quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Karl Marx (completo)

Karl Marx (1818-1883)

Origem do socialismo científico:

Assim como Émile Durkheim e Max Weber, Karl Marx analisou as transformações nas relações sociais após a Revolução Francesa e a Revolução Industrial. As precárias condições de sobrevivência a que eram submetidos os operários nas fábricas chamou atenção de outros pensadores, que ficaram conhecidos como socialistas utópicos. E foi Marx, com seu colaborador Friedrich Engels (1820-1895), que fundou o socialismo científico. Em sua famosa obra O Manifesto do Partido Comunista, identificou que desde a antiguidade havia duas classes em luta, e que o desenvolvimento do capitalismo deu origem a dois grupos sociais em conflito, por possuírem interesses antagônicos: a burguesia e o proletariado.

Engels foi importante para o desenvolvimento do socialismo científico porque além de produzir com Marx, contribuiu significativamente para divulgação das ideias de Marx como uma possibilidade concreta, ou seja, como uma visão de mundo alternativa ao capitalismo. Participou, junto com Marx, intensamente, da primeira internacional (federação internacional dos trabalhadores: 1864 – 1876) e esteve na presente na formação da segunda internacional (federação internacional dos trabalhadores: 1889 – 1914). Com o falecimento de Marx, Engels dedicou-se intensamente à organização dos volumes dois e três da principal obra de Marx: O Capital. Engels faleceu com câncer após iniciar o quarto volume.


Socialismo utópico: Corrente de pensamento formada por autores que se encontravam insatisfeitos com as consequências do desenvolvimento do modo de produção capitalista. Entre tais autores se destacaram o britânico Robert Owen (1771-1858), os franceses Henri de Saint-Simon (1760-1825), François-Charles Fourier (1772-1837) e Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865). Embora todos tenham sido criticados por Marx no Manifesto do Partido Comunista, havia algumas diferenças entre suas construções teóricas.

Socialismo utópico:

Para Saint-Simon e Charles Fourier as teorias iluministas acerca do caráter do ser humano foram responsáveis pelo caos consequente da Revolução Francesa.


Segundo ambos havia algo que nascia com o ser humano e que haveria harmonia nas relações sociais se fosse criado um processo de acomodação para reorganizar a vida em sociedade. Para Owen não havia algo inato no ser humano e seu conjunto de atributos individuais é formado a partir de situações externas. Desse modo, para Owen, deveria haver uma reorganização da sociedade no sentido de favorecer a construção de relações que despertassem nas pessoas o desejo de cooperação e não de competitividade. Assim a sociedade caminharia para a passagem do conflito para a harmonia.


PETCIS/UERN: Anarquismo e socialismo utópico.


Proudhon foi o primeiro teórico a fazer uso do termo “anarquia” com a intenção de favorecer os interesses dos operários. Segundo o autor a anarquia representava uma organização social sem qualquer forma de governo que estivesse localizada acima da vontade coletiva.

O fundamento teórico do anarquismo enquanto tendência política encontra-se em seus escritos. A emancipação dos operários deveria ser realizada por meio de uma organização econômica, por cooperação mútua.

Com a divisão social do trabalho os artesãos foram separados das suas ferramentas de trabalho. Na 
Inglaterra foi realizado o cercamento dos campos, no início do século XVII, forçando as pessoas a migrarem do campo para as cidades. Também foi criado um conjunto de leis que favoreceram esse processo. Embora a produção artesanal ainda se encontrasse presente nas manufaturas, os operários já estavam submetidos ao controle do capitalista, proprietário da manufatura e, desse modo, proprietário dos meios de produção. Essa separação entre os trabalhadores e suas ferramentas de produção, segundo Marx, promoveu o estado de alienação porque se estabeleceu uma relação de estranhamento entre o operário e o artigo construído. Por exemplo, se antes da divisão social do trabalho o artesão conhecia todas as etapas da confecção do artigo, após a especialização da mão-de-obra ele passa a executar somente uma etapa. Além disso, o artigo deixou de pertencer a quem o fez, tornou-se propriedade do burguês, novo proprietário dos meios de produção.


http://petcis.blogspot.com.br/2011/05/seminario-de-leitura-da-divisao-do.html

De acordo com a perspectiva teórica de Karl Marx, a sociedade capitalista, além de promover o assalariamento do trabalhador, assim como a sua alienação, promoveu também a transformação do valor dos bens produzidos. Esses deixaram de possuir por finalidade um valor de uso para adquirirem valor de troca. Nesse sentido é possível perceber que o sistema capitalista transforma tudo o que é produzido em mercadoria. A partir do momento em que os bens foram transformados em mercadorias o trabalhador também se tornou uma mercadoria. Esse processo foi denominado por Marx como fetichismo da mercadoria e reificação do trabalhador. O processo de fetichismo da mercadoria pode ser verificado quando a mercadoria é tão valorizada que sobrepõe a seu valor de uso. Essa supervalorização da mercadoria passa a orientar as relações entre as pessoas. A reificação do trabalhador é constituída pela transformação dos seres humanos em “coisas”. Isso significa a desumanização do ser humano, corresponde à sua conversão em mercadoria. O processo de alienação não se encontra restrito às formas de produção de bens, mas também ao modo como as pessoas passam a consumir, ou seja, a adquirir bens.

