quem organiza os procedimentos e normas são cientistas, pessoas especializadas em suas áreas de estudos. É desse modo que a declaração de um cientista político será considerada verdadeira.

     Com o passar do tempo, como as pesquisas científicas não param, mas permanecem sendo realizadas, é possível que exista o aperfeiçoamento de uma descoberta científica ou a substituição por uma nova descoberta. Um exemplo bem interessante é a questão racial na sociedade brasileira. Na época do trabalho escravo os afrodescendentes eram considerados menos capazes do que os descendentes dos europeus. Hoje já sabemos que independente da origem étnica, todos os seres humanos possuem diferentes tipos de inteligência, para diversos tipos de trabalho. Isso quer dizer que a compreensão anterior foi substituída por uma nova, que desconsidera que pessoas de diferentes etnias são naturalmente desiguais de modo hierárquico.

Para Comte as ciências abstratas se localizam na base das sociedades e delas dependem as ciências concretas. Foi construída pelo autor uma hierarquia de disciplinas: matemática, astronomia, física, química, biologia e sociologia.

Entre todas as disciplinas a sociologia é a mais importante porque se constitui na síntese das ciências humanas (Filosofia, História, Moral, Psicologia, Política, Economia). Comte acredita que o estudo das relações entre as pessoas é a mais importante produção de conhecimento.
Comte dividiu a Sociologia em duas importantes áreas:

a. Estática social: pesquisa acerca do que há de permanente nas sociedades, trata-se da ideia de ordem. Para compreender a estática social é só lembrar que existem coisas que são iguais em todas as culturas, porque fazem parte da estrutura social de todas das sociedades humanas, tais como a distribuição das riquezas, educação dos mais jovens, relações poder e regras de parentesco.

b. Dinâmica social: pesquisa acerca do processo de desenvolvimento histórico das sociedades, trata-se da ideia de progresso. Para entender o que é dinâmica social basta lembrar que a partir da estrutura social os seres humanos classificam o que é bom ou ruim para a vida em sociedade. Trata-se dos sistemas de classificações coletivas. A dinâmica social, desse modo, corresponde à estratificação social, porque é o desdobramento da estrutura social. Por exemplo, em todas as culturas os mais jovens são educados, isso é estrutura social; mas o tipo de educação muda conforme a época e o lugar, por esse motivo é o desdobramento da estrutura social, que chamamos de estratificação social, ou seja, o tipo de educação específico de uma determinada cultura, assim como as relações de poder, distribuição das riquezas e regras de parentesco.
Comte realizou a ruptura com a construção teórica contratualista, segundo a qual os indivíduos dão origem à sociedade, mas o contrário.

Com a intenção de reorganizar as instituições dilaceradas pelas revoluções francesa e industrial, tanto Saint- Simon quanto Comte dedicaram-se a pensar acerca da possibilidade de criação de uma religião orientada por uma moral que fosse capaz de promover a solidariedade necessária à nova ordem social, política e econômica.

No Brasil a construção teórica positivista influenciou as ideias que motivaram o processo de independência, cuja premissa se encontra na bandeira nacional: ordem e progresso.

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