quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Max Weber

Max Weber (1864-1920)

Contribuição de Max Weber para a construção da Sociologia como disciplina científica. Max Weber foi um importante autor para construção da Sociologia como disciplina científica, na Europa, sobretudo na Alemanha, onde nasceu. Suas ideias refletem o momento histórico em que viveu. A Alemanha vivenciou seu processo de industrialização de modo tardio, em relação à Inglaterra e a França, cuja burguesia se desenvolveu ainda no século XVIII, mesmo período em que nasceram o 

Positivismo e o Evolucionismo. Essas correntes teóricas deram origem ao início de construções sociológicas que visavam desenvolver métodos que fossem capazes de explicar as transformações daquela época.

Para compreender a natureza, ou seja, a origem das ações das pessoas na vida em sociedade Max Weber construiu um método muito interessante. Sua construção teórica ficou conhecida como Sociologia Compreensiva, porque busca a compreensão das relações estabelecidas na vida em sociedade. Seu objeto de estudo é a ação social do indivíduo em relação à sociedade. A ação social possui um caráter subjetivo e seu método consistiu em estabelecer comparações para estudar a realidade social na medida em que se encontra centrada:

a. em relações humanas;

b. no desenvolvimento das sociedades orientais e ocidentais, buscando semelhanças em situações históricas semelhantes.

Tipo ideal: relação indivíduo e sociedade.

Tipos ideais são modelos construídos a partir de um conjunto de características comuns. De acordo com o tipo ideal é possível compreender as ações dos indivíduos na vida em sociedade. Trata-se da criação de conceitos que servem como instrumentos metodológicos para medir a realidade. As atitudes explicam a conduta social. Estudar a natureza e operação desses fatores, considerando que são influenciados por outras ações individuais constitui o caminho para se compreender a situação social e entender as intenções.

● Ação social: qualquer comportamento humano, com referência a outro ser humano, podendo ocorrer no passado, presente ou futuro, com uma prevenção. Nesta ação não há necessidade de um terceiro indivíduo.

● Relação social: a unidade mínima é o indivíduo, que se refere ao outro. É o conjunto de ações sociais, por interação.

● Oportunidade: conjunto de possibilidades existentes, em que haja reciprocidade.

● Estrutura social: existe se houver oportunidade, ainda que todas as estruturas mudem. Quanto menos forem as oportunidades, mais frágeis serão as estruturas.

● Principais tipos de atividades sociais:
a. Societária: regulada de acordo com um estatuto, regulamento estabelecido pela vontade dos membros.
Exemplo: centros acadêmicos em universidades (instituições de ensino superior).

b. Entendimento: estrutura social que não repousa em nenhum estatuto.
Exemplo: grupo de amigos.

c. Institucional: estatuto editado (em geral), regulamentado explicitamente, que independe da vontade dos membros.
Exemplo: família.

d. Agrupamento: estrutura a qual o indivíduo adere espontaneamente, sem que haja um regulamento explícito ou sequer definido. Trata-se da submissão a uma autoridade que exerce uma atividade que pode gerar um constrangimento sobre os membros.
Exemplo: liderança carismática.

Tipos ideais de ação social:

Conceito vinculado necessariamente ao comportamento humano. Nem toda ação é uma ação social. 

A ação social é a mais primária entre todos os indivíduos porque possui uma motivação, um significado, um sentido subjetivamente visado para você e para o outro. Nesse sentido a reciprocidade é indispensável.

a. Ação tradicional (irracional): encontra-se arraigada no comportamento, resulta do estímulo do cotidiano. Determinada pelo hábito. Trata-se de uma prática tão comum em seu cotidiano É tão irracional que o indivíduo nem percebe.

b. Ação afetiva (irracional): encontra-se relacionada ao sentimento de satisfação imediata. O indivíduo satisfaz suas necessidades, de naturezas diversas. Trata-se de agir em função das paixões momentâneas. Esse tipo de ação opera sentimento. Esta subjetividade deve ser analisada para que haja regularidade.

c. Racional Moral (visando valores): trata-se do comportamento norteado por perspectivas de valor (moral de convicção). Esse tipo de ação é norteado por perspectivas de valor (moral de convicção). A decisão é sustentada por princípios.

É MUITO IMPORTANTE PERCEBER QUE A AÇÃO RACIONAL MORAL É DIFERENTE DA AÇÃO TRADICIONAL.