Com a finalidade de produzir uma sociedade de consumo capaz de promover a maximização constante do lucro, a classe dominante criou uma ideologia que impedisse que a classe operária percebesse a situação de exploração em que vivia. Por ideologia compreende-se um conjunto de ideias capazes de orientar a prática social de um determinado grupo de pessoas.
A França do século XVIII foi analisada por uma historiadora contemporânea, chamada Michelle Perrot. Em seus estudos verificou que dois tipos de disciplina foram responsáveis pela reorganização do mundo do trabalho, o militar e o religioso. A disciplina militar traz em seu bojo a hierarquia e a organização em fileiras, a religiosa possui como característica o silêncio. Desse modo, nas fábricas, foi construída uma estrutura com rígida supervisão e penalidades, a fim de evitar que as regras fossem violadas. Essa nova estrutura do mundo do trabalho reorganizou a sociedade contando com o apoio de instituições sociais, tais como escolas, igrejas, manicômios, cárceres, reformatórios, asilos e quartéis. Coube ao Estado assegurar que essas instituições legitimariam a nova ideologia do trabalho.

Segundo o cientista social e escritor canadense Erving Goffman as instituições sociais desempenham funções importantes na sociedade porque são responsáveis pela modelagem do “eu” individual. Em sua obra Manicômios, prisões e conventos as instituições totais são analisadas minunciosamente pelo autor. Em tais lugares o ingresso do indivíduo caracteriza um momento de ruptura não espontâneo com os atributos individuais humanos, ou seja, com a identidade individual. Trata-se, em última instância, da adesão compulsória ao novo conjunto de atributos, institucionais, que possuem como finalidade a padronização de comportamentos, anulando, desse modo, qualquer tipo de manifestação individual que não esteja previsto no conjunto de regras estabelecidas.

A construção de uma ideologia, assim como a sua difusão, foi indispensável, porque era necessário que os membros da nova sociedade além de obedecer as regras as instituídas as percebessem como benéficas e naturais. Esse processo de naturalização de uma ordem socialmente construída criou nas pessoas a sensação de que aquele modelo de estrutura social era o único possível, reduzindo as possibilidades de resistência e de conflito.

A ideologia liberal foi muito eficiente porque além de criar instituições que legitimassem uma determinada visão de mundo, ou seja, que fossem aceitas pela classe operária como única e possível, também contribuiu para a formação de uma sociedade de consumo, a fim de promover a maximização constante dos lucros dos burgueses, classe social proprietária dos meios de produção. A associação do consumo à felicidade foi fundamental para favorecer esse processo. Esse movimento foi possível porque foi realizada a mercantilização da cultura, onde, segundo Marcuse, importante crítico do capitalismo, a produção cultural passa a atender interesses específicos. Acontece, portanto, a desvalorização da produção cultural em prol do mercado. Fica evidente, portanto, que a mercantilização da cultura corresponde exatamente aos conceitos de fetichismo da mercadoria e reificação do trabalhador.

Materialismo histórico e dialético:

Por materialismo compreende-se a ausência completa de qualquer elemento na vida social que possua natureza incorpórea. Em seus estudos Marx considerou que o materialismo histórico possui algumas premissas, tais como a ausência de autonomia da vida social; a realidade concreta como ponto de partida para análise da vida social; importância do trabalho enquanto processo de transformação da natureza e elemento que põe os atores sociais em relações constantes; importância da natureza para a vida humana, tratando-se de uma relação onde há equivalência. Nesse sentido o materialismo histórico encontra-se definido pelo autor como a forma através da qual os homens de organizam, desde a antiguidade para a produção da vida social, que possui uma base material, sendo, portanto, a vida material responsável pela formação da consciência humana.

Marx identifica nas relações sociais um estado de permanente transformação, um movimento dialético. Ele considera o método dialético como um procedimento científico por ser capaz de explicar as contradições de uma fase de produção material de uma determinada sociedade. Trata-se de um movimento composto por três etapas: tese, antítese e síntese. Sendo a terceira a superação da primeira e da segunda. Movimento este que corresponde à realidade em seus antagonismos, uma vez que nada é estático na vida social.

A compreensão da ideia de totalidade da vida social é muito importante porque em sua perspectiva teórica, Marx considera que as relações entre os homens são determinadas pelas condições materiais. Nesse sentido não existe na estrutura social nenhum elemento isolado, todas as vertentes da vida social se encontram interligadas e em constante movimento, trata-se da infraestrutura e superestrutura de uma determinada sociedade. Localiza-se na infraestrutura a produção econômica da sociedade, que determina a superestrutura social, onde se encontram a estrutura jurídico-política e a estrutura ideológica.

Relações de produção na sociedade moderna:

São as relações de produção que refletem a forma como as pessoas de uma determinada sociedade se organizam para construir os bens que serão utilizados. Tais relações correspondem a uma determinada fase das forças produtivas. Essas, por sua vez, são formadas pelo homem, matéria-prima, ferramentas e técnica. O ser humano é o elemento mais importante das forças produtivas, porque estabelece, por meio do trabalho, a conexão entre os demais elementos. Compreender como são construídas as relações de produção de uma determinada sociedade é muito importante porque torna clara a percepção do funcionamento da totalidade da vida social. As relações de produção são as relações mais importantes da vida social porque determinam as demais relações estabelecidas entre as pessoas, em todas as instituições sociais. Ou seja, a infraestrutura determina a superestrutura (relações de parentesco, leis, religião, ideologias políticas).

Marx denominou modo de produção as relações de produção e as forças produtivas. Estudou diversos modos de produção a fim de compreender relações sociais específicas e identificou que um modo de produção é substituído por outro quando ocorre o desgaste das lutas de classes. Isso significa que as contradições do modo de produção, devido à forma como se dá a apropriação dos produtos gerados, chegaram ao limite, havendo assim a necessidade de construir um novo modo de produção.


Nas relações de produção da sociedade capitalista os produtos são gerados a partir de uma relação de conflito, antagonismo, interdependência e exploração. O operário (proletário) vende a sua força de trabalho em troca de um salário para o proprietário dos meios de produção (burguês). Esse transforma o produto em mercadoria a fim de gerar a mais-valia, que pode ser absoluta ou relativa, que corresponde às horas que o operário produz, mas não recebe.

A mais-valia pode ser absoluta ou relativa. A mais-valia absoluta é extraída a partir do aumento do tempo de trabalho sem aumento no salário. Quando a extração da mais-valia absoluta chega ao limite é possível a extração da mais-valia relativa, através das inovações tecnológicas. Imagine que o operário se recuse a produzir a mais-valia para o burguês, que não venda sua força de trabalho em troca de um salário, ou que deseje cobrar mais caro pela sua mão-de-obra. O que acontece?

O capitalismo faz a manutenção de um exército industrial de reserva através da manutenção do desemprego. Se um funcionário se encontra insatisfeito com as condições de trabalho em que produz, é livre para ficar desempregado e sem dinheiro para suprir suas necessidades básicas, como alimentação e habitação, por exemplo.

Segundo Marx a revolução inglesa, assim como a revolução francesa e a norte-americana possuíam um traço em comum, serviram para consolidar o processo de emancipação da burguesia enquanto classe social em ascensão.

Para o autor a revolução seria o ápice do desgaste do modo de produção capitalista, que culminaria no comunismo. Seria a classe operária responsável por colocar um fim definitivo em todas as possíveis lutas de classes, existentes desde a antiguidade. Assim que chegasse ao poder o proletariado promoveria profundas transformações sociais e morais, construindo uma nova sociedade, em todos os sentidos. Após a revolução caberia ao proletariado a formação de um Estado provisório, que poria fim à propriedade privada dos meios de produção. Esse novo Estado foi denominado for Marx como 
Ditadura do Proletariado, a fim de evitar um movimento contrarrevolucionário da burguesia. Após esse período seria alcançada a sociedade comunista, onde não haveria a necessidade de um Estado nem a divisão da sociedade em classes sociais.

Marx chamou atenção para a existência de um grupo de pessoas que formava o que denominou lumpemproletariado. Eram pessoas que em tempos de crise formavam um grupo tão desorganizado que tendia a apoiar ideologias contrárias aos interesses do proletariado, favorecendo a classe dominante em suas ações reacionárias.

Desdobramentos da construção teórica de Karl Marx

a. As associações internacionais dos trabalhadores.