→ “Os julgamentos de valor são pessoais e subjetivos... O julgamento de valor é uma afirmação moral ou vital, a relação aos valores é um procedimento de seleção e de organização da ciência objetiva”

→ “O problema da escolha dos valores nos introduz a ética da convicção, que incita a agir de acordo com os nossos sentimentos, sem referência, implícita ou explícita, às consequências. Weber dá dois exemplos: o do pacifista absoluto e o do sindicalista revolucionário.

O pacifista absoluto se recusa incondicionalmente a portar armas e matar seu semelhante. Se ele pensa que irá impedir as guerras com essa recusa, é um ingênuo e, no plano da moral da responsabilidade, ineficiente. Mas se seu objetivo é simplesmente agir de acordo com a sua consciência e se a própria recusa é o objeto de sua conduta, se torna sublime ou absurdo, não importa, mas não pode ser refutado. Quem proclama: antes a prisão e a morte do que matar seu semelhante está agindo de acordo com a ética da convicção. Pode-se não lhe dar razão, mas não se pode demostrar que está enganado, pois o ator não invoca outro juiz a não ser sua própria consciência, e a consciência de cada um é irrefutável medida em que não tem a ilusão de transformar o mundo, e a única satisfação que ambiciona é a própria fidelidade. No plano da responsabilidade, pode ser que os pacifistas não contribuam para suprimir a violência, mas apenas para a derrota da sua pátria. Estas objeções, contudo, não preocupam os moralistas da convicção. O mesmo acontece com o sindicalista revolucionário, que diz não à sociedade, indiferente às consequências imediatas ou a longo prazo da sua recusa; na medida em que tem consciência do que faz, ele escapa às críticas científicas ou políticas dos que se colocam no plano dos fatos.”

Fonte:
ARON, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico; tradução Sérgio Bath. – 7ª ed. – São Paulo: Martins Fontes: 2008. – (Coleção Tópicos)
d. Ação racional com finalidade: trata-se da ação planejada visando um objetivo definido. A motivação possui a responsabilidade como fio condutor da ação. A racionalidade norteia esse tipo de ação.

Estado e Sociedade

Tipos ideais de dominação legítima: relação entre Estado e sociedade:

Poder

Em geral entendemos por poder a possibilidade de um indivíduo, ou de um grupo de indivíduos fazer com que sua vontade seja atendida em uma ação comunitária, inclusive contra a resistência dos que fazem parte do grupo. O sentido da ação comunitária é determinada pelos líderes. A relação entre líderes e liderados são relações de poder e dominação, se há resistência ou consentimento. O que determina o tipo de dominação é o que os seguidores têm em mente, o motivo pelo qual obedece, a partir do motivo é possível identificar o tipo de dominação.

Dominação e Legitimidade

A dominação é um caso especial de poder, ocorre quando há legitimidade, consentimento, aceitação.
Há dois tipos de legitimidade: extraordinária e de rotina diária.

Rotina diária

Em relação à rotina diária há dois tipos: tradicional, patrimonial; racional-legal (burocrática).
Tipo puro de dominação: quando uma comunidade ou indivíduo se considera em rotina diária.
Momento em que as situações acontecem como deveriam, ou seja, que estão certas de acordo com a perspectiva de quem obedece, então ocorre a legitimidade.

Momento extraordinário

Momento extraordinário: exige a existência de uma pessoa cujas ações não sejam norteadas pela tradição nem pela racionalidade. Essa pessoa possui legitimidade porque quem a obedece acredita que ela cumprirá uma missão, porque possui dons extraordinários de corpo e de espírito, para conduzir seus líderes para a rotina diária. Ou seja, as qualidades dessa pessoa devem conduzir a comunidade para a tradição ou para a racionalidade. O término ou falha do cumprimento da missão faz com que os liderados desconsiderem o líder carismático. A condução da comunidade ao estado de rotina diária, normalidade deve acontecer.

Política

Segundo Max Weber por política compreende-se qualquer tipo de liderança independente em ação. A ação política do Estado se define por seus meios específicos e peculiares: a violência. As relações de poder entre Estado e sociedade se estabelecem por meio da ação política, podendo ser utilizada a força física. A violência não o único meio de ação do Estado. O conceito de Estado só existe porque existem instituições sociais que conhecem o uso da força física. A violência legítima é exclusiva do Estado em seu território e se alguém além do Estado o faz é com a sua permissão. Isso significa que se existe na sociedade brasileira o emprego do uso da violência física é porque o Estado permite ou o faz diretamente por meio da sua força policial. A ação da polícia na sociedade é legal e legítima. É legal porque se encontra amparada pela lei e legítima porque existe aceitação por parte da população.

Dominação legítima: tipos mais puros.

a. Tradicional: é irracional e possui como principais características a hereditariedade e hierarquia. Precede a dominação racional-legal.
Exemplo: coronelismo, realeza, patrimonialismo, ou seja, relações de poder personalizadas.

b. Carismática: é irracional e quem obedece ao líder o faz porque acredita que ele possui características excepcionais para resolver uma situação de crise. O líder carismático existe porque há um momento extraordinário. É sua função executar a missão que se encontra em seu poder e conduzir a comunidade à rotina diária. Exemplo: Fascismo.

c. Racional-legal: existe obediência à um determinado conjunto de regulamentos registrados por escrito. A obediência existe em relação ao estatuto.
Exemplo: burocracia.

Ciência e política: duas vocações.

Política como vocação: é possível a ação política por vocação?

A palavra política encontra-se empregada pelo autor no sentido da sua orientação. Quem faz política almeja o Estado, porque deseja a intervenção por meio do uso legítimo da força física. O consentimento pode ser alcançado por meio da rotina diária ou por meio do momento extraordinário.

É possível viver a política de dois modos distintos:

1.Viver da política: político profissional. O jornalista é um exemplo de político profissional, porque embora não almeje o Estado faz uso da palavra impressa para defender quem lhe beneficiará futuramente. Trata-se do demagogo.

2.Viver para a política: político que defende uma causa, não precisa da política para ter dinheiro. Participa da vida política a fim de contribuir. O político por vocação deve possuir três qualidades:

2.1. Paixão: deve existir moderadamente e não pode predominar sobre as demais. Essa paixão não se relaciona com a emoção, mas com uma objetividade latente.

2.2. Senso de responsabilidade: o político deve avaliar as consequências da sua conduta.

2.3. Senso de proporção: o político deve ser capaz de permitir que a realidade atue sobre ele sem perder o equilíbrio. Por isso é necessário o desapego.

Max Weber não considera que haja problema em existirem alianças políticas, mas o político deve possuir habilidade para construir as alianças políticas. Do ponto de vista ético e legal realmente não há problema, todavia deve ser analisado cautelosamente o jogo de forças, a fim de que não se perca o controle. Entre adversários ideológicos em algum tipo de aliança política, a traição não é condenável, somente entre lados regidos pelo mesmo princípio ideológico.

Como o ser humano não gosta de ser contrariado, a política é um meio para o exercício de dominação. Por isso a legitimidade é importante para as relações de poder estabelecidas em sociedade. É através da legitimidade, ou seja, da aceitação do outro ao nosso comando que conquistamos o que desejamos.

Ética e Política

Ética e política se relacionam na medida em que a ética reflete a criação das regras pelos homens e a política implica numa intervenção sobre alguém. Como não há consenso nem neutralidade absoluta num corpo social sempre haverá alguém contrariado. É possível identificar dois tipos de ética:

a. Convicção ou de valores: referente aos princípios absolutos, as ações do político estão voltadas para o benefício próprio, num plano moral.

b. Responsabilidade: referente às ações do político em relação ao grupo. São morais as ações que forem úteis para a coletividade.

Ciência como vocação:

O que a ciência tem a dizer sobre a vida de cada indivíduo?
Como alguém pode se dedicar a algo que exige superação?

A ciência foi responsável pelo processo de desencantamento do mundo, caracterizou a retirada da religião, da magia, do estado teológico, do fetichismo, do sobrenatural das explicações acerca das relações entre os homens e a natureza. Essa é a pretensão da ciência, promover o desencantamento, ou seja, explicar de modo racional o que antes era atribuído ao sobrenatural.

A ciência responde certas questões de forma diferente. São questões que somente as universidades e as associações científicas respondem. A produção científica não possui como objetivo promover o cientista, mas, sobretudo o conhecimento nela contido. Quando o cientista faz uso do conhecimento para se promover se dedica a si mesmo e não à ciência em si. O cientista é percebido pelo autor como alguém que está sujeito a ser superado. A ciência deve possuir um valor em si mesma, não é neutra porque é refutável e deve ser protegida contra valores que não sejam os seus. A ciência implica racionalização, com latente valorização do cálculo, a fim de promover a maximização do lucro na moderna sociedade capitalista.

A ética protestante e o espírito do capitalismo.

Para viver o espírito do capitalismo o indivíduo precisa ser um asceta. O capitalismo por si mesmo não engendrou a conduta asceta, quem a criou foi o protestantismo, mais especificamente o calvinismo.