Em 1864 foi criada a primeira Associação Internacional dos Trabalhadores, que findou em 1876. Marx era responsável por quase todos os documentos produzidos. Após um conflito com Bakunin, teórico anarquista, Marx e Engels encontraram problemas por causa dos seus seguidores, então decidiram aumentar os poderes do conselho geral. Essa medida fortaleceu Bakunin, que foi expulso do movimento. Marx e Engels sugeriram a mudança da sede do conselho geral para Nova York, o que colocaria fim ao movimento em 1876.

A segunda internacional foi construída em 1889, embora fosse majoritariamente livre de partidos e sindicatos, a ideologia predominante era a marxista. Os anarquistas foram expulsos em 1896. Após o falecimento de Engels destacaram-se Kautsky e Plekhanov. Com a iminência da primeira guerra mundial houve uma crise no interior da organização. O apoio dos principais partidos à guerra deflagrou o fim do movimento, por se tratar de um conflito imperialista, que carecia do estímulo ao nacionalismo. Foi exatamente em 1914 que a associação chegou ao fim.
A terceira internacional teve início em 1919, pelos bolcheviques, após a vitória da revolução russa. Sua dissolução ocorreu em 1943, sob a ditadura de Stálin, após a partilha com seus “aliados”.
A quarta internacional foi fundada por Trotsky em 1938, em oposição à segunda e à terceira internacionais. Ainda existe e possui como premissa a teoria da revolução permanente, defendida por seu fundador.

b. A social-democracia alemã e o Estado de bem-estar social: Edward Bernstein.

Foi membro do partido Social Democrata dos Trabalhadores Alemães, construiu uma teoria de revisão das análises marxistas onde se opôs à revolução pela força, assim como à ditadura do proletariado. Segundo ele os trabalhadores deveriam alcançar o poder político por meio da democracia. A socialdemocracia deveria se organizar no sentido de se tornar um partido socialista, democrático e que promovesse reformas. Suas ideias se tornaram conhecidas como revisionistas.

Contexto histórico de construção da proposta teórica de Bernstein:

No final do século XIX, o liberalismo e o comunismo entraram em crise. O pensamento conservador (teoria das elites) ressurgiu com Vilfredo Pareto, Robert Michels e Gaetano Mosca. Nesse cenário político, o partido comunista mais influente da Europa era o SPD alemão -partido social-democrata.
No SPD alemão, houve um conflito entre Edward Bernstein e Rosa Luxemburgo, em virtude da questão dos créditos de guerra. Rosa Luxemburgo se posicionou contra os créditos de guerra em virtude do internacionalismo da teoria de Karl Marx (materialismo dialético). Ela foi assassinada e Bernstein convenceu os operários a votarem a favor dos créditos de guerra e lutarem pela Alemanha, ou seja, em posicionamento nacionalista.

Bernstein desenvolveu uma releitura da teoria política de Marx, que ficou conhecida como revisionismo. Trata-se de alcançar a máxima igualdade pela democracia burguesa (liberal).

c. Liga Spartacus: Rosa Luxemburg e Karl Liebknech.

Movimento fundado por Rosa Luxemburg e Karl Liebkneck em 1915, cujo nome foi inspirado no nome do líder da maior rebelião de escravos na Roma antiga, Spartacus. Sua maior atividade foi no período em que houve a tentativa de uma revolução comunista na Alemanha. As ações repressoras do poder oficial da Alemanha reprimiram o movimento revolucionário a ambos foram assassinados.

d. Escola de Frankfurt:

A Escola de Frankfurt teve origem na Alemanha, nas décadas de 1920 e 1930. Sua principal premissa foi o desenvolvimento de uma teoria crítica, considerada uma ramificação radical do marxismo. Entre seus principais autores destacaram-se Max Horkheimer, Theodor Adorno e Walter Benjamin. A indústria cultural foi objeto de estudo dos três autores, ou seja, a forma com o capitalismo reproduzia os bens culturais. Horkheimer e Adorno perceberam a indústria cultural como instrumento de alienação que tendia a favorecer o desenvolvimento da sociedade de consumo, ao passo de Benjamin percebeu a contribuição benéfica da indústria cultural. Segundo ele as novas técnicas de reprodução ampliariam as possibilidades de acesso às produções artísticas.


Comparação entre os clássicos da Sociologia: publicados em março de 2013.

SOCIOLOGIA BRASILEIRA

As ideias de Karl Marx chegaram ao Brasil e foram analisadas por diversos intelectuais. Um importante intelectual que pensou a sociedade brasileira considerando a proposta teórica de Karl Marx foi o historiador Caio Prado Junior. Sua primeira publicação foi realizada em 1933, denominada Evolução Política do Brasil. Essa obra foi muito importante porque representa o período em que o autor começou um diálogo com o Partido Comunista do Brasil.

Havia uma discussão na época em que Caio Prado Junior construía suas produções teóricas sobre a possibilidade de o Brasil se encontrar numa etapa semifeudal. Foi nesse período que o PCB, em seu V congresso, considerou que seria necessária a existência de uma revolução burguesa e democrática. 

Caio Prado não concordou com essa análise do partido porque considerou que as relações produtivas na sociedade brasileira possuíam natureza capitalista. Para ele seria possível mobilizar os trabalhadores através das lutas por melhores condições de trabalho. Esse processo se constituiria na luta de classes de fato.

Outra discussão importante na época da produção do autor foi referente ao caminho adotado para a construção do socialismo. Seria pela via da reforma ou da revolução? Esse debate pode ser compreendido pela história do Partido Social Democrata Alemão. Entre todos os partidos membros da II internacional, o Partido Social Democrata Alemão possuía maior prestígio. Eduard Bernstein era membro do partido e elaborou uma análise sobre a construção teórica de Karl Marx. Em sua revisão se posicionou contrário à revolução pela força, também se opôs à ditadura do proletariado. Bernstein acreditava na democracia e insistia que o partido deveria ser socialista e realizar reformas. Mas no partido existia também uma ilustre pensadora, Rosa Luxemburg, que junto com Karl Liebknech, fundou a Liga Spartacus. Esse nome possui como motivação uma grande rebelião de escravos que aconteceu em Roma. Ambos acreditavam que não deveria haver nenhum tipo de acordo político entre o partido e o governo alemão no tocante à participação dos membros do partido na primeira guerra mundial, por se tratar de um conflito imperialista e, desse modo, não convergir com os interesses do proletariado. O partido, por sua vez, votou a favor dos créditos de guerra e esse foi o motivo do fim da II internacional.

Caio Prado Junior construiu sua produção teórica de acordo com a sua interpretação da realidade brasileira. Acreditava na possibilidade de ascensão do proletariado ao poder, mas considerava que a trajetória deveria ser construída a partir dos elementos empíricos evidentes. Isso significa que a luta armada seria possível, assim como um processo de transição pacífico, desde que a realidade sustentasse o procedimento escolhido.

O autor considerava também que o sistema colonial no Brasil representava um problema porque representava um obstáculo ao desenvolvimento de um Estado Nacional. A existência de um Estado Nacional seria indispensável para assegurar o processo de organização de um capitalismo gestor de conveniências nacionais, principalmente através do estabelecimento de um mercado interno e de uma produção industrial.

Compreender como as ideias de Marx foram discutidas na sociedade brasileira é muito interessante, mas entender como foi organizado o pensamento conservador é indispensável para uma análise eficiente do cenário político brasileiro.

A construção teórica dos autores conservadores é muito interessante para compreender os desdobramentos da construção teórica de Karl Marx na sociedade brasileira. Vilfredo Pareto, ilustríssimo intelectual, acreditava que os conflitos que existem nas sociedades não ocorrem entre classes, mas entre massa e elite, e somente em períodos revolucionários, até o momento em que os revolucionários são eliminados ou absorvidos pelas elites no exercício de poder. Em momentos de estabilidade política a massa é conduzida pela elite. O processo de ascensão social acontece quando os membros privilegiados da massa conseguem fazer parte da elite. Mas isso não significa que a massa se torna elite, somente alguns membros passam por esse processo. Trata-se da teoria de circulação de elites. A elite é constituída por pessoas talentosas em sua área de formação. Faz parte da elite quem possui status social. A elite mais importante é a elite política, formada nas universidades, são as pessoas responsáveis pela administração da máquina política. São indivíduos cujas ações possuem legitimidade e constroem relações que favorecem suas ações.

Em relação à construção teórica de Karl Marx, Pareto admite que ainda que a propriedade privada seja destruída, a paz entre os homens não pode ser alcançada. Isso acontece porque todas as revoluções levarão a substituição da minoria privilegiada e governante. A história das sociedades humanas é a história da substituição de elites que exercerão poder. Ao realizar análises sobre as origens das quedas das elites em exercício de poder político, percebe que a utilização da força é sempre necessária em alguma proporção. As ações humanas possuem predominantemente motivações irracionais, quem age de modo racional ascende à elite. Desse modo a desigualdade faz parte da natureza humana, uma vez que somente algumas pessoas possuem as habilidades necessárias para fazer parte da elite.

Um comentário:

  1. Obrigado pela partilha muitos temas e autores interessantes para estudar e aprender ligados à sociologia da vida ou pravida :)

    Carlos
    mestre mas pouco em sociologia

    ResponderExcluir