Os protestantes são pessoas dotadas de uma disciplina própria da religião. Esse ethos diante da vida e do trabalho favoreceu o desenvolvimento do capitalismo nas sociedades cuja religião predominante foi a protestante.

O tipo ideal de conduta religiosa capaz de promover o desenvolvimento do capitalismo qualitativamente foi a protestante calvinista. O ascetismo católico e luterano não foi capaz de contribuir significativamente porque para o primeiro deve ser esperada uma recompensa após a morte, e para o segundo a ação humana é dispensada como elemento que torna possível a salvação, reafirmando a concepção tradicionalista da vida na Terra.

Na Alemanha do tempo de Weber os homens de negócios bem sucedidos, proprietários de capital,
assim como os trabalhadores mais bem sucedidos em sua carreira profissional eram, em sua maioria, protestantes.

A reforma protestante promoveu a inovação das formas de controle sobre o cotidiano das pessoas. Isso aconteceu porque diferente dos católicos, que preferiam, majoritariamente, a aprendizagem oferecida pelos ginásios humanísticos, os protestantes optavam, em sua maioria, pelo ensino ofertado em instituições que valorizavam o saber técnico para execução de funções comerciais e industriais. 

Nesse contexto social o homem encontra-se envolvido pela ideologia de que a aquisição de dinheiro é a finalidade da vida, mas não se trata de ganhar dinheiro de qualquer modo, mas de forma honesta, de acordo com parâmetros estabelecidos em leis instituídas. Esse tipo de aquisição de dinheiro é reflexo do modelo ensino a que o protestante foi submetido, ao formato de educação que recebeu. A disciplina foi indispensável para o êxito dos protestantes na nova ordem econômica.

A aquisição do dinheiro não destinada à conquista de bens materiais, mas para realizar a multiplicação por meio da maximização constante do lucro.

A honestidade também foi importantíssima para o desenvolvimento do capitalismo. Weber identificou que, onde o desenvolvimento burguês-capitalista, de acordo com os padrões ocidentais, se encontrava atrasado, as pessoas não se preocupavam em ganhar dinheiro de modo honesto em relação às leis vigentes.

O capitalismo não é um sistema, mas, sobretudo, uma ação racional relativa a fim, ou seja, à maximização constante do lucro na moderna sociedade capitalista. A principal motivação para o capitalismo é o seu “espírito”, fazer do capitalismo um valor em si mesmo, na medida em que usa o dinheiro com a finalidade de gerar mais dinheiro. Essa perspectiva tem origem no modo de vida calvinista. O ethos foi o hábito proveniente de uma educação que criou valores, normatizou comportamentos e atitudes diante da vida e do trabalho.

O protestante é o sujeito coletivo, ainda que a sua ação seja individual, porque o social só existe se cada um vivê-lo. Nesse caso o espírito do capitalismo só existe se o sujeito, em ação individual, viver a sua representação. Porque toda e qualquer criação carece de atores sociais para representá-la. Mas não se trata aqui de qualquer protestantismo, mas um tipo específico, cuja ação dos seus membros é racional relativa a valores, que não exclui a existência de uma finalidade, que é a salvação.

Para o católico a sua igreja detinha o poder de determinar quem seria salvo, o absolvia e realizava um sistema de compensações, para o calvinista sua vida deveria corresponder a um método específico de conduta, ou seja, uma rígida disciplina. Era uma conduta que conduzia o cristão à salvação. Houve a substituição da ética católica, que consistia na existência de uma aristocracia espiritual dos monges, pela ética da predestinação. Ao contrário dos monges, que ocupavam uma posição social à parte do mundo, os protestantes predestinados eram pessoas que formavam um novo segmento social, igualmente valorizado por Deus, mas inseridos no mundo.

No processo de construção da ética asceta protestante calvinista foi realizada uma sistematização das informações contidas no Velho Testamento, que embora possuísse uma moral tradicionalista, estavam também componentes que favoreceram o desenvolvimento do pequeno-burguês, principalmente nos livros intitulados Salmos e Provérbios. A raiz do perfil utilitário da ética calvinista localiza-se no ideal de vocação como área estabelecida para a realização de determinada atividade.

A doutrina da predestinação possui natureza na convicção de Calvino acerca da sua salvação, que estava centrada na confiança depositada em Cristo. Era a fé persistente, em última instância, o único elemento capaz de diferenciar os eleitos dos não eleitos, uma vez que as experiências de ambos podem ser semelhantes.

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